Uma empresa de aviação australiana diz que recebeu mais de cem ameaças após uma teoria da conspiração se espalhar online de que os seus pilotos desencadearam um desastre de inundação por semeadura de nuvens, técnica controversa para fazer chover em áreas sob seca.

Os teóricos da conspiração espalharam as falsas alegações depois que semanas de chuvas torrenciais trouxeram inundações mortais na costa Leste nos últimos dois meses, engolindo casas e varrendo carros em estradas.

Posts compartilhados on-line afirmam que supostos pilotos da Handel Aviation causaram um segundo dilúvio na cidade de Lismore, devastada por inundações, em Nova Gales do Sul, em 31 de março, após usarem a técnica de semeadura de nuvens, dispersando uma substância nas nuvens para provocar chuva.

“Um piloto da Handel Aviation no Cessna 210N Centurion VH-JIL fez uma semeadura de nuvens na hora do café da manhã sobre Lismore South e Ballina hoje enquanto observava a enorme inundação abaixo dele”, diz um post amplamente compartilhado.

A trajetória de voo da aeronave VH-JIL da Handel Aviation cruzando áreas inundadas também foi compartilhada online pela estilista australiana Alice McCall ao lado de alegações de que estava liberando produtos químicos na atmosfera para “ativar a chuva”.

BRADLEY RICHARDSON/AUSTRALIAN DEFENCE FORCE/AFP/METSUL METEOROLOGIA

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PATRICK HAMILTON/AFP/METSUL METEOROLOGIA

PATRICK HAMILTON/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O operador da Handel Aviation, Mark Handel, disse à agência AFP que a empresa não semeia nuvens. O voo estava coletando imagens para mapas aéreos fornecidos à empresa de mapeamento australiana NearMap, disse ele.“A Handel Aviation opera apenas aeronaves de fotografia aérea. Nossos voos recentes sobre áreas inundadas de Nobva Gales do Sul e Queensland são uma resposta às inundações”, atesta um comunicado publicado no site da Handel Aviation.

A NearMap confirmou à AFP que as fotos tiradas pela Handel Aviation foram contratadas para mapear áreas afetadas por desastres para seguradoras e serviços de emergência. “Essas capturas aéreas são encomendadas após grandes catástrofes climáticas e desastres naturais, inclusive após as recentes inundações na costa Leste”, disse o porta-voz da NearMap.

‘Coisas ameaçadoras’

As alegações que circulam online levaram ao envio de mais de cem ameaças à Handel Aviation, apesar de a explicação sobre o objetivo dos voos estar na página da empresa. “Tivemos coisas ameaçadoras realmente violentas como ‘temos os nomes dos pilotos, sabemos onde você mora, você vai pagar por isso'”, disse Handel à AFP.

A Handel disse que encarregou seu gerente de operações, Anthony Berko, de responder a cada e-mail e ligar para as pessoas que forneceram seus números de telefone. Alguns daqueles que ele contatou ficaram surpresos ou zangados, disse Berko.

Outros ficaram angustiados ou irritados, dizendo ao experiente piloto que haviam perdido tudo durante as enchentes e achavam que a empresa era a responsável. “Eles precisavam de um ombro amigo para chorar e ouvir sua história. Eles basicamente perderam tudo e então alguém disse, aqui está sua resposta”, disse Berko.

Apesar das alegações online, a semeadura de nuvens não é responsável por nenhuma das inundações da costa Leste australiana, disse o especialista em modificação do clima Simon Siems.  O professor que lidera uma equipe da Universidade Monash que estuda nuvens e precipitação, disse que a prática não é realizada na região de Northern Rivers e não pode causar inundações. “A semeadura na nuvem não é tão eficaz, as pessoas fazem isso apenas em circunstâncias muito especiais”, explicou.