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Um estudo de pesquisadores brasileiros do Instituto Astronômico e Geofísico (IAG), da Universidade de São Paulo, e do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), mostra como a fumaça das queimadas da floresta amazônica, Pantanal e da queima da cana-de-açúcar afeta a qualidade do ar na cidade de São Paulo, a maior do Brasil e da América do Sul.

Recentemente, incêndios florestais extremos danificaram importantes ecossistemas em todo o mundo e afetaram áreas urbanas a quilômetros de distância devido ao transporte de longas distâncias de nuvens de fumaça.


Os pesquisadores realizaram uma análise abrangente para esclarecer como as plumas de fumaça dos incêndios florestais do Pantanal e da Amazônia e as queimadas da safra de cana-de-açúcar também do interior do estado de São Paulo foram transportadas e injetadas na atmosfera da Região Metropolitana de São Paulo, onde pioraram a qualidade do ar e aumentaram os níveis de gases de efeito estufa.

Para classificar os dias do evento, múltiplas impressões digitais de queima de biomassa como isótopos de carbono e razões de compostos específicos foram combinadas com modelagem por computador para investigar a trajetória do material.


Nos dias com evento de fumaça na área metropolitana da cidade de São Paulo, as concentrações de material particulado fino excederam o padrão da Organização Mundial da Saúde (>25 μg m−3) em 99% das estações de monitoramento da qualidade do ar, e o pico de excesso de CO2 (dióxido de carbono) foi de 100% a 1178% maior do que nos dias sem evento de fumaça.

Os cientistas da USP e do IPEN demonstraram ainda como eventos de poluição externa, como incêndios florestais, representam um desafio adicional para as cidades, em relação às ameaças à saúde pública associadas à qualidade do ar, e reforçaram a importância das redes de monitoramento de gases do efeito estufa para rastrear emissões e fontes locais e remotas dos gases em áreas urbanas.

Plumas de fumaça do interior de São Paulo, Pantanal e Amazônia aumentam dramaticamente os níveis de dióxido de carbono na capital paulista com a piora da qualidade do ar | MARIE HIPPENMEYER/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Um aumento previsto na frequência, intensidade e duração das ondas de calor e um aumento associado de incêndios florestais em consequência das mudanças climáticas neste século provavelmente piorarão a qualidade do ar, prejudicando a saúde humana e os ecossistemas. A interação entre poluição e mudança climática imporá uma “penalidade climática” adicional para centenas de milhões de pessoas, de acordo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

“À medida que o globo esquenta, os incêndios florestais e a poluição do ar associada devem aumentar, mesmo em um cenário de baixas emissões. Além dos impactos na saúde humana, isso também afetará os ecossistemas à medida que os poluentes do ar se depositam da atmosfera na superfície da Terra”, disse o Secretário-Geral da OMM, Prof. Petteri Taalas.

“Esta é uma antecipação do futuro porque esperamos um novo aumento na frequência, intensidade e duração das ondas de calor, o que pode levar a uma qualidade do ar ainda pior, um fenômeno conhecido como “penalidade climática”, disse ele.

A “penalidade climática” refere-se especificamente ao efeito de amplificação da mudança climática na produção de ozônio no nível do solo, que afeta negativamente o ar que as pessoas respiram. As regiões com a penalidade climática projetada mais forte – principalmente na Ásia – abrigam aproximadamente um quarto da população mundial. A mudança climática pode exacerbar os episódios de poluição de ozônio na superfície, levando a impactos prejudiciais à saúde de centenas de milhões de pessoas.

A qualidade do ar e o clima estão interligados porque as espécies químicas que levam à degradação da qualidade do ar são normalmente coemitidas com gases de efeito estufa. Assim, mudanças em um inevitavelmente causam mudanças no outro. A combustão de combustíveis fósseis (uma das principais fontes de dióxido de carbono (CO2)) também emite óxido de nitrogênio (NO), que pode reagir com a luz solar e levar à formação de aerossóis de ozônio e nitrato.

A qualidade do ar, por sua vez, afeta a saúde do ecossistema por meio da deposição atmosférica (à medida que os poluentes do ar se depositam da atmosfera na superfície da Terra). A deposição de nitrogênio, enxofre e ozônio pode afetar negativamente ecossistemas naturais, como água limpa, biodiversidade e armazenamento de carbono, e pode afetar o rendimento das culturas em sistemas agrícolas.

Publicado em “Impact of extreme wildfires from the Brazilian Forests and sugarcane burning on the air quality of the biggest megacity on South America”

A poluição do ar é a principal causa ambiental de doenças e mortes prematuras no mundo. Partículas finas de poluição do ar ou aerossóis, também conhecidas como partículas finas ou PM2,5, são responsáveis por 6,4 milhões de mortes todos os anos, causadas por doenças como cardiopatia isquêmica, acidente vascular cerebral, câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica, pneumonia, tipo 2 diabetes e distúrbios neonatais.

Cerca de 95% dessas mortes ocorrem em países em desenvolvimento, onde bilhões de pessoas estão expostas a concentrações internas e externas de PM2,5 que são várias vezes maiores do que as diretrizes estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde. Um relatório do Banco Mundial estimou que o custo dos danos à saúde causados pela poluição do ar chega a US$ 8,1 trilhões por ano, o equivalente a 6,1% do PIB global.

Pessoas pobres, idosos e crianças pequenas que vêm de famílias pobres são os mais afetados e os menos propensos a lidar com os impactos à saúde decorrentes da poluição do ar. Crises globais de saúde enfraquecem a resiliência das sociedades. Além da saúde, a poluição do ar também está ligada à perda de biodiversidade e ecossistema e tem impactos adversos no capital humano.

Reduzir a poluição do ar, por outro lado, não apenas melhora a saúde, mas também fortalece as economias. Um estudo recente do Banco Mundial constatou que uma redução de 20% na concentração de PM2,5 está associada a um aumento de 16% na taxa de crescimento do emprego e um aumento de 33% na taxa de crescimento da produtividade do trabalho.

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