Será uma semana de bater queixo no Rio Grande do Sul, Sul do Brasil e todo o Centro da América do Sul. O inverno vai entregar seu cartão de visitas com força duas semanas antes do seu começo oficial. A MetSul Meteorologia antecipa que a onda de frio desta semana será uma das mais intensas da história recente na primeira metade de junho com potencial de trazer mínimas semelhantes aos episódios mais extremos de ar gelado em inverno dos últimos anos. Serão duas incursões de ar polar, duas etapas, no processo de resfriamento do continente. A primeira, garantida por um ciclone no Atlântico, começou a ingressar ontem. A segunda, mais intensa, avança na quarta e cobre o Estado quinta. Os mapas abaixo mostram a situação sinótica de hoje (esquerda) com um ciclone junto ao Atlântico Sul que impulsiona ar frio para o Rio Grande do Sul e a que é prevista para quinta (direita) com um centro de alta pressão continental.


A semana toda será fria, mas as madrugadas de quinta, sexta e sábado devem ser as mais geladas. A MetSul antecipa mínimas abaixo de zero em quase todos os municípios gaúchos. Nos Aparados da Serra, pode fazer entre 5ºC e 7ºC negativos, contudo não se pode descartar marcas menores (7ºC a 9ºC negativos) nas baixadas de São José dos Ausentes. Na Serra, os termômetros devem indicar entre 2ºC e 4ºC abaixo de zero com registros de até 5ºC ou 6ºC negativos em baixadas da região. O meteograma abaixo mostra projeção do modelo americano GFS de temperatura para os próximos sete dias em Vacaria. Note a tendência de temperatura ao redor de 5ºC abaixo de zero, mas atente que o ponto de orvalho cai muito mais na madrugada de sexta-feira, sinalizando potencial para marcas nos termômetros ainda menores.


A região da Campanha deve ter de 2ºC a 4ºC abaixo de zero, ocasionalmente com 5ºC negativos em alguns pontos junto à fronteira com o Uruguai. A temperatura pode ficar ao redor de 0ºC ou mesmo um pouco negativa ainda na área de Pelotas. No Sudoeste do Estado, região de Uruguaiana, as mínimas tendem a se situar entre 1ºC e 3ºC abaixo de zero com marcas inferiores em alguns pontos de baixada junto às coxilhas e Serra do Caverá. No Centro do Estado, tanto na área de Santa Maria como nos vales, poderão ser observadas marcas de até 2ºC ou 3ºC abaixo de zero em alguns pontos. Nos locais de maior altitude do Centro gaúcho como Sobradinho e Gramado Xavier os termômetros devem indicar marcas semelhantes às projetadas para a Serra do Nordeste com 3ºC a 5ºC negativos.

A temperatura vai cair abaixo de zero também na Grande Porto Alegre. Marcas de 2ºC a 3ºC negativos em alguns pontos da área metropolitana, fora das zonas urbanas, são bem possíveis. Mesmo em Porto Alegre a temperatura deve ser negativa em alguns bairros, sobretudo das zonas Sul, Leste e Norte da cidade (leia mais). O meteograma abaixo do modelo GFS com a projeção de temperatura para a semana em Porto Alegre mostra que a temperatura deve cair a 0ºC na área da Capital, mas atentem para o ponto de orvalho (dew point) que sugere mínimas negativas sexta e sábado, quando a massa de ar já vai estar estabilizada. Na quinta haverá vento, logo pela advecção as mínimas devem se dar nos pontos mais altos da cidade como na Lomba do Pinheiro.


Junho é o mês de menor média de temperatura na climatologia anual de Porto Alegre ao lado de julho. Logo, a perspectiva de temperatura mínima até 10ºC abaixo da normal histórica desta época do ano é uma evidência clara da magnitude desta onda de frio que está recém iniciando. Na segunda metade desta semana (mapas abaixo cortesia do Dr. Ryan Maue), a temperatura pode ficar até 15ºC abaixo da média em alguns pontos do Centro da América do Sul, o que é uma condição extrema. Em Santa Catarina, na área do Planalto Sul, as mínimas podem atingir marcas impressionantes perto de 10ºC abaixo de zero ou até menos em alguns pontos como em Urupema.


O avanço do ar polar mais forte entre quarta e quinta deve trazer aumento de nuvens e até precipitação. Com a interação da instabilidade, levantamento vertical nas áreas de relevo e da advecção de ar muito gelado em altura, surge a questão da neve. Previsão de neve, como mais que sabido, é algo por demais complexo para a nossa região, mas o fenômeno não pode ser tecnicamente descartado entre quarta e quinta-feira. O ar muito gelado e instabilidade associada a um cavado deve trazer neve na província de Buenos Aires, não se descartando “agua nieve” na região da capital argentina, pontos do Sul das províncias argentinas de Entre Rios e Santa Fé, assim como no Uruguai. Modelos estão indicando chance de neve ou chuva congelada (sleet) perto da fronteira com o Uruguai na quarta e na Serra Gaúcha entre a noite de quarta e a manhã de quinta. É o que mostra abaixo a sequência de mapas da última saída do modelo americano GFS com os tipos de precipitação projetadas pela simulação (chuva, chuva congelante, chuva congelada e neve). Ponderamos, contudo, que a passagem de instabilidade entre quarta e quinta será rápida e que rapidamente a atmosfera tende a secar, logo evento amplo com maior acumulação (como em 1994, 1999, 2000 e 2010) não parece ser o mais provável, caso venha mesmo a nevar. O levantamento vertical pelo vento nas áreas de relevo pode sim induzir nuvens de maior desenvolvimento e pancadas de neve, contudo mais isoladas.


O ingresso do segundo pulso mais intenso de ar polar durante a quarta e a quinta-feira virá acompanhado de vento moderado com rajadas fortes, sobretudo no Sul e no Leste do Estado, o que pode atrapalhar a ornamentação com os “tapetes” de Corpus Christi. Rajadas de 80 a 90 km/h podem ser anotadas no Litoral Sul gaúcho e talvez até próximas dos 100 km/h nos Aparados da Serra. Valores muito perigosos de sensação térmica são esperados entre os Aparados e o Planalto Sul Catarinense com registros de 15ºC a 20ºC negativos. Sensação térmica negativa é esperada em Porto Alegre e na maior parte do Rio Grande do Sul na madrugada da quinta-feira, dia que deve ser o mais frio da semana – considerando o período de 24 horas – com máximas à tarde bastante baixas e inferiores a 10ºC em diversas cidades.

Haverá o risco de formação de gelo nas estradas da região da Serra, Aparados e Planalto Sul Catarinense, exigindo atenção dos motoristas. Pode gear na maioria das regiões do Rio Grande do Sul nas duas próximas madrugadas. O fenômeno, porém, vai ter muito maior abrangência e intensidade na segunda metade da semana. Vento e frio extremo podem trazer “geada negra” na madrugada de quinta-feira na Metade Norte gaúcha. Nas madrugadas de sexta e sábado a geada será generalizada no Rio Grande do Sul, devendo ser forte a intensa em vários pontos. Pode gear na maior parte de Porto Alegre, menos no Centro Histórico e adjacências, e até em alguns pontos junto ao litoral. A geada deve trazer prejuízos importantes para o cultivo de hortaliças. Será muito recomendável ainda ter atenção na costa por vento forte em alto mar com vagas grandes e possível ressaca na orla.