Um rio atmosférico reforça a chuva no Rio Grande do Sul neste fim de semana com previsão de elevados volumes de precipitação em muitas áreas do território gaúcho e até localmente muito altos a excessivos a ponto de algumas cidades terem previsão de volumes equivalentes a duas vezes a média histórica de chuva de maio em apenas três dias.

As imagens do satélite meteorológico GOES-16 do final da manhã mostrava o Rio Grande do Sul tomado por nuvens e em muitas áreas era observada nebulosidade de maior desenvolvimento, ou seja, a presença de nuvens mais carregadas capazes de gerar chuva localmente forte e até intensa com altos volumes em curtos intervalos.

A instabilidade é favorecida por uma área de menor pressão atmosférica e há o avanço de ar mais quente de Norte, contribuindo para a formação das nuvens mais carregadas e, assim, a intensificação da chuva no Rio Grande do Sul. Ocorrem pancadas por vezes localmente fortes a torrenciais, o que deverá persistir no fim de semana.

No fim de semana, ar ainda mais quente deverá chegar ao estado, o que permitirá aberturas de sol e nuvens com calor e muito abafamento sob alta umidade na Metade Norte enquanto a chuva se reforça em pontos do Oeste e do Sul gaúcho, em condição análoga a de uma frente quente.

São dois momentos de maior instabilidade no Rio Grande do Sul até o começo da semana. O primeiro entre hoje e amanhã à medida que ar mais quente avança e reforça a chuva enquanto o segundo deve se dar entre domingo e segunda-feira, quando uma frente fria vai se deslocar pelo território gaúcho.

A chuva neste período é favorecida pelo aporte de umidade vindo do Norte do país. Modelos mostram a presença hoje e no fim de semana de um rio atmosférico que canaliza umidade da Amazônia para o Rio Grande do Sul. Este verdadeiro corredor de umidade e vapor d´água na atmosfera deixa a Amazônia e avança pelo interior do continente rumo ao Sul até chegar ao território gaúcho.

Nos últimos meses, estes rios atmosféricos atuavam predominantemente até o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil, o que contribuiu para um verão chuvoso em muitas áreas do Brasil Central. Este é o primeiro rio atmosférico mais intenso deste outono a chegar ao Rio Grande do Sul, o que explica os volumes de chuva altos previstos.

O que são rios atmosféricos

Os rios atmosféricos são regiões longas e concentradas na atmosfera que transportam ar úmido dos trópicos para latitudes mais altas. O ar úmido, combinado com ventos de alta velocidade, produz chuva pesada e neve, conforme a região no mundo.

Esses eventos extremos de precipitação podem levar a inundações repentinas, deslizamentos de terra e danos catastróficos à vida e à propriedade. Embora os rios atmosféricos tenham muitas formas e tamanhos, aqueles que contêm as maiores quantidades de vapor de água podem criar chuvas e inundações extremas, muitas vezes parando sobre bacias hidrográficas vulneráveis a inundações.

Esses eventos podem interromper estradas, induzir deslizamentos de terra e causar danos catastróficos à vida e à propriedade. Um exemplo bem conhecido de um rio atmosférico é o “Pineapple Express”, um forte rio atmosférico capaz de trazer umidade dos trópicos próximos ao Havaí para a costa Oeste dos Estados Unidos.

Entretanto, nem todos os rios atmosféricos causam danos. A maioria deles é de sistemas fracos que geralmente fornecem chuva ou neve benéficas que são cruciais para o abastecimento de água. Os rios atmosféricos são uma característica fundamental no ciclo global da água e estão intimamente ligados ao abastecimento de água e aos riscos de inundação.

No Brasil, os rios atmosféricos que deixam a Amazônia rumo ao Centro e ao Sul do país são bastante comuns. No verão, a formação de episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) organiza estes canais de umidade conhecidos como rio atmosférico para o Centro-Oeste e o Sudeste.

Mudança na projeção de chuva

O Rio Grande do Sul tem hoje o seu quinto seguido com chuva e Porto Alegre o seu quarto. Desde o começo do mês choveu todos os dias no estado. As precipitações volumosas previstas para hoje e o fim de semana com o rio atmosférico vão se somar ao que já caiu de água e foi muita chuva em algumas regiões gaúchas.

Conforme dados de estações oficiais, os volumes de chuva desde segunda-feira até o final da manhã desta sexta-feira foram de 138 mm em Caçapava do Sul, 124 mm em Soledade, 117 mm em São Luiz Gonzaga, 89 mm em Canguçu e Ibirubá, 88 mm em Encruzilhada do Sul, 85 mm em Camaquã, 81 mm em Dom Pedrito, 79 mm em Serafina Corrêa, 74 mm em Tupanciretã, dentre os mais altos. Estação da Agência Nacional de Águas registrou 175 mm ao Sul de Ijuí. Porto Alegre soma mais de 55 mm no Sul da cidade desta terça.

E tem muita água ainda por cair. Com o ingresso de ar mais quente no Norte gaúcho, os dados reduziram os volumes de chuva previstos mais para o Norte do estado e aumentaram muito no Oeste e no Sul. Inicialmente, no começo e no meio da semana, os modelos projetavam os mais altos volumes para a Metade Norte. Veja o que o modelo meteorológico Icon, por exemplo, indicava de chuva na quarta-feira.

Agora, no segundo mapa abaixo, atente para a projeção de chuva do modelo alemão Icon da madrugada desta sexta-feira e constate como este modelo (e outros seguiram a mesma tendência) deslocou as precipitações mais expresivas da Metade Norte para setores do Oeste, Centro e o Sul do estado.

Projeção semelhante traz o modelo de alta resolução WRF da MetSul Meteorologia em sua últimada rodada que igual sinaliza os mais elevados volumes de precipitação para hoje e o fim de semana no Oeste, no Centro e no Sul do estado com marcas localmente excessivas.

Os volumes de chuva apenas de hoje e do fim de semana devem passar de 100 mm em vários municípios destas regiões, mas localmente podem ser anotados acumulados perto ou acima de 200 mm com algumas projeções indicando marcas bastante isoladas de até 250 mm. São acumulados equivalentes a uma a duas vezes a média de chuva de maio inteiro.

Alto risco de transtornos

Volumes tão altos de chuva como que se prevê inevitavelmente devem trazer transtornos para algumas cidades. Sob este cenário, é muito elevado o risco de alagamentos em áreas urbanas e rurais, além de inundações com possibilidade de transbordamento de arroios e córregos. A MetSul enfatiza ainda o risco de cheias de rios, mesmo que o estado venha de um processo de estiagem por vai chover muito.

A área mais populosa do estado, a de Porto Alegre e a região metropolitana, está na zona de  risco de chuva por vezes forte a intensa, especialmente entre a segunda metade desta sexta e o começo do sábado no primeiro momento e entre a tarde e a noite de domingo e o início da segunda em um segundo momento de maior instabilidade.

Os volumes podem ser altos a muito altos em setores da capital e região metropolitana, especialmente em municípios mais ao Sul da Grande Porto Alegre. Por isso, a zona Sul de Porto Alegre é a de maior risco de transtornos por chuva volumosa na cidade.

Como consultar os mapas

Todos os mapas neste boletim podem ser consultados pelo nosso assinante (assine aqui) na nossa seção de mapas. A plataforma oferece ainda mapas de chuva, geada, temperatura, risco de granizo, vento, umidade, pressão atmosférica, neve, umidade no solo e risco de incêndio e raios, dentre outras variáveis, com atualizações duas a quatro vezes ao dia, de acordo com cada simulação. Na seção de mapas, é possível consultar ainda o nosso modelo WRF de altíssima resolução da MetSul.