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Santa Cruz do Sul teve evento extremo de chuva ontem com mais de 100 mm em apenas uma hora

O Rio Grande do Sul vem experimentando um período de enorme instabilidade desde o começo da semana com muita chuva na maioria das regiões e temporais freqüentes que têm ocorrido diariamente. Os acumulados em diversas cidades desde domingo somam mais de 100 mm e há pontos isolados com marcas próximas ou acima de 200 mm desde o domingo.

Por que está chovendo tanto no Rio Grande do Sul agora neste dias? A resposta está no caminho que a umidade percorre no Brasil, os chamados rios voadores. O denominado canal primário de umidade da América do Sul que no verão tem sua posição normal no sentido da Amazônia para o Centro-Oeste e a Região Sudeste está neste momento com a orientação geográfica da Amazônia para o Centro-Oeste e o Sul do Brasil.

Os estados do Sul do Brasil, em particular o Rio Grande do Sul, estão recebendo aporte de umidade tropical enorme nestes dias, o que gera chuva com grande frequência. Soma-se ainda a atmosfera aquecida com uma massa de ar quente instalada na região. Com ar quente e abundante forma-se a combinação perfeita não apenas para chuva, mas também a formação freqüente de áreas de instabilidade que trazem chuva excessiva localizada, vento forte e granizo.

Total de água precipitavável projetado para hoje mostra como o fluxo de umidade está direcionado para o Sul do Brasil com escassez de água na atmosfera em áreas mais a Leste do país no Nordeste e em parte do Sudeste

Este caminho da umidade é mais comum no inverno, quando o Brasil Central passa pela sua temporada seca e a umidade é direcionada pelo interior do continente para o Centro da Argentina, o Uruguai e o Sul do Brasil, reforçando as frentes frias. Faz muitos dias, entretanto, que se observa junto ao Nordeste do Brasil o que se chamada de Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) que está inibindo a chuva em muitas áreas do Nordeste brasileiro e grande parte da Região Sudeste, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Com muito sol, a cidade do Rio de Janeiro acaba de experimentar os seus dois dias mais quentes deste verão com máximas acima dos 40ºC.

A umidade sobre o continente não some. Se ela não está indo para o lugar que costumeiramente vai nesta época do ano é porque está indo para outras regiões, e no caso é o Rio Grande do Sul. Por isso, cenas como carros arrastados por correnteza nas ruas que são comuns neste período do ano em cidades paulistas ou mineiras acabaram sendo vistas ontem no temporal de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo.

Desde o começo da semana a MetSul vem alertando dia após dia sobre condições atmosféricas favoráveis ao registro de muita chuva com eventos localizados de chuva muito excessiva com marcas de 50 mm a 100 mm em apenas uma hora. Estas condições persistem hoje e durante os próximos dias no Rio Grande do Sul e no restante do Sul do Brasil, assim como no Uruguai e no Centro da Argentina. Novos episódios de chuva muito a intensa com enormes volumes em curto período, da ordem de 50 mm a 100 mm em apenas uma hora em pontos isolados, podem ser esperados em outros pontos da geografia gaúcha e também dos estados de Santa Catarina e do Paraná.

A probabilidade de ocorrência destes eventos de chuva extrema pode ser antecipada dias antes, mas não é possível antever quais cidades serão afetadas porque eventos bastante localizados. Em municípios de maior dimensão territorial, neste tipo de situação, não raro se observa chuva perto de 100 mm em um temporal em parte da cidade e em locais não muito distantes dentro da mesma cidade pouco ou nada de chuva.

Os modelos numéricos que geram projeções de volumes, ademais, não conseguem prever exatamente tais eventos de chuva extrema isolados, por isso prevêem volumes de 15 mm a 20 mm para um dia em determinado município e no fim, por um temporal, acaba chovendo 100 mm. Os meteorologistas que enxergam o cenário macro da atmosfera é que conseguem alertar para este risco de eventos porque não se limitam a observar projeções numéricas de chuva de modelos, atentando para as condições gerais da atmosfera que sinalizam o risco de episódios localizados extremos de precipitação.