O segundo semestre de 2022 começou com o Pacífico Equatorial ainda sob condições de La Niña, fenômeno que foi declarado em agosto do ano passado e foi responsável pela grande quebra da última safra de verão no Sul do Brasil pela forte estiagem e ainda pelos meses de maio e junho muito frios no Rio Grande do Sul, além da chuva extrema no Nordeste do Brasil. No outono, a La Niña foi a mais intensa desde 1950.

Julho teve início com La Niña com intensidade muito fraca no Pacífico Equatorial Central-Leste com anomalia de temperatura da superfície do mar de -0,6ºC, ou seja, no limite inferior da faixa de fraca intensidade que vai de -0,5ºC a -0,9ºC. Já o Pacífico Equatorial Leste, perto da América do Sul, estava com anomalia de -1,4ºC, praticamente no limite entre intensidade moderada e forte.

Todos os dados de modelos climáticos indicam que agora entre julho e agosto a tendência é de enfraquecimento da La Niña com o Pacífico podendo adentrar até brevemente em território de neutralidade. Consequência do que se denomina de uma Onda Kelvin que levou águas mais quentes abaixo da superfície para a superfície e que avançaram de Oeste para Leste no oceano. Este enfraquecimento levou o Bureau de Meteorologia da Austrália a declarar o fim do evento de La Niña, mas os australianos usam critérios diferentes da NOAA dos Estados Unidos.

Ocorre que os mesmos modelos de clima apontam que no final do inverno e durante a primavera o Pacífico Central voltaria a ter um maior resfriamento com a intensificação da La Niña. Os ventos de Leste no Pacífico Equatorial Central nos últimos dez dias de junho foram os mais fortes observados desde 1959, condição que deve favorecer nova intensificação da La Niña em direção ao fim do inverno e durante a primavera.

Os mesmos dados sinalizam, conforme as projeções atuais, que no decorrer do verão a La Niña poderia chegar ao fim com o Pacífico migrando para neutralidade. Por isso, há preocupação com os efeitos na chuva durante a primavera no Rio Grande do Sul com risco de déficit hídrico principalmente no último trimestre do ano, o que representa um grave risco, por exemplo, para a cultura de milho que tem ciclo mais cedo que o da soja, sujo período de maior demanda hídrica está no meio e fim do verão.