Anúncios

Um navio é atingido pela forte ressaca do mar durante uma tempestade em Valparaíso, no Chile, em evento de rio atmosférico em julho de 2010. O Chile está habituado a este tipo de sistema vindo do Pacífico Sul que traz chuva por dias seguidos, muito vento, neve e agitação marítima intensa na costa. | CRISTIAN OPAZO/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Chile está em alerta nesta sexta-feira por um rio atmosférico, estimado entre categorias 3 e 4 (5 é o máxima da escala) que deve trazer muita chuva e grandes quantidades de neve nas montanhas da Cordilheira dos Andes. O Serviço Nacional de Prevenção e Resposta a Desastres (Senapred), do Chile, ativou o Alerta Prévio Preventivo para 10 regiões do país que serão afetadas até domingo pelo fenômeno meteorológico conhecido como ‘rio atmosférico’.

METSUL

Deve chover em muitas áreas do Centro para o Sul chileno como consequência de um canal de umidade gerado por um centro de baixa pressão no Pacífico Sul e que se expandirá para Norte com o deslocamento de uma frente fria. As precipitações em algumas áreas podem ultrapassar os 200 mm.

Será o primeiro grande temporal de chuva, vento, neve e agitação marítima com ressaca que irá castigar os chilenos neste ano de 2023. A sua abrangência, contudo, ainda é incerta. O Sul do Chile é a região que mais sofrerá os efeitos da instabilidade, de acordo com todos os modelos analisados, mas no Centro do país as consequências são incertas.

Isso porque modelos meteorológicos dos centros internacionais discrepam e muito em seus prognósticos. Divergem muito, por exemplo, sobre quanto deve chover na área metropolitana de Santiago. Algumas simulações apontam chuva excessiva e outras pouca água. Chuvas com altos volumes costumam trazer muitos transtornos em Santiago.

O sistema frontal que vai avançar pelo Chile entre hoje e o domingo pode gerar chuvas intensas no curto prazo, que seriam percebidas principalmente entre as cidades de Valparaíso e Puerto Montt, afetando principalmente a zona costeira, especialmente os setores localizados na Região do Maule, como Pelluhue, Constitución e Curanipe.

A chuva deve vir acompanhada por fortes a intensas rajadas de vento. No mar, ondas altas são esperadas com ressaca na orla. Já nas altas montanhas, quantidades significativas de neve podem cair nos Andes, o que pode bloquear passagens internacionais nos Andes entre Chile e Argentina.

METSUL

O Serviço Nacional de Meteorologia da Argentina emitiu avisos amarelo e laranja para a área da Cordilheira do Andes e adjacências no Cuyo e o Sul do país em que adverte para chuva com altos volumes e vento forte. Não há aviso do SMN por fortes nevadas, embora a MetSul antecipe grande quantidade de neve em alta montanha (cotas mais altas).

O que é um rio atmosférico

Os rios atmosféricos são regiões longas e concentradas na atmosfera que transportam ar úmido dos trópicos para latitudes mais altas. O ar úmido, combinado com ventos de alta velocidade, produz chuva pesada e neve ao atingir o continente, especialmente em terrenos montanhosos. Esses eventos extremos de precipitação podem levar a inundações repentinas, deslizamentos de terra e danos catastróficos à vida e à propriedade. Quando os rios atmosféricos passam sobre a terra, eles podem causar condições semelhantes a de ciclones intensos com chuvas torrenciais, vento muito forte e alturas de ondas significativas na costa.

Embora os rios atmosféricos tenham muitas formas e tamanhos, aqueles que contêm as maiores quantidades de vapor de água e os ventos mais fortes podem criar chuvas e inundações extremas, muitas vezes parando sobre bacias hidrográficas vulneráveis a inundações.

Esses eventos podem interromper estradas, induzir deslizamentos de terra e causar danos catastróficos à vida e à propriedade. Um exemplo bem conhecido é o “Pineapple Express”, um forte rio atmosférico capaz de trazer umidade dos trópicos próximos ao Havaí para a costa Oeste dos Estados Unidos. Uma sucessão de rios atmosféricos trouxe neve absurda em acumulação e chuvas extremas para a Califórnia neste ano, encerrando anos de seca excepcional.

Entretanto, nem todos os rios atmosféricos causam danos. A maioria deles é de sistemas fracos que geralmente fornecem chuva ou neve benéficas que são cruciais para o abastecimento de água. Os rios atmosféricos são uma característica fundamental no ciclo global da água e estão intimamente ligados ao abastecimento de água e aos riscos de inundação.

CONICET

A escala de intensidade desenvolvida na Califórnia classifica esses rios atmosféricos de AR-1 a AR-5 (sendo o AR-5 o mais intenso) com base em quanto tempo duram e quanta umidade transportam. A cadeia de rios atmosféricos que atingiu a Califórnia em dezembro e janeiro últimos, por exemplo, às vezes chegava a AR-4. No início de 2022, o rio atmosférico que contribuiu para inundações desastrosas no Paquistão era um AR-5, a classificação de rio atmosférico mais prejudicial e mais intensa.

A escala ajuda as comunidades a saber se um rio atmosférico trará benefícios ou causará caos: as tempestades podem trazer chuva ou neve muito necessárias, mas se forem muito intensas, podem causar inundações, deslizamentos de terra e falta de energia, como aconteceu na Califórnia e no Paquistão.  Os rios atmosféricos mais severos podem causar danos de centenas de milhões de dólares em dias e vítimas.

Os rios atmosféricos são partes naturais de nossos sistemas climáticos globais e podem começar a mudar de frequência devido às mudanças climáticas. No ano passado, a NOAA usou dados gerados por modelos climáticos regionais para determinar que a mudança climática provavelmente alterará os rios atmosféricos de maneira a dificultar o gerenciamento da água.

Os pesquisadores descobriram que os modelos previam um aumento na precipitação de baixa altitude, mas menos precipitação em alta altitude. Estudos como esses, que modelam possíveis mudanças nos eventos atmosféricos dos rios são ferramentas importantes para os tomadores de decisão em áreas onde o abastecimento de água já pode ser limitado, como são os casos de Chile e Califórnia.

Haverá efeito no Sul do Brasil?

Não! O rio atmosférico que atingirá o Chile entre hoje e o fim de semana não vai chegar ao Sul do Brasil. A previsão para hoje, sábado e o domingo é de predomínio de sol no Rio Grande do Sul. No começo da semana, o tempo deve começar a mudar com o avanço da frente fria e aí vai se organizar um canal de umidade vindo da Amazônia para o Sul do país.

Por isso, a previsão é que a próxima semana seja de tempo muito instável nos estados do Sul com tempo chuvoso por dias seguidos e que deve resultar em volumes altos em algumas áreas principalmente do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A chuva virá com o ingresso de ar mais frio que vai trazer máximas baixas à tarde.