Imagem de satélite da madrugada de 3 de maio de 2008 com ciclone subtropical sobre o Rio Grande do Sul | NOAA

Sempre que se fala em um ciclone intenso as primeiras lembranças trazidas na memória são o furacão Catarina de março de 2004 e o ciclone bomba de 30 de junho de junho e 1º de julho de 2020. Alguns lembram o vendaval que assolou Porto Alegre em janeiro de 2016, embora não tenha sido resultado de um ciclone e sim de uma tempestade severa de verão.

Há, contudo, um ciclone de natureza subtropical que atingiu o Rio Grande do Sul nesta mesma época do ano e que causou muitos estragos por vento destrutivo e chuva. Os efeitos se deram ainda no Sul de Santa Catarina com inundações. Dezenas de municípios tiveram danos, alguns significativos, e houve grandes cheias de rios. Um desastre retratado nas páginas do Correio do Povo.

Há 14 anos, um ciclone com características idênticas ao que vai atingir o Rio Grande do Sul entre amanhã e quarta-feira causou uma morte e deixou muitos estragos no Estado. Um ciclone subtropical, sem nome porque à época não era batizado pela Marinha do Brasil, trouxe chuva extrema e vento destrutivo. As rajadas mais intensas ocorreram no Nordeste gaúcho, em áreas da Serra, dos vales, da Grande Porto Alegre e do Litoral Norte.

Diferentemente do ciclone desta semana que avançará de Sul para Norte junto ao Leste gaúcho, vindo do mar para o continente, o ciclone subtropical de maio de 2008 se originou a partir de um centro de baixa pressão que avançou do Nordeste da Argentina e cruzou pela Metade Norte gaúcha, intensificando-se muito no Nordeste do Estado.

O ciclone desta semana não deve trazer chuva em valores extremos generalizados, embora o risco de precipitações fortes a torrenciais por vezes entre terça e quarta no Leste gaúcho. Já em 2008, os acumulados de chuva foram excepcionalmente altos. Bairros da zona Sul de Porto Alegre tiveram mais de 200m mm no maior volume em 48 horas observado até hoje na cidade. Arroios transbordaram e houve alagamentos por toda a cidade, mais graves no Sul da Capital, onde pessoas foram resgatadas com auxílio de botes.

Os acumulados em 24 horas até 9h da manhã do sábado (3/5/2008) foram na rede do então Sistema Metroclima, operado pela Prefeitura de Porto Alegre com a MetSul, os mais altos já observados em um dia na capital gaúcha. Choveu em 24 horas 237,5 mm na Lomba do Pinheiro, 199,3 mm Restinga, 165,0 mm na Tristeza, 148,8 mm na Glória, 146,6 mm no Jardim Botânico (Inmet), 124,9 mm no são Geraldo, 116,0 mm na Praça da Alfândega, e 92m,9 mm no Sarandi.

Choveu muito ainda nas nascentes dos rios que cortam os vales e o Rio do Sinos enfrentou uma grande enchente. Com os volumes extremos de chuva, a Rota do Sol foi interditada por danos na pista. A BR-101 sofreu bloqueio total entre o Litoral Norte gaúcho e o Sul de Santa Catarina pelo acúmulo de água perto de meio metro em alguns pontos e estragos ocorridos na rodovia.

O vento foi extremo na passagem do ciclone subtropical na noite de 2 para 3 de maio de 2008. As rajadas em Porto Alegre e no Litoral Norte ficaram entre 100 km/h e 120 km/h. Estação do Instituto Nacional de Meteorologia em Tramandaí anotou rajadas de 118 km/h.

Em Porto Alegre, a noite e madrugada foram assustadoras com as sucessivas rajadas de vento violentas. Com as rajadas, os clarões verdes da rede elétrica sendo afetada pelo vento iluminavam as nuvens baixas que cobria a capital como se fossem relâmpagos. Na manhã do sábado, árvores podiam ser vistas tombadas em ruas de tida a cidade.

Centenas de milhares de pessoas ficaram sem luz e houve desabastecimento de água. A luz levou dias para voltar em vários pontos pela destruição da rede elétrica. Centenas de árvores caíram em Porto Alegre e a Redenção foi duramente castigada com grande número de vegetais tombados no parque da capital. Na Serra, um homem morreu quando o veículo em que estava foi atingido pela queda de uma árvore em rodovia no município de Serafina Correa. Houve destelhamentos na Grande Porto Alegre, Serra e Litoral.