Uma pessoa morreu e mais de 5 mil foram parar em hospitais no Iraque nas últimas horas como consequência de problemas respiratórios causados por uma enorme tempestade de areia que atingiu a capital Bagdá e várias outras cidades iraquianas. Foi a sétima tempestade desta natureza que castigou o país em um mês, anunciou o Ministério da Saúde.
Os habitantes de sete províncias iraquianas, entre elas a capital Bagdá e a região semidesértica de Al-Anbar, no Oeste, se viram cobertos por uma espessa nuvem alaranjada, com a areia invadindo as casas. A cidade sagrada de Najaf também foi coberta pela nuvem de poeira alaranjada.
Autoridades nas províncias de Al-Anbar e Kirkuk, ao Norte da capital, pediram às pessoas que “não deixem suas casas”, disse a agência de notícias oficial INA. Os hospitais receberam centenas de pacientes em poucas horas com dificuldades respiratórias, disse Anas Qais, uma autoridade de saúde citada pelo INA.
Poeira e tempestades de areia sempre ocorreram no Oriente Médio, mas tornaram-se mais frequentes e intensas nos últimos anos, uma tendência que tem sido associada ao uso excessivo da água dos rios, mais barragens, uso descontrolado da terra e desmatamento.
As partículas finas de poeira podem causar problemas de saúde, como asma e doenças cardiovasculares, e também espalhar bactérias e vírus, além de pesticidas e outras toxinas. As crianças e os idosos são os que mais sofrem com a quantidade excessiva de material particulado na atmosfera.
“Uma morte foi registrada em Bagdá” e os hospitais “receberam nada menos que 5.000 casos até agora”, disse o porta-voz do Ministério da Saúde, Seif al-Badr, em comunicado. Os mais atingidos são as pessoas que sofrem de “doenças respiratórias crônicas, como a asma”, e os idosos que sofrem principalmente de doenças cardíacas, disse ele. Badr acrescentou que a maioria já recebeu alta e a maioria dos casos era de “média ou baixa intensidade”.
Os hospitais da província de Al-Anbar receberam mais de 700 pacientes com dificuldades respiratórias, disse Anas Qais, uma autoridade de saúde citada pelo INA. A província central de Salaheddin registrou mais de 300 casos, enquanto Diwaniya e a província de Najaf, ao sul de Bagdá, registraram cerca de 100 casos cada, acrescentou a agência de notícias.
Um porta-voz do Ministério da Saúde disse que 2.000 casos de pessoas com dificuldade para respirar foram relatados somente na província de Bagdá, segundo a agência oficial de notícias iraquiana. No começo da semana, outra tempestade havia deixado dezenas de pessoas com dificuldades respiratórias e voos suspensos em aeroportos que atendem Bagdá e a cidade sagrada xiita de Najaf.
As tempestades de poeira aumentaram dramaticamente em frequência no Iraque nos últimos anos, impulsionadas pela degradação do solo e secas intensas agravadas pelas mudanças climáticas, com temperaturas médias crescentes e chuvas nitidamente mais baixas. Os verões de Iraque estão ficando cada vez mais quentes, atingindo temperaturas recordes de pelo menos 52ºC nos últimos dois anos. O setor agrícola do país, que depende em grande parte dos rios Eufrates e Tigre, também sofreu com a seca e o aumento do calor. A temporada de chuvas 2020-2021 do Iraque foi a segunda mais seca em 40 anos, segundo as Nações Unidas.
Tempestades de areia também causam danos econômicos, reduzindo a visibilidade, às vezes para quase zero, fechando aeroportos e rodovias e causando danos a edifícios, vegetação e painéis solares. O transporte aéreo foi severamente afetado nas últimas semanas no Iraque pela sucessão de tempestades.
Espera-se que as tempestades se tornem mais intensas com o agravamento das mudanças climáticas, porque as temperaturas mais altas e as chuvas mais irregulares secam a terra mais rapidamente e aceleram a desertificação.
O Iraque rico em petróleo, apesar de seus poderosos rios Tigre e Eufrates, é classificado como um dos cinco países do mundo mais vulneráveis às mudanças climáticas e à desertificação. Os cientistas dizem que as mudanças climáticas amplificam as secas e que sua intensidade e frequência, por sua vez, ameaçam a segurança alimentar.
Especialistas afirmaram que esses fatores ameaçam trazer um desastre social e econômico no país marcado pela guerra. Em novembro, o Banco Mundial alertou que o Iraque – um país de 41 milhões de pessoas – poderia sofrer uma queda de 20% nos recursos hídricos até 2050 devido às mudanças climáticas. As Nações Unidas dizem que cerca de um terço da população do Iraque agora vive na pobreza.
Os efeitos da baixa precipitação foram exacerbados à medida que os níveis do Tigre e do Eufrates caem devido às barragens a montante nos vizinhos Irã e Turquia. O Ministério do Meio Ambiente disse que o fenômeno climático pode ser resolvido “aumentando a cobertura vegetal e criando florestas que atuam como quebra-ventos”.