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Lembram da tempestade solar de abril que foi uma das maiores na Terra neste século. Ela foi tão forte que as auroras boreais puderam ser vistas em várias capitais europeias, inclusive em Berlim, e chegaram tão ao Sul no Hemisfério Norte como a fronteira dos Estados Unidos com o México, na californiana cidade de San Diego.

Auroras em bolhas em 23 de abril espantaram observadores de tempo espacial na Polônia durante tempestade solar severa na Terra | KAMILA MAZURKIEWICZ OSIAK/SPACE WEATHER

Aurora (boreal no Hemisfério Norte e austral no Hemisfério Sul) é um fenômeno por demais conhecido pelas pessoas e os cientistas, mas este evento de abril trouxe algo de diferente e que espantou os especialistas: auroras em formas de bolas ou bolhas (aurora blobs). O que seria isso?

Então, mistério resolvido. Os europeus passaram semanas tentando entender o que aconteceu em 23 de abril de 2023. Todos sabiam que uma ejeção de massa coronal (plasma) do sol estava chegando, então seu impacto e a tempestade solar não foi uma surpresa. Os fotógrafos já estavam em campo ao pôr do sol esperando para gravar e fotografar as auroras. E, de fato, auroras apareceram, mas eram muito estranhas.

“Nunca tinha visto nada parecido”, diz Heiko Ulbricht, observador de longa data da aurora, da Saxônia, Alemanha. “As auroras começaram a se separar, formando manchas e bolhas individuais que subiam até o zênite”. “Isso literalmente me tirou o fôlego”, diz ele. “Meu pulso ainda estava acelerado horas depois”, conta. As mesmas bolhas foram avistadas na França e na Polônia, e na Dinamarca foram flagradas piscando como uma luz estroboscópica de discoteca.


Auroras comuns não agem assim. E, por isso, o espanto dos observadores.

E, de fato, “essas não eram auroras comuns”, confirma o físico espacial Toshi Nishimura, da Universidade de Boston. “Elas são chamadas de ‘auroras de prótons’ e vêm do sistema de corrente do anel da Terra”, conforme análise publicada pelo cientista Tony Phillips da famosa página Space Weather.

A maioria das pessoas não percebe que a Terra tem anéis. Ao contrário dos anéis de Saturno, que são grandes discos de gelo brilhante, os anéis da Terra são invisíveis a olho nu. Eles são feitos de eletricidade – um circuito em forma de rosquinha carregando milhões de amperes ao redor do nosso planeta, explica. A corrente do anel roça as órbitas dos satélites geossíncronos e desempenha papel enorme na determinação da gravidade das tempestades geomagnéticas.

“Às vezes, durante fortes tempestades geomagnéticas, prótons caem do sistema de anéis, causando uma chuva secundária de elétrons, que atingem a atmosfera e produzem auroras. Os satélites em órbita da Terra realmente viram esses prótons descendo. As auroras comuns, por outro lado, são causadas por partículas de partes mais distantes da magnetosfera da Terra e não têm nada a ver com a corrente do anel da Terra.

Mistério resolvido? Não inteiramente. “Ainda não sabemos por que as auroras de prótons parecem se despedaçar de maneira tão dramática”, diz Nishimura. “Essa é uma questão para pesquisas futuras”, afirma. “Foi muito emocionante assistir”, lembra. “Eu definitivamente gostaria de vê-las novamente”.

E muito possivelmente terá chance. O atual ciclo solar 25 escala para o seu máxima entre 2024 e 2025, logo haverá novas fortes tempestades solares. Tempestades futuras certamente derrubarão mais prótons do sistema de corrente do anel, antecipa Phillips.

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