Rio atmosférico atua no Rio Grande do Sul e tem favorecido uma longa sequência de dias de instabilidade com chuva freqüente e temporais recorrentes. O efeito são volumes de precipitação muito acima do normal para a época do ano nos últimos dez dias. Alguns locais tiveram entre 200 mm e 300 mm no Estado apenas na última semana.

Umidade que vem da Amazônia, e antes é abastecida por ar úmido que vem de florestas tropicais da África, desce pelo interior do continente até o Rio Grande do Sul. O canal primário de umidade da América do Sul no verão tem sua posição normal no sentido da Amazônia para o Centro-Oeste e a Região Sudeste. Agora, porém, está com a orientação geográfica da Amazônia para o Centro-Oeste e o Sul do Brasil.

Estados do Sul do Brasil, em particular o Rio Grande do Sul, estão recebendo aporte de umidade tropical enorme nestes dias. Com isso, há chuva com grande frequência.

Soma-se ainda a atmosfera aquecida com uma massa de ar quente instalada na região. Com ar quente e abundante forma-se a combinação perfeita não apenas para chuva, mas também a formação freqüente de temporais.

Este caminho da umidade é mais comum no inverno, quando o Brasil Central passa pela sua temporada seca e a umidade é direcionada pelo interior do continente para o Centro da Argentina, o Uruguai e o Sul do Brasil, reforçando as frentes frias.

Faz muitos dias, entretanto, que se observa junto ao Nordeste do Brasil o que se chamada de Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN). Isso está inibindo a chuva em muitas áreas do Nordeste brasileiro e grande parte da Região Sudeste, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Como a umidade não está indo para o Sudeste, ela vai parar em outro lugar e este lugar é o Sul do Brasil.

Rio atmosférico

O termo rio atmosférico (atmospheric river) foi originalmente citado pelos pesquisadores Reginald Newell e Yong Zhu do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, ainda no início da década de 1990, com o objetivo de definir canais de umidade na atmosfera.

Rios atmosféricos têm normalmente vários milhares de quilômetros de comprimento e apenas algumas centenas de quilômetros de largura. Um único rio voador pode transportar  fluxo de água superior ao maior rio do planeta, o Rio Amazonas.

Neste exato momento, um rio voador favorece chuva abundante no Sul do Brasil, no Centro e Nordeste da Argentina, no Paraguai e no Uruguai. E um segundo rio atmosférico atua no Pacífico Norte, trazendo enormes acumulados de chuva e neve para o estado da Califórnia, nos Estados Unidos.

Da Amazônia ao Rio Grande do Sul ao Índico

Rios atmosféricos podem se prolongar por milhares de quilômetros, mas o que atua sobre o Rio Grande do Sul tem uma extensão impressionante. Imagens da água precipitável no planeta hoje mostram que o rio atuando na atmosfera do Rio Grande do Sul e se original na Amazônia cruza todo o Oceano Atlântico e chega até o Oceano Índico, no outro lado do mundo.

A umidade consegue ser transportada a distâncias tão enormes por correntes de vento na alta atmosfera, as chamadas correntes de jato. Agora, para que alcance até o Índico o rio que está sobre o Rio Grande do Sul precisa carregar imensa quantidade de umidade, o que explica os índices de chuva muitíssimo acima da média nestes dias em diversas cidades do Estado.