Milhares de contêiners caíram de navios e foram parar no fundo do mar | Maerk/Divulgação

O mundo presta atenção hoje no meganavio que encalhou no Canal de Suez, mas há uma história maior. Milhares e milhares de contêiners foram parar no fundo do mar nos últimos meses com mau tempo no Pacífico. 

Antes de mais nada, aquele produto que você encomendou em um site de compras da Ásia e ainda não chegou? Pode estar neste momento a centenas ou milhares de metros de profundidade no leito do Oceano Pacífico. 

Desde o final de novembro de 2020, uma enorme quantidade de contêiners foi parar no fundo do mar com cargas de tênis, aparelhos de televisão, roupas, comida, etc.

Ao todo, de acordo com reportagem da Wired, a princípio 2.980 contêineres caíram de navios cargueiros no Pacífico desde novembro. Houve ao menos seis incidentes separados.

O números é mais do que o dobro do número de contêineres perdidos anualmente entre 2008 e 2019, de acordo com o World Shipping Council.

Clima na origem

As companhias de navegação tendem a culpar principalmente o clima. O Maersk Essen, que perdeu 750 contêineres enquanto navegava da China para Los Angeles em meados de janeiro, “passou por mar agitado durante a travessia do Pacífico Norte”, segundo disse a Maersk em um comunicado à imprensa. 

O Maersk Eindhoven enfrentou uma tempestade em alto mar em meados de fevereiro, o que contribuiu para um apagão em todo o navio. A embarcação perdeu 260 contêineres.

O ONE Apus, com destino ao porto de Long Beach, na Califórnia, vindo do Sul da China, perdeu mais de 1.800 contêineres durante o que a empresa chamou de “ventos fortes e grandes ondas” em novembro. O mercado naval crê que seja uma das maiores perdas da história do setor. 

Earth Null/Arquivo

O Pacífico teve uma série de grandes ciclones nos últimos meses. Houve, inclusive, um megaciclone bomba que quebrou recordes. 

Reaquecimento da economia e um fenômeno pouco conhecido

O problema se agravou pelo aumento do tráfego para os Estados Unidos. As importações de contêineres norte-americanas cresceram 30% em dezembro em comparação com o mesmo mês do ano anterior. 

Por outro lado, isso levou a uma escassez de contêineres, principalmente contêineres vazios presos na América do Norte quando são necessários na Ásia. 

Portanto, é possível que os transportadores colocaram em serviço contêineres mais antigos e usados. Estes equipamentos são mais propensos a ter mecanismos de amarração ou travamento defeituosos.

Além disso, os experts apontam ainda o cansaço e a sobrecarga de equipes de fretamento. Com efeito, não são capazes de embalar e proteger os contêineres como fariam se estivessem bem descansadas.

Um navio de contêiner completo, por exemplo, pode transportar até 24.000 contêineres de seis metros de comprimento empilhados. 

Uma outra causa apontada é um fenômeno chamado de balanço paramétrico, que é favorecido pelos navios estarem com muita carga.

Trata-se de um movimento violento raro, todavia assustador que pode enviar blocos de contêineres para o convés ou para o mar com abrupta oscilação do navio pelas ondas. É algo mais comum de ocorrer com mau tempo no oceano e os navios que transportam contêiners são mais vulneráveis.

Efeitos no Brasil e no seu bolso 

O preço do frete marítimo na rota entre China e Brasil explodiu nos últimos meses. O custo das importações já vinha em alta no atingiu um patamar inédito de US$ 10 mil por TEU (medida padrão usada para contêineres) no começo deste ano. Com isso, produtos como eletroeletrônicos que vêm para o Brasil ficaram ainda mais caros. 

Nesse sentido, há um ano o custo da rota estava na faixa dos US$ 2 mil por TEU.  O encarecimento dos fretes vem se acentuando desde outubro com a retomada global da economia e a maior procura pelos produtos chineses. 

Ao passo que a alta ocorreu também em outras rotas partindo da China, o impacto é global. As viagens da Ásia para Europa e Estados Unidos atingiram valores muito acima da média. 

Por fim, a elevação de preços é descrita por especialistas por problemas em logística dos problemas logísticos e o grande descompasso entre oferta e demanda ocorrido em 2020.