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Chamava atenção nas imagens de satélite da manhã deste sábado como havia uma forte ondulação nas nuvens que estavam sobre o Centro, o Norte e o Nordeste do Rio Grande do Sul. O que se via nas imagens de satélite e também a partir da superfície eram ondas de gravidade no céu.

Em Porto Alegre e em outras cidades era possível observar verdadeiras trilhas de nuvens no céu quando o tempo começou a abrir no meio e no final da manhã depois de um começo de manhã com céu nublado a encoberto.

Ainda no começo da manhã, em algumas cidades que estavam com o tempo fechado, se notava como a nebulosidade estava ondulada no céu, embora não caracterizassem um tipo de nuvens chamado Undulatus asperatus.

As ondas de gravidade são um dos mecanismos que a atmosfera utiliza na tentativa de se restaurar a um estado de equilíbrio. Embora essas ondas normalmente não influenciem os padrões de grande escala, elas podem afetar eventos de menor escala e produzem alguns padrões característicos de nuvens.

Nebulosidade ondulada hoje cedo em Sobradinho | IARA PUNTEL

Trilhas de nuvens separavam área do céu do Norte de Porto Alegre com maior nebulosidade do tempo muito aberto do Sul da capital no final da manhã | METSUL METEOROLOGIA

Sempre é importante lembrar que, do ponto de vista físico, a atmosfera pode ser considerada um fluído, uma vez que os gases que a compõem se movimentam em resposta às forças externas. Assim como os líquidos, os gases da atmosfera são sujeitos a pressão, densidade e temperatura, que variam em diferentes altitudes.

O que são ondas de gravidade?

A palavra “gravidade” pode tornar causar alguma confusão, uma vez que o processo físico tem como causa principal outros fatores e todos os movimentos do ar são influenciados pela gravidade do planeta. O que melhor define mesmo é a palavra onda. O ar pode ter movimentos retos ou em ondas e estas podem ser horizontais ou verticais.

Uma onda de gravidade é do tipo vertical. Daí o exemplo de uma pedra sendo jogada em um lago. Ondulações ou círculos migram do ponto em que a rocha atinge a água. Um movimento para cima e para baixo é criado. Com o aumento da distância do ponto onde a rocha atinge a água, as ondas tornam-se menos definidas.

Ruas de nuvens formadas por ondas de gravidade em Minnesota (EUA) em 2014 | NOAA PHOTO LIBRARY

Para que surjam ondas de gravidade na atmosfera (o lago) é preciso um mecanismo de gatilho (a pedra) que as desencadeie, fazendo com que o ar seja deslocado na vertical. O ar deve ser forçado a subir numa camada atmosférica estável.

Por quê? Se o movimento ascendente do ar se der numa camada atmosférica instável, ele continuará a subir e não criará um padrão de onda. Se, ao contrário, o ar for forçado a subir numa camada estável, a tendência natural será que o ar volte a descer. O gatilho (a pedra) forçará a parcela de ar a subir e a estabilidade da atmosfera forçará a mesma parcela depois a descer, gerando as ondas.

Em uma onda de gravidade, a região de movimento ascendente do ar é a mais favorável para a formação de nuvens e a região em que o ar desce proporciona céu limpo. É por isso que na presença de ondas de gravidade são observadas fileiras de nuvens e entre elas áreas de tempo aberto com céu azul. O fenômeno nada mais é, assim, do que uma onda se movendo através de uma camada estável da atmosfera.

Turbulência em voos

Ondas de gravidade podem produzir fenômenos atmosféricos com potencial para gerar impactos significativos, principalmente na aviação. Quando em terreno montanhoso, as ondas de gravidade podem produzir turbulência de céu claro ou Clear Air Turbulence (CAT), em Inglês.

Ondas de gravidade são uma das principais fontes de turbulência na aviação, sugere um novo estudo. A descoberta explica por que os aviões balançam em céu aparentemente claro. A previsão dessas ondas pode permitir que os aviões se desviem delas.

“Assim como as ondas no oceano, quando se aproximam de uma praia, elas podem se amplificar e quebrar. As ondas de gravidade na atmosfera podem se amplificar e quebrar, e estamos descobrindo agora que isso é um dos principais contribuintes para a turbulência na atmosfera que afeta as aeronaves”, explica disse Robert Sharman, meteorologista do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR), que conduziu o estudo.

Sharman e seus colegas queriam entender quando e onde essas ondas ocorrem. Eles coletaram dados de gravadores de voo de aeronaves comerciais, que registram a localização, duração e intensidade da turbulência.

Em seguida, eles recriaram esses eventos turbulentos usando uma simulação de computador que modela a atmosfera. Eles descobriram que as ondas de gravidade “quebram” nas superfícies dos aviões, assim como as ondas do mar quebrando na praia, causando grande parte da turbulência que ocorre do nada no céu claro. No passado, os pilotos pensavam que os aviões subindo e descendo na corrente de jato causavam tal turbulência.

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