Uma imensa nuvem de poeira gerada por tempestades de vento na Patagônia vai chegar ao litoral do Sul do Brasil nas próximas horas. Imagens de satélite do final da tarde desta segunda mostravam a poeira sobre o Oceano Atlântico na costa da província argentina de Buenos Aires e na foz do Rio da Prata.

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Na imagem, observa-se a nuvem de poeira pela sua cor mais marrom e o aspecto mais leitoso na comparação com as nuvens. O material particulado acompanha o avanço de uma frente fria com ar mais na retaguarda que vai apenas tangenciar e não alcançará o Rio Grande do Sul. Sua tendência de deslocamento é para Nordeste.

Por isso, a previsão é que a poeira permaneça predominantemente sobre o mar ao chegar na altura das águas territoriais do Brasil. Se parte da nuvem de poeira atingir áreas continentais será sobre o Extremo Sul e o Leste gaúcho, mas durante a noite de hoje e a madrugada desta terça, quando as imagens de satélite não permitem sua clara observação,

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Na prática, a nuvem de poeira sequer deve ser percebida pelas pessoas. Como já destacado pela MetSul, esta nuvem de poeira em nada pode ser comparada àquelas que foram vistas no interior de São Paulo e no Centro-Oeste do Brasil.

NOAA

É apenas material particulado em suspensão na atmosfera, assim como ocorre rotineiramente com a poeira do Saara que chega ao Caribe e ao continente europeu. No máximo, o efeito é deixar o céu mais acinzentado e realçar as cores do nascer e do pôr do sol.

O que é notável neste episódio é uma imensa nuvem de poeira da Patagônia avançar pelo Atlântico para Norte e alcançar a costa do Sul do Brasil. Na memória recente da MetSul, a última vez que material particulado do Sul do Argentina visível em satélite chegou em latitudes do Rio Grande do Sul foi na erupção do vulcão Puyué-Cordon Caulle em 2011.

Geralmente, as nuvens de poeira formadas por vento forte na Patagônia são menores e com tendência de deslocamento para Leste e Sudeste.

O que faz desta diferente é o seu enorme tamanho e o deslocamento para latitudes médias do continente, chegando ao Uruguai e nas próximas horas ao litoral do Rio Grande do Sul.

A nuvem de poeira imensa sobre o Atlântico Sul chegou a ser registrada pela câmera a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) na tarde de hoje quando da passagem de sua órbita pelo Atlântico Sul.

Nas imagens de satélite da manhã de hoje, a nuvem gigante de poeira que avança pelo Atlântico Sul tinha uma área de 615 mil quilômetros quadrados e se estendia por uma área de mais de mil quilômetros. Se estendia de Puerto Madryn, no Norte da Patagônia, até Mar del Plata, na costa da província de Buenos Aires. Com o passar das horas, o tamanho da área coberta por poeira diminuiu, embora siga grande.

Como se formou a nuvem de poeira

Esta gigante nuvem de poeira, incomum pela sua enorme dimensão, foi consequência de um temporal de vento descrito por meteorologistas argentinos como “terrível” que atingiu ontem a região da Patagônia, o mais intenso dos últimos anos, com rajadas com força de furacão e que trouxeram muitos danos.

Boletim divulgado pelo Serviço Meteorológico Nacional da Argentina informou que as rajadas de vento durante o domingo alcançaram 163 km/h em Esquel, 142 km/h em Comodoro Rivadavia, 122 km/h em Pueto San Julián, 111 km/h em Bariloche, 111 km/h em Santa Cruz e 87 km/h em Chapelco. Medições não oficiais indicaram rajadas de até 180 km/h.

Um centro de baixa pressão muito aprofundo atuava ao Sul de Magallanes (Chile) e a Terra do Fogo (Argentina), entre a Antártida e o extremo Sul da América do Sul, trazendo valores muito baixos de pressão atmosférica na Patagônia.  Na sequência, passou uma frente fria que foi responsável por causar neve hoje em Ushuaia e que trouxe muito vento. Foi o cenário que levou ao temporal atipicamente intenso de vento no Sul da Argentina.