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Clima em maio costuma ser marcado por um aumento significativo de noites frias e com formação de nevoeiro e neblina à medida que se aproxima o inverno. Cidades da Serra, como São Francisco de Paula (foto) registram dias mais úmido e uma maior frequência de geada em incursões de ar frio. | FERNANDO OLIVEIRA

Maio é o terceiro e mais frio mês do outono climático (trimestre março a maio) em que as características climatológicas já se aproximam mais do inverno, especialmente na segunda metade do mês, diferentemente do primeiro mês da estação (março) em que o clima é mais próximo do observado no verão.

Com isso, aumentam os dias de frio ou amenos e ficam menos frequentes os episódios de calor. Em Porto Alegre, conforte as normais 1991-2020, a temperatura mínima média mensal em maio é de 13,6ºC, bem inferior à mínima média de abril de 16,8ºC, o que decorre do número maior de noites frias e de temperatura mais baixa. Já a média máxima mensal é de 22,6ºC, bastante inferior à média máxima de 26,4ºC de abril com o predomínio de tardes amenas.

No Sudeste do Brasil, a cidade de São Paulo tem temperatura mínima média mensal em maio de 14,7ºC. A temperatura média máxima na capital paulista com base na estação do Mirante de Santana é de 23,4ºC.

A possibilidade de mínimas muito baixas e de geada cresce, tradicionalmente, em maio. Eventos de ar muito gelado de trajetória continental que geram queda de temperatura acentuada, e mínimas muito baixas no Sul, no Centro-Oeste, parte do Sudeste e no Norte do Brasil (friagem) não chegam a ser raros.

Assim, algumas vezes ocorrem eventos de geada mais ampla no Sul e em parte do Centro-Oeste e do Sudeste com danos ao milho segunda safra. Nestes eventos de frio mais intenso, a geada alcança um maior número de municípios de menor altitude e latitudes mais baixas, logo pontos mais ao Norte.

Já a neve é pouco frequente em maio, embora tenha ocorrido algumas vezes no passado, como no final do mês em 1979 no famoso evento em que nevou durante um jogo do Grêmio em Bento Gonçalves. No ano passado, quando da tempestade subtropical Yakecan (ciclone) houve neve com acumulação no Sul do país.

Há um incremento ainda no número de dias de nevoeiro e neblina e as estatísticas mostram que o mês é um dos que mais têm registro de cerração entre a madrugada e de manhã.  Em alguns dias, o nevoeiro não raro perdura até o meio ou final da manhã, e em algumas vezes pode se dissipar apenas durante a tarde.

Maio, historicamente, não é um mês de muita chuva e costumava ser um dos períodos do ano de menor precipitação em Porto Alegre. No passado recente, entretanto, observou-se que os meses de maior passaram a ficar mais chuvosos. A precipitação média mensal na capital gaúcha na série 1991-2020 foi de 112,8 mm contra 94,6 mm na série 1961-1990.

No Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil, à medida que se aproxima o inverno que marca a estação seca no Brasil Central, há uma redução da chuva. A cidade de São Paulo tem em maio média de precipitação de 66,3 mm, muito inferior à de janeiro que marca o auge da estação chuvosa que é de 292,1 mm. Em Belo Horizonte, a média de chuva de maio é de apenas 28,1 mm contra 330,9 mm em janeiro. Em Brasília, maio tem média de precipitação de 26,9 mm ao passo que passa de 200 mm em dezembro e janeiro.

El Niño perto

De acordo com o último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de +0,3ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada oficialmente para definir se há um El Niño na forma clássica e de impacto global. O valor está na faixa de neutralidade de -0,4ºC a +0,4ºC.

Por outro lado, a região Niño 1+2, perto das costas do Equador e do Peru, estava com anomalia de +2,5ºC, em nível de El Niño costeiro forte a muito forte. O El Niño costeiro, é ​ evento oceânico-atmosférico que consiste no aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico equatorial nas proximidades das costas sul-americanas, que implica que afeta o clima de países como Peru, Equador e às vezes no Chile. É um fenômeno local que não afeta todo o clima mundial. É diferente do El Niño na sua forma clássica ou canônica, que é fenômeno climático global de maior dimensão, esperado para os próximos meses.

Como a anomalia da temperatura da superfície do mar no Pacífico Central já estava positiva em 0,3ºC e, abril e o aquecimento das águas na região é crescente, é muito provável que em maio a área usada para definir o fenômeno ENOS atinja pela primeira vez patamar de El Niño, ou seja, anomalia da temperatura da superfície do mar de +0,5ºC ou mais. Um evento de El Niño, porém, só deve ser declarado em junho ou julho, pela estimativa da MetSul.

O que que esperar da chuva em maio

Modelos de clima, em geral, indicam um maio de chuva abaixo ou perto da média na maior parte do Sul do Brasil. O mapa abaixo mostra a projeção de anomalia de chuva para o Centro-Sul do país em maio do modelo NMME (North American Multi-Model Ensemble), que reúne modelos de clima norte-americanos e canadenses.

A MetSul Meteorologia acredita que a maior parte do Sul do Brasil terá chuva perto da média com algumas áreas abaixo e outras acima em grande variabilidade. A nossa crença em chuva acima da média em parte da região se baseia na ideia que já na primeira semana do mês se espera um episódio de instabilidade que deve trazer altos volumes no Sul do país, especialmente entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com potencial de algumas cidades terem acumulados perto ou até ao redor da média histórica de chuva ainda nos primeiros dias do mês.

Superado o evento de chuva do começo do mês, a maio parte do restante de maio no Sul do Brasil deve alternar sequências de dias de sol com alguns períodos de instabilidade. Na segunda quinzena do mês, há possibilidade de uma segunda frente fria com chuva mais ampla. Os mapas abaixo mostram a projeção de anomalia de chuva para as quatro semanas de maio.

No Sudeste do Brasil, a chuva deve ficar perto ou abaixo da média na maior parte do interior da região. Áreas mais próximas da costa no Sul e no Leste de São Paulo, o Rio de Janeiro, o Espírito Santo e parte de Minas Gerais (mais o Sul e o Leste do estado) podem ter precipitação mais perto ou acima da média.

E a temperatura?

Não se desenha um mês de maio nem muito quente e tampouco muito frio. Haverá dias de frio, e alguns até gelados, mas na maior parte do mês predominam dias pouco frios ou agradáveis. O mapa abaixo mostra a projeção de anomalia de temperatura para o Centro-Sul do Brasil em maio do modelo NMME (North American Multi-Model Ensemble), que reúne modelos de clima norte-americanos e canadenses.

No começo do mês ingressa uma massa de ar frio, mas que virá com umidade. Com isso, a temperatura estará mais baixa nas máximas da tarde que nas mínimas da noite. No final da primeira semana e em parte da segunda semana de maio, com ingresso de ar mais seco, o resfriamento noturno será mais acentuado. Será quando as mínimas cairão e devem ser mais baixas com prováveis marcas negativas e formação de geada.

Os episódios de frio mais fortes devem ocorrer na segunda metade de maio, como é o normal na climatologia histórica. Há a possibilidade de uma a duas incursões de ar frio de maior força no Sul do Brasil na segunda quinzena de maio, provocando madrugadas muito frias e geada em maior número de municípios que pode ter efeito no milho safrinha. Assim, a segunda quinzena terá maior número de dias de temperatura baixa e a perspectiva de madrugadas mais geladas. Os mapas a seguir mostram a projeção de anomalia de temperatura para as quatro semanas de maio do modelo europeu.

Haverá dias mais quentes em estados como o Mato Grosso, Goiás, no interior de São Paulo e Minas Gerais, mas a projeção do modelo europeu semanal nos parece mais próxima da realidade do que o prognóstico de maio do modelo da América do Norte NMME que aponta temperatura muitíssimo acima da média no Brasil Central, em nosso entendimento um viés exagerado na anomalia de temperatura.

Ar mais frio até deve chegar ao Centro-Oeste e o Sudeste em um ou dois episódios, mas com atuação de curta duração, diferentemente do Sul do país em que os dias de frio serão bem mais numerosos em comparação. Em áreas perto da costa do Sudeste do Brasil, as temperatura tendem a ser mais baixas por instabilidade mais frequente e influência de ar frio oceânico.