Anúncios

A concentração atmosférica de gases do efeito estufa e os níveis do mar alcançaram novos recordes em 2021, indica relatório do governo dos Estados Unidos que mostra que as mudanças climáticas avançam apesar dos esforços para frear as emissões. Trata-se do documentado “State of the Climate” ou Estado do Clima, da American Meteorological Society.

“Os dados apresentados neste relatório são claros: seguimos vendo mais evidências científicas convincentes de que as mudanças climáticas têm impactos globais e não mostram sinais de desaceleração”, disse Rick Spinrad, diretor da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).

O aumento de gases do efeito estufa ocorre a despeito de uma redução nas emissões de combustíveis fósseis no ano anterior, quando grande parte da economia mundial desacelerou drasticamente devido à pandemia. A agência americana afirmou que a concentração desses gases na atmosfera ficou em 414,7 partes por milhão (ppm) em 2021, 2,3 ppm a mais que em 2020. Trata-se do nível “mais alto em pelo menos o último milhão de anos, segundo os registros paleoclimáticos”, declarou o relatório anual sobre o estado do clima realizado por cientistas da NOAA.


O nível do mar do planeta subiu pelo décimo ano consecutivo, atingindo um novo recorde de 97 milímetros acima da média em 1993, quando começaram as medições por satélite. O ano passado ficou entre os seis mais quentes registrados desde meados do século XIX, e os últimos sete anos foram os sete mais quentes já registrados, de acordo com o relatório.

O número de tempestades tropicais também ficou bem acima da média no ano passado, incluindo o tufão Rai, que matou quase 400 pessoas nas Filipinas em dezembro, e o Ida, que varreu o Caribe antes de se tornar o segundo furacão mais forte a atingir o estado norte-americano de Louisiana, depois do Katrina.

Entre os eventos extraordinários apontados, o relatório cita que as famosas cerejeiras de Kyoto, no Japão, floresceram em 2021 o mais cedo no ano desde 1409. Incêndios florestais, cujo aumento devido às mudanças climáticas também é previsto, foram baixos em comparação aos últimos anos, ainda que enormes incêndios tenham devastado áreas no Oeste dos Estados Unidos e na Sibéria.

O relatório foi divulgado pouco depois que um estudo afirmou que a camada de gelo da Groenlândia já está prestes a derreter a níveis perigosos. Isso pode provocar sérios prejuízos a regiões do mundo onde vivem centenas de milhões de pessoas.

O planeta segue muito longe da meta estabelecida pelo Acordo de Paris em 2015 de limitar o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais e, assim, evitar os piores efeitos das mudanças climáticas. Em agosto, os Estados Unidos, maior economia mundial, lançaram as medidas mais ambiciosas de sua história para fazer frente a suas emissões de poluentes na atmosfera.

Concentração de gases

A concentração de gases de efeito estufa da Terra foi a mais alta já registrada. As principais concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – subiram mais uma vez para novos recordes em 2021. A concentração média anual global de dióxido de carbono atmosférico foi de 414,7 partes por milhão (ppm). Isso foi 2,3 ppm maior que os valores de 2020 e foi o mais alto medido nos registros observacionais modernos, bem como o mais alto pelo menos no último milhão de anos com base em registros paleoclimáticos.

A concentração média anual de metano na atmosfera também foi a mais alta já registrada, e o aumento anual de 18 partes por bilhão (ppb) foi o maior desde o início das medições. O incremento anual do metano acelerou significativamente desde 2014. O aumento anual de 1,3 ppb para o óxido nitroso foi o terceiro mais alto desde 2001, contribuindo para concentração atmosférica média anual global de 334,3 ppb.

Planeta quente

A tendência de aquecimento da Terra continuou. Uma série de análises científicas indica que as temperaturas anuais da superfície global foram de 0,21ºC a 0,28ºC acima da média de 1991 a 2020. Isso colocou 2021 entre os seis anos mais quentes desde que os registros começaram em meados do século XIX.

Os últimos sete anos (2015-2021) foram os sete anos mais quentes já registrados, e a temperatura média da superfície global aumentou a uma taxa média de 0,08ºC – 0,09ºC por década desde a início da manutenção de registros e a uma taxa mais de duas vezes maior desde 1981 (0,18ºC – 0,20ºC) por década desde 1981, de acordo com uma série de análises científicas).

Oceanos mais quentes

O calor do oceano e o nível global do mar foram os mais altos já registrados. O oceano sequestra a grande maioria do excesso de energia retido no sistema da Terra por gases de efeito estufa e outros fatores. O conteúdo global de calor oceânico, medido da superfície do oceano a uma profundidade de mais de 6.000 pés, continuou a aumentar e atingiu novos recordes em 2021.

Pelo 10º ano consecutivo, o nível médio global do mar subiu para um novo recorde e foi de cerca de 97,0 mm acima da média de 1993, o ano que marca o início do registro de medição por satélite. As condições de La Niña reduziram as temperaturas da superfície do mar. As condições de La Niña que começaram em meados de 2020 continuaram durante a maior parte de 2021.

A temperatura global anual da superfície do mar em 2021 foi menor do que em 2019 e 2020 devido em parte ao La Niña, mas ainda foi de 0,29ºC superior à média de 1991-2020. Aproximadamente 57% da superfície do oceano experimentou pelo menos uma onda de calor marinha durante 2021.

Extremos de temperatura e menos gelo

As temperaturas foram muito variáveis no Hemisfério Sul. A La Niña contribuiu para o ano mais quente já registrado na Nova Zelândia, mas também para o ano mais frio desde 2012 na Austrália. Na Antártida, o ar frio dentro de um vórtice polar forte e estável contribuiu para o inverno mais frio (de abril a setembro) já registrado no Polo Sul.

Na Península Antártica, a única parte do continente que ultrapassa o Círculo Antártico, duas estações receberam ventos quentes persistentes do quadrante Norte e uma estação atingiu sua temperatura anual mais alta já registrada, enquanto a outra registrou sua segunda temperatura mais alta registrada.

O Ártico foi mais frio no geral, mas alguns recordes foram estabelecidos. O Ártico teve seu ano mais frio desde 2013, mas 2021 ainda foi o 13º ano mais quente no histórico de 122 anos. Eventos de calor extremo ocorreram durante o verão. Durante uma enorme onda de calor no Oeste da América do Norte, uma temperatura de 39,9ºC foi registrada em 30 de junho em Fort Smith, Territórios do Noroeste, Canadá, a temperatura mais alta já registrada acima de 60º de latitude Norte.

Um evento de derretimento generalizado na camada de gelo da Groenlândia em 14 de agosto de 2021, o mais recente da temporada já registrado coincidiu com a primeira chuva observada no histórico de 33 anos na Estação Summit, que fica a mais de 3.200 metros acima do nível do mar.

Embora a extensão mínima do gelo marinho do Ártico tenha sido a 12ª menor no registro de 43 anos, a quantidade de gelo plurianual (gelo que sobrevive a uma ou mais estações de derretimento no verão) que permanece no Ártico foi a segunda mais baixa já registrada. Isso indica a transição sustentada do Ártico para uma cobertura de gelo mais jovem e mais fina, com maior probabilidade de derretimento completo no futuro.

Ciclones tropicais

A atividade dos ciclones tropicais esteva bem acima da média em 2021. Houve 97 tempestades tropicais nomeadas durante as temporadas de tempestades do Hemisfério Norte e Sul no ano passado, bem acima da média de 87 de 1991-2020. Sete ciclones tropicais atingiram intensidade de Categoria 5 na escala de ventos de furacões Saffir-Simpson.

O Atlântico Norte registrou 21 tempestades nomeadas, a terceira maior marca anual para a área, atrás do recorde de 30 ciclones de 2020 e de 28 em 2005. O furacão Ida de categoria 4 foi a tempestade mais impactante no Atlântico. Com US$ 75 bilhões em danos, Ida foi o desastre mais caro dos EUA em 2021 e o quinto furacão mais caro já registrado desde 1980. O Super Tufão Rai foi o terceiro tufão mais caro da história das Filipinas, causando cerca de US$ 1 bilhão em danos e mais de 400 mortes.

Anúncios