Setembro marca no clima o começo da primavera e traz maior colorido para as cidades brasileiras com a floração das árvores, como os ipês. O tempo ainda é muito seco com dias de muito calor no Brasil Central enquanto mais ao Sul do Brasil há maior alternância de dias de temperatura baixa e alguns de calor com aumento da frequência de temporais | VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL/EBC

Os sinais já são visíveis. As árvores, como os ipês, já colorem a paisagem, os pássaros cantam mais cedo e o sol se põe cada vez mais tarde. O inverno de 2022 começa a ficar para trás e a estação das flores se aproxima rapidamente com mudanças a cada dia perceptíveis na natureza e na atmosfera.

O inverno astronômico termina apenas no dia 22 de setembro às 22h04, mas o chamado período da primavera meteorológica tem início em 1º de setembro porque compreende o trimestre que vai de setembro a novembro. Setembro é, assim, um mês que marca a transição para a primavera e traz junto um aumento da temperatura.

Em Porto Alegre, por exemplo, em agosto a média da temperatura mínima é de 11,6ºC e a máxima média histórica é de 21,8ºC. Setembro, por sua vez, tem média mínima na capital gaúcha de 13,3ºC e uma máxima média de 22,8ºC, com base nas normais climatológicas da série 1991-2020. A precipitação média mensal é de 147,8 mm.

Na cidade de São Paulo, enquanto agosto tem uma média mínima histórica de 13,3ºC, o mês de setembro tem mínima média de 14,9ºC. A média das máximas também se eleva, de 24,5ºC para 25,2ºC. A precipitação média mensal, conforme a série histórica 1991-2020, é de 83,3 mm, bem acima dos 32,3 mm de agosto, o mês mais seco do ano na climatologia da capital paulista.

Setembro, historicamente, é ainda um mês da estação seca no Centro do Brasil. Com isso, as médias de precipitação ainda são baixas na maior parte do Centro-Oeste e do Sudeste do país. Há muitos dias de calor intenso e alguns até extremo, particularmente no Centro-Oeste, com muitas máximas acima de 40ºC, sobretudo no Mato Grosso.

Com mais calor e o tempo ainda muito seco, o número de queimadas costuma ser muito alto no Brasil Central. O mês de maior incidência de fogo no Cerrado é justamente setembro com uma média histórica de 22.735 focos de calor, superior a de agosto de 14.037 no bioma e inferior a de outubro de 12.330.

No Centro do Brasil, setembro costuma marcar, especialmente durante a segunda metade do mês, o retorno gradual da chuva. Assim, pela climatologia, o auge da estação seca e quente na região se dá na segunda metade de agosto e na primeira de setembro enquanto na segunda quinzena de setembro começa a se observar um aumento dos índices de precipitação.

Já mais ao Sul do território nacional, particularmente no Rio Grande do Sul, setembro costuma na climatologia histórica altos volumes de chuva com muitos episódios passados de cheias de rios e enchentes. Tanto que, no caso do estado gaúcho, há o folclore da enchente de São Miguel, na segunda metade do mês.

Chuva no Sul do Brasil

A previsão da MetSul Meteorologia é de chuva abaixo ou perto da média na maior parte do Sul do Brasil neste mês de setembro. Na maioria das áreas não se espera um mês muito chuvoso, entretanto não se projeta um mês muito seco.

As médias de precipitação histórica do mês no Rio Grande do Sul e Santa Catarina são altas, logo um desvio negativo na precipitação não se traduz em um mês necessariamente seco. Pontos isolados mais a Oeste da região, por sistemas convectivos, e mais a Leste do Sul do país, por sistemas de mesoescala como frentes frias e baixas pressões, podem ter acumulados localmente mais altos.

Projeção de anomalia de chuva para o mês de setembro do modelo climático norte-americano CFS | METSUL

Os dados indicam que a chuva no Sul do país deverá ocorrer em setembro com intervalos regulares tradicionais, de 5 a 7 dias, portanto não são esperados longos períodos sem chuva que pudesse caracterizar uma estiagem. Tais intervalos devem proporcionar ao produtor rural “janelas” para que possa efetuar o preparo do solo e começar o plantio da safra de verão 2022/2023. A umidade no solo está em níveis médios a bons na maior parte da Região Sul com as precipitações de inverno.

Desta forma, não se visualiza cenário de anos anteriores de excesso de chuva que poderia retardar o plantio na maioria das áreas, em especial considerando a La Niña e a fase positiva da Oscilação Antártica que desfavorecem alta frequência de chuva volumosa no Sul do Brasil. Grande parte do mês deve se dar ainda sem fases da Oscilação de Madden-Julian (OMJ) que favoreçam chuva mais expressiva.

Chuva retorna ao Brasil Central em setembro

A primeira metade de setembro será muito seca e quente no Brasil Central com dias de calor excessivo no Centro-Oeste, no Triângulo Mineiro e no interior de São Paulo. Na cidade de São Paulo, a atuação de frente fria e de outra massa de ar frio proporciona dias com precipitação na primeira semana do mês. Já a segunda semana de setembro deve ser muito seca e com altos índices de poluição na capital paulista.

Projeção do modelo europeu de anomalia de chuva para as quatro semanas de setembro | ECMWF

Em regra, a chuva começa a retornar ao Brasil Central na segunda quinzena de setembro. Neste ano, não deve ser diferente. Os modelos, contudo, divergem quanto ao cenário para a segunda metade do mês na região. Enquanto o modelo climático norte-americano CFS projeta tempo ainda mais seco na segunda quinzena, o modelo europeu projeta períodos com chuva para os estados do Centro-Oeste na terceira e quarta semanas de setembro.

Temperatura acima da média na maioria dos estados

De acordo com a análise da MetSul Meteorologia, setembro em 2022 deve ser marcado por temperatura acima da média histórica em grande parte do Centro-Sul do Brasil. Os maiores desvios de precipitação devem se dar no Centro-Oeste e em parte do Sudeste. Áreas mais ao Sul do país, no Rio Grande do Sul, e no Leste da Região Sudeste, próximas da costa, devem ter mais dias de temperatura baixa ou amena com maior proximidade dos valores médios históricos.

Projeção de anomalia de temperatura em 850 hPa para setembro com pêntadas de cinco dias a partir dos dados do modelo climático norte-americano CFS | METSUL

A MetSul não espera um elevado número de dias muito frio agora em setembro deste ano no Sul do país, embora sejam previstos dias de temperatura baixa e com formação de geada, como já na primeira semana do mês. O Pacífico sob resfriamento da La Niña agrava o risco de que ocorram episódios de geada tardia no fim do inverno.

É importante enfatizar que dias quentes, alguns de calor intenso, são muito comuns no mês de setembro e já houve ano em que a temperatura atingiu marcas perto dos 40ºC na Grande Porto Alegre. Como na maior parte do Sudeste e no Centro-Oeste a tendência é de temperatura acima da média agora em setembro, a perspectiva é de muitos dias de calor e vários de temperatura significativamente alta, com exceção de pontos mais perto da costa em São Paulo e Rio de Janeiro, onde haverá maior alternância de períodos quentes com de temperatura mais baixa com instabilidade.

Aumento de temporais

Setembro, como mês da primavera climática, tende a ter um aumento dos episódios de tempo severo no Sul do Brasil. O risco é principalmente agravado com incursões tardias de ar frio à medida que a presença de ar quente se torna mais comum sobre o Sul do país com o fim do inverno. O encontro de massas de ar gera as tempestades severas, sobretudo na chegada de frentes frias.

Em anos de Pacífico frio e La Niña, como é o caso de 2022, o risco de granizo é aumentado a partir de dados históricos analisados pela MetSul que identificou a tendência. O mesmo ocorre na primavera com vendavais que, quando ocorrem, tendem a ser mais intensos, a despeito de não necessariamente serem mais frequentes.

Alguns dos piores e mais destrutivos tornados no Sul do Brasil durante meses da primavera ocorreram justamente em anos em que o Pacífico Equatorial estava sob La Niña ou tinha temperatura oceânica abaixo da média (neutralidade negativa), mesmo sem configuração do fenômeno.

Por fim, setembro é um mês com maior propensão para a formação de ciclones extratropicais no Atlântico Sul, nas latitudes médias do continente, especialmente nos litorais da Argentina e Uruguai, e às vezes na costa do Sul do Brasil, uma vez que se torna mais frequente o encontro de massas de ar quente e frio na região. Episódios de frio mais intenso serão muito dependentes da formação de ciclones mais intensos em setembro no Atlântico Sul.