Cabeça d´água foi observada pouco antes do desabamento da rocha sobre embarcações no município mineiro de Capitólio | CORPO DE BOMBEIRO DE MINAS GERAIS/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O desastre ocorrido no lago de Furnas, em Capitólio, no Sul de Minas Gerais, é mais um alerta sobre os riscos de turismo em áreas de risco de inundações e deslizamentos durante a temporada de chuva do verão em que volumes localmente excessivos de precipitação em um curto período podem gerar inundações repentinas e queda de encostas sem qualquer aviso.

Tragédias se repetem verão após verão quando turistas são surpreendidos por um repentino volume de água com inundação relâmpago, o mais comum, ou deslizamento. Na esmagadora maioria dos episódios, o que ocorre é o que se denomina de cabeça d´água. No caso do episódio de Capitólio, a Defesa Civil de Minas Gerais tinha advertido duas horas antes para o risco de cabeça d´água na região da tragédia, aviso que jamais chegou até às vítimas, mas poderia ser acompanhado pela Marinha do Brasil.

No ano passado, nesta mesma época do ano, Capitólio já tinha testemunhado uma tragédia com vítimas quando uma cabeça d’água atingiu o complexo de cachoeiras na região conhecida como Cascatinha, que deságua no Lago de Furnas, um dos principais pontos turísticos da região, no município de São João Batista do Glória. A água arrastou pessoas e deixou turistas ilhados sobre pedras.

No mês passado, tragédia por enxurrada provocada por uma cabeça d’água ocorreu no Rio do Braço em Lavrinhas (SP). Quatro mulheres morreram e outras 16 pessoas foram resgatadas após o nível do rio subir repentinamente. A cabeça d’água aconteceu entre as cachoeiras do Poço Azul e da Pedreira, local bastante frequentado por turistas, após forte chuva concentrada atingir a cabeceira do rio.

Dias atrás, no Mato Grosso, turistas ficaram ilhados ao serem surpreendidos por uma cabeça d’água” durante trilha no Parque Estadual da Serra Ricardo França, em Vila Bela da Santíssima Trindade (520 quilômetros de Cuiabá). O grupo estaria realizando a trilha, próximo a uma região de cachoeiras, quando teria sido avisado pelo guia turístico do fenômeno. Os turistas então se organizaram para tirar as crianças da água e todos conseguiram sair ilesos.

No Rio Grande do Sul, há vários episódios de súbita elevação do nível das águas em trilhas nas áreas baixas dos cânions do Parque Nacional dos Aparados da Serra, na região entre Cambará do Sul (RS) e Praia Grande (SC). O mais grave episódio, entretanto, ocorreu entre Sapiranga e Dois Irmãos em fevereiro de 2011.

Um casal foi arrastado por uma inundação repentina que decorreu de uma cabeça d´água que atingiu o Sítio da Família Lima. No evento, que causou muita destruição em Santa Maria do Herval, mal chovia na área atingida e em Picada Café nem estava chovendo. Apesar disso, em segundos a água subiu com enorme violência no sítio. Se na área da tragédia mal chovia, perto dali, na região de Serra Grande, na divisa com Gramado, choveu quase 200 mm em curto intervalo, o que gerou a cabeça d´água.

No caso de Capitólio, a região vinha sofrendo com muita chuva desde dezembro. Nos 30 dias que precederam o desastre, estações meteorológicas em municípios no entorno do lago de Furnas registraram volumes entre 200 mm e 400 mm. Nas horas que antecederam a tragédia, choveu muito forte em pontos da região, o que levou à ocorrência de uma cabeça d´água nos cânions de Capitólio instantes antes da queda da rocha.

O que é uma cabeça d´água? Trata-se de uma súbita e muito rápida elevação de um curso de água, como rio ou riacho, como se fosse uma grande onda, gerada por chuva intensa e localizada. Ocorre, via de regra, por volume excepcionalmente alto de chuva em curto período na parte alta ou cabeceira de um curso d´água e avança com grande rapidez com correnteza forte acentuada pela calha do manancial. Não deve ser confundida com tromba d´água que é o nome dado aos tornados que ocorrem sobre água doce (rios ou lagos) e salgada (oceano), termo que frequentemente é usado para designar popularmente uma chuva intensa.