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A semana que começa será uma das de tempo mais extremo em meses no Brasil, embora os muitos episódios já registrados neste ano no país como as inundações na Bahia, Minas Gerais, São Paulo e os dois desastres causados por chuva no Rio de Janeiro. Desta vez, haverá sucessão de eventos e de forma simultânea, afetando diversas regiões e uma extensa área do território nacional.

Serão dois grandes eventos meteorológicos atuando conjuntamente e interligados. Uma massa de ar frio de forte intensidade e um poderoso ciclone na costa do Sul do Brasil. O ciclone é que vai impulsionar o ar mais gelado pelo interior do continente, trazendo temperatura muito abaixo do normal em vários estados com frio atípico para maio no Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil enquanto no Sul o frio, embora intenso, não pode ser considerado histórico pelas referências de outros episódios de frio na histórica recente da região nesta época do ano.

O ciclone, por sua vez, vai fugir muito ao que se costuma observar na região Sul pela sua trajetória, do mar para o continente, e pela sua intensidade, com um centro de baixa pressão muito mais profundo que o habitual atuando na costa da Região Sul. O Rio Grande do Sul vai ser o estado mais afetado com rajadas intensas e mesmo extremamente fortes em algumas áreas.


A interação da circulação ciclônica com o ar muito frio pode trazer precipitação invernal (neve ou chuva congelada) nos três estados do Sul, especialmente em cidades com cotas de altitude acima de mil metros e em pontos elevados na divisa de Santa Catarina com o Paraná. Haverá vento forte que vai trazer sensação térmica muito baixa que pode atingir marcas de até 10ºC negativos entre o Planalto Sul Catarinense e os Aparados da Serra nas rajadas mais fortes.

Poderoso ciclone

Um ciclone muito intenso e atípico que pode adquirir características subtropicais (leia mais) vai atingir o Sul do Brasil entre terça e quarta-feira. O sistema de trajetória incomum vai avançar do mar em direção ao continente como uma baixa retrógrada e deve margear o litoral gaúcho e após avançar para a costa catarinense, quando passará a se movimentar no sentido Leste.

Os modelos numéricos de previsão indicam uma baixa por demais profunda na costa gaúcha. Tanto o modelo norte-americano como o europeu, em suas saídas deste domingo, projetam o centro do ciclone com pressão de 985 hPa na costa gaúcha. O norte-americano GFS sinaliza o sistema rente à costa enquanto o europeu desloca a tempestade subtropical muito perto do litoral, mas não sobre a costa. Trata-se do pior cenário para vento intenso.

Modelo norte-americano GFS projeta ciclone muito intenso com pressão atmosférica central equivalente a de um furacão categoria 1 margando o litoral do Rio Grande do Sul de Sul a Norte

O Sul e o Leste do Rio Grande do Sul serão as regiões mais castigadas pelo ciclone com vento, em média, de 80 km/h a 100 km/h, mas com rajadas em alguns pontos que podem atingir até 110 km/h a 120 km/h, especialmente no Litoral Sul e na área da Lagoa dos Patos e seu entorno. O Litoral Norte gaúcho também deve sofrer com vento perto ou acima de 100 km/h, sobretudo mais ao Sul da região entre Quintão e Tramandaí.

Entre as cidades que mais podem ser impactadas pelo vento muito intenso que vai soprar com rajadas por muitas horas seguidas estão as das regiões do Chuí, Pelotas, Rio Grande, Camaquã, Mostardas, Porto Alegre e Sul da área metropolitana (Vale do Sinos é menos impactado em ciclones), Leste da Serra e o Litoral Norte. É alta a probabilidade de danos e de alto impacto no serviço de energia elétrica com a esmagadora maioria dos pontos sem luz na área de concessão da CEEE Equatorial, onde, considerado a intensidade do vento projetada, centenas de milhares de pessoas podem ficar sem luz no pico da quarta-feira.

O vento aumenta muito ao longo da terça no Sul do Estado gaúcho e entre a noite da terça e a manhã de quarta se espera o pior do vento no Sul e no Leste do Rio Grande do Sul, inclusive em Porto Alegre. Na sequência, o Sul e o Leste catarinense devem ter rajadas fortes a intensas, de 80 km/h a 100 km/h e localmente superiores, especialmente o Sul de Santa Catarina.

Pode ventar forte ainda depois nos litorais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Há alto risco de elevação da maré (maré de tempestade) e de ressaca de grandes proporções na costa com danos e ondas na costa de cinco metros ou mais nos litorais gaúcho e catarinense. A ressaca em algumas praias pode ser muito intensa ou violenta. As condições oceânicas na costa do Sul do Brasil e na Lagoa dos Patos serão extremamente perigosas, equivalentes a de um furacão em alto mar, com altíssimo risco para a navegação e possibilidade de naufrágio de embarcações. O mar vai ficar muito agitado com risco de grande ressaca também no litoral do Sudeste do Brasil na segunda metade da semana.

Precipitação invernal

A interação da circulação de umidade com áreas de baixa pressão, particularmente do ciclone muito intenso que se prevê atuará no Sul do Brasil entre terça e quarta-feira, trará chance de precipitação invernal para as áreas de maior altitude do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os dias com probabilidade de precipitação de neve e/ou chuva congelada são a terça e a quarta.

A maior probabilidade é para o Planalto Sul Catarinense, na região de São Joaquim, mas várias projeções indicam a possibilidade dos fenômenos em áreas do Planalto de Palmas, no Sul do Paraná, e próximas no Norte de Santa Catarina. Mesmo no Meio-Oeste catarinense não se pode afastar precipitação invernal. No Rio Grande do Sul, a chance se concentra nos Campos de Cima da Serra, especialmente em cidades com cotas perto ou acima de 1000 metros, como Cambará do Sul e São José dos Ausentes.

Projeção de neve acumulada do modelo canadense | METSUL

Nenhum modelo indica precipitação de neve expressiva com grandes acumulações nestas áreas, mas, em especial no Planalto Sul de Santa Catarina, existe a possibilidade de pancadas de neve. Isso porque com a circulação ciclônica se formam nuvens de desenvolvimento vertical que não raro neste tipo de situação pode causar pancadas isoladas de neve forte de curta duração capazes de gerar acumulação em poucos minutos.

Muito frio no Sul do Brasil

Uma forte massa de ar frio ingressa neste começo de semana no Sul do Brasil e terá a sua maior intensidade entre terça e quarta. As mínimas não devem ser muito baixas devido às nuvens da circulação ciclônica, mas as máximas serão baixas com tardes muito frias principalmente na terça e na quarta. Alguns pontos das regiões serranas podem ficar 48h a 72h seguidas com marcas abaixo de 10ºC.

Projeção de temperatura do modelo WRF para a tarde de terça-feira | METSUL

As menores mínimas devem ocorrer na sexta e no próximo fim de semana, quando a circulação de umidade de áreas de baixa pressão cessar e o tempo ficar mais aberto e com ar seco. Será quando o frio deve ser mais intenso no Sul do Brasil com marcas de até 5ºC ou menos na Grande Porto Alegre e de até 3ºC ou 4ºC nos Aparados da Serra ou 5ºC negativos ou menos no Planalto Sul Catarinense. Por isso, embora possa gear nesta segunda (mais no Oeste e no Sul gaúcho) e na terça (Paraná) em pontos do Sul do país, geada mais ampla é esperada no próximo fim de semana.

Frio incomum para maior no Centro do Brasil

Se o frio não será histórico no Sul, no Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil a temperatura deve cair a valores extremamente baixos e incomuns para esta época do ano. O ciclone na costa do Sul fará com que o ar gelado avance pelo interior do continente com atmosfera mais seca e ingresse no Centro-Oeste e depois no Sudeste do Brasil, proporcionando madrugadas de frio atípico para maio nestas regiões.

Projeção de temperatura do modelo meteorológico alemão Icon para 6h da manhã de quinta-feira | METSUL

O frio atingirá com força atípica para esta época do ano São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, mas deve ser incomum em intensidade para maio principalmente em Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais. Vai gear em grande número de cidades destes estados com marcas abaixo dos 5ºC. Pode gear mesmo em locais onde o fenômeno é menos comum, até em massas de ar frio intensas de inverno, como o Centro-Sul do Mato Grosso, o Centro de Goiás e áreas do Distrito Federal, e do Sul ao Norte de Minas Gerais, inclusive a Grande BH.

Projeção de geada do modelo canadense para o amanhecer da sexta-feira | METSUL

As mínimas devem ser muito baixas nas capitais do Centro do Brasil. A cidade de São Paulo terá mínimas de 7ºC a 9ºC quarta, quinta, sexta e sábado no Mirante de Santana, mas em bairros do Sul da capital paulista fará 5ºC ou menos com geada isolada e fraca. No interior de São Paulo, muitas cidades terão entre 2ºC e 5ºC na segunda metade da semana com marcas localmente inferiores, o que vai trazer geada em grande número de localidades paulistas e moderada a forte em alguns pontos.

Máximas muito baixas para os padrões locais e com forte vento no Rio de Janeiro na segunda metade da semana, com as menores mínimas de 12ºC a 14ºC no próximo fim de semana. Belo Horizonte deve ter entre 5ºC e 7ºC na quinta e na sexta e ao redor de 9ºC no sábado, mas na Grande BH haverá marcas menores de 3ºC a 5ºC com geada.

Campo Grande deve ter entre 7ºC e 9ºC nas madrugadas de quarta a sexta. Cuiabá pode registrar 10ºC na quinta. Goiânia pode descer a 7ºC ou 8ºC quinta e sexta com 9ºC no sábado. Brasília pode anotar 7ºC a 9ºC quinta e sexta, mas com marcas de até 4ºC ou 5ºC em pontos do Distrito Federal.

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