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NOAA

O fenômeno La Niña retornou e, segundo a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos, atua desde o mês de agosto no Oceano Pacífico Equatorial. Os últimos dados de anomalia de temperatura da superfície do mar indicaram desvios de -1,2ºC tanto no Pacífico Equatorial Central (região Niño 3,4) assim como no Pacífico Equatorial Leste (região Niño 1+2), logo dentro do patamar de um evento moderado de La Niña. Há um consenso, aliás, neste momento, dentre a maior parte dos meteorologistas dos Estados Unidos e outros centros internacionais, que o La Niña atual já superou a fase de fraco e está no território de moderada intensidade.

A MetSul Meteorologia antecipa que a tendência é do fenômeno La Niña seguir se intensificando agora no último trimestre do ano, permanecendo no território de moderada intensidade no curto prazo e podendo atingir mesmo o patamar de forte intensidade entre os meses de novembro e dezembro. Com isso, as condições de La Niña persistirão no decorrer do verão e, mais, acreditamos que possam avançar mesmo no outono.

La Niña não é apenas oceânico, mas sim um fenômeno oceânico-atmosférico, ou seja, que ocorre tanto no Pacífico como na atmosfera. E, neste momento, a atmosfera responde ao resfriamento das águas superficiais do Pacífico Equatorial. Observa-se uma Circulação de Walker mais intensa que o normal, o que deve se esperar quando existe um episódio de La Niña em andamento.

O que ocorre? Há forte movimentos ascendentes do ar (convecção) sobre o Pacífico Oeste muito quente, o que explica a razão para a Austrália ter mais chuva com La Niña, e esse ar que ascendeu “viaja” para Leste pela faixa equatorial do Pacífico na parte alta da atmosfera e “desce” (subsidência) sobre as áreas com as águas mais frias no Centro e no Leste do oceano, passando a fazer o movimento inverso na direção Oeste perto da superfície.

Um dos indicadores deste movimento na atmosfera é o chamado Índice de Oscilação Sul, que responde pela sigla SOI em Inglês (Southern Oscillation Index). Este índice é calculado diariamente a partir da diferença de pressão atmosférica em superfície entre o Taiti e Darwin no Pacífico. Valores positivos acompanham La Niña e negativos se dão com La Niña. Hoje, a média da SOI dos últimos 30 dias é de +12,44, logo em patamar típico de La Niña.

O perfil de águas subsuperficiais, abaixo da superfície, mostra que há grande piscina de águas mais frias que deve alcançar a superfície no decorrer dos próximos noventa dias. Isso fará com que o resfriamento em superfície aumente até o final deste ano, portanto intensificando a La Niña.

É por isso que os modelos de clima, em geral, apontam que neste último trimestre do ano se dará uma intensificação do evento de La Niña em curso. A maior parte destas projeções computadorizadas indica que o pico de intensidade do fenômeno se daria entre os meses de novembro e janeiro. E, o mais importante, o evento deste ano atingiria o patamar de forte intensidade.

Convencionou-se, apesar de não existir uma regra consensual, que anomalias médias entre -0,5ºC e -0,9ºC designam um evento fraco. De -1,0ºC a -1,4ºC de moderada intensidade. De -1,5ºC a -1,9ºC de forte intensidade. E abaixo de -2,0ºC um episódio intenso. Muitos modelos climáticos e alguns dos mais importantes estão indicando que o pico deste evento de La Niña poderia ter valores entre -1,5ºC e -2,0ºC, assim na faixa de forte intensidade, e alguns chegam a projetar até anomalia de temperatura da superfície do mar abaixo de -2ºC, por conseguinte em território intenso. Os modelos CFS, da NOAA, e o GEOS 5, da NASA, indicam que o evento de La Niña poderia ter um pico de -2ºC a -2,5ºC, assim no patamar de intenso, entre dezembro e janeiro.

Por sua vez, no campo dos modelos rodados por centros meteorológicos da Europa, as projeções não são muito distintas. O modelo do Centro Meteorológico Europeu aponta a possibilidade de anomalias entre -1,5ºC e -2,0ºC enquanto o do Met Office do Reino Unido sinaliza ao redor de -2,0ºC entre o fim de dezembro e o começo de janeiro.

Assim, não apenas o episódio de La Niña prossegue nos próximos meses como tende a se intensificar e ainda deve atingir forte intensidade com possibilidade até de ser intenso. A maior ou menor intensidade de um evento de La Niña não significa que seus impactos serão mais ou menos intensos, logo não se pode fazer a associação La Niña fraca e estiagem fraca ou La Niña forte e estiagem forte, no caso do Sul do Brasil. O que o aumento da intensidade produz é o incremento da probabilidade dos impactos comuns virem a ocorrer, o que no caso do Sul do Brasil significa um aumento de probabilidade da ocorrência de estiagem.

A MetSul Meteorologia entende que a pergunta quanto aos próximos meses não é se terá ou não estiagem e sim qual será a sua extensão e gravidade. Consideramos como altíssima a probabilidade que o fenômeno La Niña impacte negativamente a safra de verão de 2021 no Sul do Brasil, em particular no Rio Grande do Sul, com perda de produtividade que em algumas áreas poderá ser significativa.

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