O fim de semana foi marcado pela presença do vento em Porto Alegre e muitas localidades do interior do Rio Grande do Sul, acompanhando o sol e as nuvens com registro até de chuva muito isolada. As rajadas ocorreram tanto durante a manhã como à tarde em alguns locais prosseguiram no começo da noite.
Em Porto Alegre e na região metropolitana, as rajadas tanto no sábado como neste domingo ficaram ao redor dos 50 km/h. No interior, anemômetros mediram 53 km/h em São Vicente do Sul, 52 km/h em Dom Pedrito, Soledade e Rio Pardo, e 50 km/h em Canguçu. Muitas cidades anotaram vento de 40 km/h a 50 km/h.
Mas por que o vento? Esta foi uma pergunta que apareceu reiteradamente nas redes sociais da MetSul?
Com o fim do inverno, as massas de ar frio seguem avançando para as latitudes médias do continente, mas, diferentemente da estação fria em que as incursões de ar polar são de trajetória continental, logo pelo interior do continente, as trajetórias das massas de ar frio são marítimas.
Ao mesmo tempo que ar frio avança pelo Atlântico Sul, ar mais quente se instala no continente com áreas de baixa pressão que costumam atuar no Norte da Argentina e no Paraguai, centros de baixa pressão, diga-se aliás, de natureza térmica.
Por isso, o calor é mais intenso nas médias climatológicas em cidades mais a Oeste do Sul do Brasil. Foi o caso deste fim de semana com uma área de baixa pressão com temperatura mais alta no Norte da Argentina ao passo que sobre o Atlântico, a Leste do Rio da Prata, estava um centro de alta pressão potente de 1.030 hPa associado a uma massa de ar frio de trajetória marítima.
Com efeito, estabelece-se um contraste de temperatura e pressão entre o Oceano Atlântico e o continente. Sobre o mar, ar mais frio e de maior pressão atmosférica. Sobre o continente, ar mais quente e de menor pressão atmosférica.
Aí entra a Física para explicar o vento. Sabe-se que a temperatura se eleva durante o dia mais rapidamente sobre terra do que sobre água. E que à noite ocorre o contrário com resfriamento maior sobre terra do que sobre água.
À medida que a temperatura se eleva com o sol durante o dia, a diferença de temperatura entre o mar e o continente aumenta. Áreas sobre terra ficam com temperatura muito maior que sobre o oceano. Na sequência, o ar de menor temperatura (mais denso) começa a se deslocar para o ambiente em que a o ar está mais quente (e mais leve).
Esse deslocamento de ar, do mar para terra, traz o vento. Por isso, o vento sopra do quadrante Leste. É vento que vem do mar para terra, o que os surfistas denominam de vento maral. À noite, com tempo seco e aberto, o resfriamento é muito mais acentuado sobre terra. O ar no continente passa a ser mais denso que sobre o mar, então às vezes se opera o movimento contrário e áreas costeiras e do oceano passam a receber o vento vindo de Oeste, o terral.
Toda esta dinâmica que envolve a climatologia, características e trajetórias de massa de ar e processos físicos de deslocamento do ar explica o porquê desta época do ano ser comumente mais ventosa, o que rendeu a expressão popular de “Vento de Finados”.
Quando o vento Leste atua no Rio Grande do Sul ele costuma inibir chuva nas áreas que estão com as rajadas, o que leva muitos agricultores a descreverem o vento como “come chuva”. Por outro lado, em áreas costeiras que têm grandes elevações do terreno a Oeste, no caso da parte dos litorais do Sul e do Sudeste do Brasil, a Serra do Mar, o vento Leste acaba trazendo nebulosidade e chuva.
Por quê? O vento que sopra do oceano para o continente vem carregado de umidade. O ar úmido ao encontrar a barreira física dos morros e montanhas acaba ascendendo na atmosfera. Quanto mais alto na atmosfera, mais frio. E o ar úmido, ao se elevar, acaba encontrando ar mais frio e termina por se condensar, gerando nuvens e chuva. Este tipo de chuva é chamado de orográfica ou induzida pelo relevo, e em determinadas situações pode gerar volumes de precipitação muito altos, como está ocorrendo agora no Leste de Santa Catarina e do Paraná.
A previsão da MetSul é que o tempo siga por vezes ventoso tanto nesta segunda como na terça no Rio Grande do Sul, especialmente a partir do fim da manhã e durante a tarde. Não é vento que oferece perigo e as rajadas tendem a oscilar na maioria dos pontos entre 40 km/h e 50 km/h.
O vento é problema, e não pela sua velocidade, em Santa Catarina e no Paraná. Isso porque o vento seguirá transportando umidade do mar para o continente, que ao encontrar o relevo da Serra do Mar gera chuva de natureza orográfica, o que vai aumentar ainda mais os volumes de chuva no Leste e no Nordeste catarinense assim como no Leste paranaense. Até o começo da noite deste domingo, o acumulado de chuva em 72 horas chegava a 339 mm em Schroeder e 270 mm em Joinville, no Nordeste de Santa Catarina.