Os modelos numéricos, em sua saída desta segunda-feira, intensificaram a massa de ar frio prevista para chegar ao Brasil entre os dias 31 de outubro e 1º de novembro. Trata-se de uma incursão de ar frio que impressiona pela intensidade que chegaria ao território brasileiro no começo do mês de novembro.
Os dados indicam uma massa de ar com características de junho e julho em pleno novembro, a menos de um mês do começo do verão climático (trimestre de dezembro a fevereiro). Apesar de muitos anos terem frio tardio na primavera e mesmo geada não ser incomum em novembro em locais de maior altitude do Sul do Brasil, esta incursão de ar frio, pelos dados de hoje, excede a força que normalmente se observa em pulsos de ar frio tardios em novembro.
Tanto que hoje os modelos numéricos indicam para muitas cidades do Centro-Sul do Brasil temperaturas jamais vistas em novembro nas últimas décadas e marcas tão baixas quanto -3ºC a -5ºC para cidades de maior altitude do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sem mencionar a ocorrência de geada em muitos municípios do Sul do país.
Modelos nesta segunda-feira indicavam a possibilidade de mínimas de 5ºC ou menos na maior parte dos municípios gaúchos e até mesmo em pontos da região metropolitana de Porto Alegre na madrugada do dia 2 de novembro. Para se ter ideia de quão incomum é uma temperatura neste patamar, a temperatura mínima média histórica na capital gaúcha em novembro é de 17,2ºC na série histórica 1991-2020.
Conforme a MetSul já antecipou, esta provável massa de ar frio na primeira semana acompanha um padrão atípico que vem se registrando nesta primavera no Sul do país com muitos dias de temperatura baixa ou amena com calor escasso. Porto Alegre, por exemplo, não teve uma tarde sequer com 30ºC nos primeiros 24 dias de outubro, o que é muito raro, mas os próximos dias podem acabar com esta condição.
Este padrão de frequentes incursões de ar frio nesta primavera não surpreende e confirma o que a MetSul Meteorologia vinha antecipando. No dia 23 de setembro, análise publicada pela MetSul destacava que o primeiro mês da primavera teria uma frequência de ingresso de massas de ar frio com muitos dias de temperatura baixa e geada tardia.
Geada tardia e em muitos locais
Modelos numéricos projetam no momento a possibilidade de formação de geada no começo de novembro nos três estados do Sul do Brasil, notadamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Os mapas abaixo mostram as projeções de geada do modelo canadense, disponível ao assinante (assine aqui) na seção de mapas com duas atualizações diárias, para os dias 31 de outubro a 3 de novembro.
Geada mais ampla e forte em alguns locais nesta altura do ano é extremamente preocupante pelo seu alto potencial de danos na agricultura. A colheita do trigo ainda não chegou ao fim e muitas áreas já começaram o plantio da safra de verão. Em alguns municípios, o tempo mais frio das últimas semanas ainda impede o plantio porque a temperatura do solo está muito baixa.
Por que frio tão intenso e tardio?
A explicação está no Pacífico, onde a La Niña se intensificou demais parte mais a Leste do oceano em sua região equatorial, perto dos litorais do Equador e do Peru, com características de La Niña costeira intensa a ponto de atingir anomalias de temperatura da superfície do mar comuns em eventos de Super La Niña costeira.
De acordo com o boletim semanal da NOAA de 17 de outubro, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de -0,8ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada para definir se há El Niño ou La Ninã. O valor está na faixa de fraca intensidade de -0,5ºC a -0,9ºC.
Por outro lado, a chamada região Niño 1+2, perto das costas do Equador e do Peru, que costuma impactar as precipitações mais no verão e a temperatura no Sul do Brasil em qualquer época do ano, apresentava na última semana uma anomalia de -2,0ºC, portanto um valor no patamar de La Niña muito intensa, inclusive de Super La Niña.
Tal área do Pacífico tem grande correlação com a chuva no Sul do Brasil durante os meses do final do final da primavera e do verão com maior probabilidade de estiagem se estiver em território negativo e maior chance de chuva perto ou acima da média se estiver em terreno positivo. Se negativa, tende a favorecer mais incursões frias no Sul do país e tardias na primavera, o que vem se verificando.
Desde a semana de 12 de dezembro de 2007 não se tinha uma anomalia negativa tão grande nas costas do Peru e do Equador, na denominada região Niño 1+2. Em dezembro, em 2007, a anomalia chegou a -2,4ºC. Também, desde outubro de 2007 o Pacífico Equatorial Leste não registrava uma anomalia tão abaixo da média. Em outubro de 2007, as anomalias semanais da região Niño 1+2 foram de -2,3ºC na semana de 3 de outubro, -1,9ºC em 10 de outubro, -2,2ºC em 17 de outubro, -1,8ºC em 24 de outubro e -1,5ºC em 31 de outubro.