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Os números falam por si. A estiagem é severa. O drama de quem foi atingido, contudo, não se traduz em números. Perdas em lavouras, economias familiares perdidas, rios secos, prejuízos ambientais têm valores intangíveis. O drama é humano. O Noroeste, como já destacado pela MetSul, sofre com a maior escassez de água. São Luiz Gonzaga registrou apenas 35% da chuva média histórica entre 1º de novembro e 31 de maio. É como se tivesse chovido pouco mais de dois meses de um total de sete. A precipitação média do período é de 1118,8, mas caíram apenas 392,4 mm. Maio foi o mês mais seco com somente 16,2 mm, o maio mais seco no município dos últimos 85 anos. A última vez que maio teve tão pouca chuva em São Luiz Gonzaga foi em 1927, mas, diferentemente de 2012, meses anteriores registraram precipitação acima da média histórica.

Cruz Alta registrou Cruz Alta registrou 37,9% do volume de precipitação médio entre novembro e maio. De uma precipitação total pela normal histórica no período de 1007 mm se precipitaram apenas 381,8 mm em sete meses. Também em Cruz Alta maio foi o mês de menos chuva até agora nesta estiagem com apenas 21,2 mm, menor acumulado mensal no quinto mês do ano desde 1981, quando se precipitaram 14,1 mm. Trata-se do período novembro a maio mais seco desde o começo dos registros em Cruz Alta há um século. Nos últimos cem anos de registros, os setes meses entre novembro e maio que tinham registrado menor índice de precipitação se deram entre 1916 e 1917 com 540,9 mm, muito acima do extremo de agora.

Santa Vitória do Palmar, no Extremo Sul do Estado, teve apenas 48% da chuva média histórica nos último sete meses. No período, se precipitaram 325,1 mm contra a normal 1961-1990 de 667,8 mm. O mês mais seco do período foi o de janeiro com apenas 13,1 mm. Maio acumulou 15,9 mm. Se não lidera o ranking de maior anomalia em relação às normais históricas, Santa Vitória encabeça a lista de estações do Inmet que tiveram nos últimos sete meses o menor acumulado de precipitação. Os 325,1 mm divididos por 213 dias resultam em precipitação diária de apenas 1,52 mm, quando o normal seriam 3,13 mm.

Caxias do Sul é a cidade do Estado em que o Instituto Nacional de Meteorologia possui estação que registrou o maior acumulado de precipitação nominal durante os últimos sete meses de estiagem no Rio Grande do Sul. Foram 733,2 mm no período com uma taxa diária de precipitação nestes 213 dias de 3,4 mm. Ocorre que, do total, 448,2 mm foram registrados apenas em janeiro e fevereiro. De março a maio (92 dias) a precipitação somou apenas 198,7 mm, menos que o que caiu só em janeiro, quando o registro foi de 252,4 mm. A taxa diária em mm entre 1º de março a 31 de maio foi de apenas 2,1 mm.

Mapa divulgado pelo Oitavo Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia

Além dos baixos volumes ocorridos ao longo dos últimos meses, é preciso se levar em conta também a freqüência em que ao chuva se deu, pois ao se analisar apenas o volume total somado no período de um mês pode se ter a falsa e equivocada impressão que choveu satisfatoriamente, quando a realidade é muito diferente. Basta recordar que em se tratando de verão e primavera é normal a ocorrência de altos acumulados em curtos períodos. Além disso, com a maior insolação e temperatura alta, há uma perda mais rápida de umidade do solo. Portanto, para se analisar a seca com mais profundidade é preciso cruzar os dados de quantidade e freqüência de precipitação para que se tenha a leitura mais precisa da gravidade do quadro.

Em Uruguaiana, dos 213 dias de 1° de novembro até 31 de maio, choveu em somente 32 dias, ou seja, em apenas 15% dos dias houve registro de chuva com volume igual ou superior a 1 mm/dia. Cruz Alta teve precipitação em só 16% dos dias. Já em São Luiz Gonzaga foram tão-somente 36 dias, ou seja, em apenas 17% dos dias choveu. Santana do Livramento e Santa Vitória do Palmar tiveram, respectivamente, 35 e 36 dias com anotação de chuva, equivalentes a 16% -17% do total de dias.

A severa estiagem de sete meses, contudo, não impediu que se produzissem eventos de chuva com volumes extremos em curto período. A estação de Uruguaiana do Inmet teve em dezembro acumulado de 185,2 mm (medições particulares no interior do município chegaram a indicar mais de 300 mm em apenas 72 horas). Do total observado na estação do órgão, 120 mm se deram em apenas 24 horas no dia 21. No mês inteiro, contudo, foram somente três dias com registro de precipitação.

Caxias do Sul teve em janeiro 252,4 mm, entretanto a maior parte da chuva se deu em apenas três dias com 201,9 mm: 70,3 mm nas 24 horas até 9h do dia 1º, 82,8 mm em 13 de janeiro e 48,8 mm no dia 14. No mesmo período, Torres registrou apenas entre 6h e 20h do dia 13 de janeiro uma precipitação de 131,4 mm, quando a média do mês é de 117,5 mm. O Litoral Norte gaúcho mergulhou mais uma vez nas águas em pleno veraneio com grandes alagamentos e transtornos nos balneários.


Porto Alegre teve em fevereiro 139,5 mm, mas 79 mm destes ocorreram apenas durante a manhã do dia 22. A precipitação até as 10h do dia 22 naquele momento era a maior para um período de 24 horas no Jardim Botânico desde 26 de junho de 2010, quando caíram 79,6 mm. Em março, Porto Alegre teve um total mensal de 122,7 mm, mas tal como em fevereiro, a maior parte da precipitação se deu em um único episódio. Foram mais de 80 mm no Jardim Botânico, mas que por terem ocorrido parte antes da leitura das 10h e outra parte após o horário acabaram não determinando que a marca em 24h de fevereiro fosse batida, já que a altura diária da chuva em mm é totalizada até 9h (10h quando do horário de verão).


Santana do Livramento teve em fevereiro teve um total de 220,5 mm, sendo que destes 48,6 mm ocorreram no dia 7, 43,1 mm no dia 17 e 34,2 mm no dia 29, ou seja, 125,9 mm ocorreram em só três dias. Santa Maria, no penúltimo dia do mês de maio, registrou um acumulado diário de 124 mm, o maior acumulado em 24 horas para maio desde 25 de maio de 1994, quando caíram 136,6 mm.

Entre janeiro e fevereiro houve uma trégua breve da estiagem em apenas parte do Rio Grande do Sul, mas desde março a escassez de chuva se aprofundou muito. No mês de março em Bom Jesus choveu apenas 32 mm, o março mais seco na cidade dos Aparados desde o começo dos registros em 1948, ou seja, o mais seco em pelo menos 64 anos. Também em março se precipitaram apenas 12 mm em Torres, o menor volume para o mês desde 1931 (em âmbito global Portugal teve o fevereiro mais seco desde 1931 neste ano).


Em maio, quando a estiagem completou 200 dias, o quadro se deteriorou de vez na maioria das regiões do Estado. Além do maio mais seco desde 1927 em São Luiz Gonzaga e desde 1981 em Cruz Alta, não chovia tão pouco no quinto mês do ano desde 1964 em Livramento com apenas 17,8 mm (12,8 mm em 1964), desde 1989 em Santa Vitória do Palmar com 15,9 mm (13,1 mm em 1989), desde 1995 em Passo Fundo com 28,5 mm (21,4 mm em maio de 1995) e desde 1996 em Rio Grande com 14,2 mm (8,6 mm em 1996) e Bagé com 14,2 mm (8,6 mm em 1996). Porto Alegre teve 35,7 mm no Jardim Botânico, mas em 2009 foram 35,6 mm e em 2005 apenas 27,5 mm em maio.

Interessante, por fim, verificar qual era a condição ENSO, com base na SOI ou Índice de Oscilação do Sul nestes anos de maio seco. Valores positivos da oscilação, em regra, são de La Niña e negativos de El Niño. Em maio de 1927, quando São Luiz Gonzaga teve um maio de chuva muito escassa como em 2012, o valor mensal da SOI em maio foi de +6 e em março tinha sido de +18, denotando um possível quadro de La Niña em padrão atmosférico global. Em 1964, a SOI em maio era de +2,8 e no mês anterior tinha sido de +13,5 mm, igualmente denotando La Niña que se desenvolveu no outono após começo de ano com El Niño. Em 1981, a oscilação foi positiva em +7,1, mas o quadro era de neutralidade. Em 1989, ano que Bagé amargou um grave racionamento de água, a SOI foi de +14,7 em maio após um abril com +21 em primeiro semestre de Pacífico frio no forte evento de La Niña iniciado em 1988. Em 1995, ao contrário, a SOI era negativa em -9 e o Pacífico estava em neutralidade após início de ano sob El Niño. Em 1996, ano de julho de frio rigoroso, a SOI no quinto mês do ano foi de +1,3 e o começo de ano tinha sido de La Niña com estabelecimento de neutralidade no outono, como em 2012. A média preliminar da SOI dos últimos 30 dias até 1º de junho foi de -1,18, consistente com a neutralidade observada hoje no Pacífico Equatorial.