Soldados, bombeiros e moradores buscam vítimas um dia após deslizamento de terra na comunidade Jardim Monte Verde, bairro do Ibura, em Recife, Pernambuco. | BRENDA ALCANTARA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O tamanho do desastre que se abateu sobre o estado de Pernambuco (veja imagens e os volumes de chuva) não para de aumentar. O número de mortes causadas pela chuva extrema subiu para 84, conforme o último balanço oficial divulgado no começo da noite do domingo. O desastre fez o governo de Pernambuco decretar situação de emergência. Das 84 vítimas confirmadas até agora, 79 pessoas perderam a vida apenas na chuva entre o final da sexta e o começo do sábado.

Socorristas e voluntários com apoio de militares do Exército continuam as buscas incessante por desaparecidos. O epicentro da tragédia foi a comunidade de Jardim Monteverde, uma área íngreme com casas precárias na divisa entre Recife e o município de Jaboatão dos Guararapes, onde um deslizamento de terra soterrou casas inteiras no sábado e causou a morte de 19 pessoas.

Desde a tarde de sábado, Flávio José da Silva procurava seu padrasto Gilvan nos escombros do que costumava ser sua casa. Pouco depois de a barreira vir abaixo, ele conseguiu falar com o parente. “Ele nos disse ‘estou aqui embaixo da terra’. Esperamos encontrá-lo vivo”, disse à AFP, apontando para a montanha de detritos misturados com lama.

Em Jardim Monteverde, socorristas, auxiliados por voluntários, retiraram escombros em meio à grande destruição e à dor dos vizinhos. Onze dos mortos naquele deslizamento de terra eram parentes de Luiz Estevão Aguiar. “Minha irmã morreu, meu cunhado, 11 pessoas da minha família morreram, foi difícil. Foi muito difícil. Eu não esperava isso”, disse o idoso, que mora em outro município.

Atrás dele, uma corrente humana, com os pés afundados na lama, passava baldes de entulho morro abaixo. O balanço anterior colocava em 56 o número de desaparecidos por deslizamentos de terra, por desabamento de casas ou pelas furiosas correntes de água e lama que devastaram tudo em seu caminho no Recife e em uma dezena de municípios, entre eles Olinda, que decretou emergência. Nas últimas horas, as autoridades disseram que o número de pessoas que estão sendo procuradas “não está fechado”.

“Ainda não temos esse número exato, mas ainda há relatos de vítimas dos acidentes causados pelas chuvas que não foram localizadas. As buscas vão continuar até identificarmos todos os desaparecidos”, disse o governador de Pernambuco, Paulo Câmara em coletiva de imprensa.

A dimensão do desastre, de proporções históricas em Pernambuco, se reflete nas capas de hoje dos jornais de Pernambuco que estampam manchetes como “devastador”. A chuva extrema foi anunciada por dias pela Meteorologia que alertou reiteradamente para o cenário de perigo extremo pelos altíssimos volumes de chuva que em uma semana passaram de 500 mm e apenas entre a noite de sexta e a manhã de sábado alcançou 250 mm.

A devastação também deixou quase 4.000 desabrigados ou desalojados e grandes danos à infraestrutura de vários municípios. As imagens do fim de semana recordaram o drama ocorrido em fevereiro em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, onde 233 pessoas morreram devido a chuvas torrenciais e deslizamentos de terra. Tragédias como essas ocorrem, além de fortes chuvas, devido a outros fatores, como o tipo de topografia e a existência de grandes bairros de casas precárias, muitas delas construídas ilegalmente, nas áreas de risco íngremes.

Somente na cidade do Recife 2.464 pessoas tiveram que ser levadas a abrigos públicos, alguns improvisados em escolas, informou a Folha de São Paulo. Houve 48 ocorrências críticas na cidade com 23 bairros atingidos, sendo 43 deslizamentos de barreiras, segundo a administração do município. Na capital, 33 corpos resgatados aguardam identificação do Instituto de Medicina Legal (IML). Bairros de cidades do Grande Recife estão sem energia elétrica e muitas áreas seguem alagadas.