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Um casal dirige uma motocicleta Vespa passando por um termômetro de rua marcando 44ºC ontem em Sevilha, mas medição de termômetro de rua não oficial e é influenciada pelo calor das construções e o asfalto ao redor. A temperatura máxima oficial em estação meteorológica foi de 38,8ºC, a mais alta já observada em abril na Espanha peninsular. | CRISTINA QUICLER/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Uma brutal e insólita onda de calor em abril segue dizimando recordes históricos de temperatura alta para esta época do ano na península ibérica. A Espanha continental registrou na quinta-feira um recorde absoluto de temperatura para o mês de abril com 38,8ºC em Córdoba, segundo dados provisórios publicados nesta sexta-feira pela agência meteorológica espanhola (Aemet).

Esta temperatura, registrada na estação meteorológica do aeroporto desta cidade da Andaluzia, “seria (…) a temperatura mais alta na Espanha continental para o mês de abril”, indicou a Aemet em suas redes sociais. O recorde anterior para a Espanha continental datava de 2011 e foi registrado em Elche com 38,6ºC. Esses “dados provisórios” ainda devem ser “confirmados”, o que pode levar vários dias, disse a organização.

Este recorde não é, no entanto, um recorde absoluto para toda a Espanha, tendo o máximo histórico sido registado em 2013 no arquipélago das Canárias, muito mais ao Sul da costa Noroeste de África, esclareceu o Aemet. Este recorde foi estabelecido em 40,2ºC.

A Espanha vive esta semana, tal como o vizinho Portugal, uma onda de calor excepcionalmente precoce provocada por uma massa de ar quente e seco proveniente do Norte de África. As temperaturas devem cair a partir do fim de semana.

Portugal não é exceção e sofre com a onda de calor. O país também registrou na quinta-feira um recorde para um mês de abril em pelo menos 78 anos, a 36,9ºC, segundo dados divulgados sexta-feira pelo instituto nacional de meteorologia (IPMA).

Ontem, de acordo com dados do IPMA, registaram-se novos recordes de temperatura máxima do ar para o mês de abril em 61 % das estações do país. Em 11 estações os recordes alcançados no dia 26 foram ultrapassados no dia 27. O valor máximo extremo para o mês de abril de 36ºC no Pinhão, registado em 1945, foi ultrapassado no dia 27 em sete estações: 36,9º C em Mora; 36,7°C em Amareleja; 36,5°C em Neves Corvo; 36,4ºC em Alvega; 36,3°C em Alcácer do Sal; 36,2°C em Alvalade/Sado; e 36,1°C em Portel.

Conforme os cientistas, ondas de calor repetidas são um marcador inequívoco do aquecimento global e espera-se que essas ondas de calor se multipliquem, aumentem e se intensifiquem. Além disso, de acordo com o Instituto Meteorológico Português, 10,2% do território continental já era afetado por uma seca “severa” no final de março, muito antes do começo do verão.

Episódios de temperaturas excepcionalmente altas se multiplicaram nos últimos anos na Espanha, um dos países europeus na linha de frente das mudanças climáticas, com quase 75% de seu território em risco de desertificação, segundo a ONU.

O país experimentou, assim, seu ano mais quente já registrado no ano passado, com várias ondas de calor a partir de maio, segundo a Aemet. Segundo um estudo da Universidade Politécnica da Catalunha publicado na terça-feira, o número de dias do ano marcados por temperaturas de verão na Espanha subiu de 90 para 145 entre 1971 e 2022.

Favorável aos incêndios, esta onda de calor levou o governo a lançar na sexta-feira a campanha de monitorização dos incêndios florestais, um mês e meio mais cedo do que o habitual. Uma decisão tomada, porque as previsões meteorológicas indicam que “a Espanha vai viver nas próximas semanas um episódio de temperaturas elevadas invulgares para esta época do ano”, explicou o Ministério do Interior em comunicado de imprensa.

Concretamente, a partir de sexta-feira, as autoridades vão “fazer uma monitorização contínua dos incêndios florestais” em todo o país de forma a antecipar as necessidades de reforços dos bombeiros locais e prevenir a propagação dos incêndios, acrescentou o ministério. Grande parte do país foi colocada, segundo a Aemet, em alerta de risco “muito alto” ou “extremo” de incêndio.

A Espanha já registra recorde de áreas queimadas desde o início do ano, com mais de 54.000 hectares contra 17.126 hectares no mesmo período de 2022, ano recorde de incêndios, segundo o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (Effis).