Imagens de satélite oferecem a dimensão do desastre pela chuva que se abateu sobre o litoral de São Paulo entre os dias 18 e 19 de fevereiro, quando algumas áreas registraram entre 600 mm e 700 mm em menos de 24 horas com acumulados de até 400 mm ou mais em menos de seis horas, especialmente entre Bertioga e São Sebastião.

O número de mortes confirmadas no Litoral Norte paulista chegou a 65, segundo informações do Corpo de Bombeiros. Foram 64 vítimas em São Sebastião e uma no município de Ubatuba. Foram identificados e liberados para sepultamento os corpos de 55 pessoas – 20 homens, 17 mulheres e 18 crianças.

Com esse resultado, a partir do levantamento feito com moradores, familiares e pessoas, o corpo de Bombeiros encerrou oficialmente as buscas na Vila do Sahy. Ainda há uma frente trabalhando em busca de uma pessoa, no bairro Baleia Verde.

Mas, por causa do volume de entulho causado pelos deslizamentos de terra, que também obstruíram ruas e estradas, o trabalho de limpeza e remoção continua. A chuva forte nas últimas horas na região voltou a causar deslizamentos, mas sem vítimas.

A chuva e os deslizamentos entre os dias 18 e 19 deixaram ainda 2.251 desalojados e 1.815 desabrigados na região, de acordo com o último boletim divulgado pelo governo estadual. Parte dessas pessoas teve as casas destruídas pelas chuvas, enquanto outras viviam em áreas consideradas de risco e tiveram que deixar suas residências.

Imagens de satélite divulgadas pela geógrafa e especialista em sensoriamento remoto Jéssica Uchôa, da MaCoBioS, captadas pelo satélite europeu Sentinel-2 do Sistema Copernicus, mostram a enorme quantidade de deslizamentos de terra no município de São Sebastião pela chuva extrema.

A chuva extraordinária, acima de 600 mm em horas, provocou múltiplos deslizamentos e alguns de grande dimensão em vários trechos da Serra do Mar que está muito próxima da praia nesta área do litoral brasileiro e, desta forma, mais propensa à chuva orográfica. Uchôa descreve a quantidade de deslizamentos como “impressionante”.

De acordo com dados de pluviômetros digitais do Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres, Cemaden, em 24 horas, entre 9h do sábado (18) e 9h do domingo (19), a chuva somou 680 mm em Bertioga, 626 mm em São Sebastião, 388 mm no Guarujá, 337 mm em Ilhabela, 335 mm em Ubatuba, 234 mm em Caraguatatuba: 234 mm, 225 mm em Santos, 203 mm em Praia Grande e 186 mm em São Vicente.

Um milímetro de chuva equivale a um litro de água por metro quadrado. Em pontos de Bertioga e São Sebastião, choveu 400 mm em menos de seis horas no fim do sábado (18). Assim, a chuva passou de meio metro de altura em distintos pontos do litoral paulista, particularmente numa área entre o Guarujá e Bertioga, a zona mais afetada pela precipitação extrema.

Não houvesse uma enorme quantidade de pontos de medição do Cemaden na área, e mesmo assim nem todos estavam operacionais, não se teria o dado de chuva de quase 700 mm. Assim, é muito possível que no passado já tenha havido acumulados de chuva maiores sem que tenha havido medição para documentar. O dado de Bertioga, entretanto, é a maior chuva já registrada e documentada no Brasil.

Na sequência do desastre, diversas vozes disseram na imprensa que não era possível prever a chuva acima de 500 mm e muito menos de 700 mm. Com base em seus recursos tecnológicos e a experiência da equipe em eventos extremos de precipitação orográfica (induzida pelo relevo), a MetSul Meteorologia foi o único serviço de previsão do tempo a antecipar a chuva de 700 mm.

O que o satélite mostrou visto da superfície a partir do mar em São Sebastião | NELSON ALMEIDA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Os volumes extremos confirmaram as projeções dos modelos de alta resolução da MetSul que ao longo da semana que passou indicavam acumulados de precipitação de até 500 mm ou mais na área mais afetada pela chuva, o que levou à emissão de um alerta na sexta de que o fim de semana poderia ter chuva excepcional da região entre a costa e a Serra do Mar.

Na sexta à noite, as projeções dos nossos modelos computadorizados aumentaram a chuva para até 700 mm e em um segundo alerta  no começo do sábado se advertia para volumes possíveis de até 500 mm a 700 mm, ponderando-se que em se tratando de chuva orográfica (associada ao relevo) não raro acaba chovendo até mais que o indicado pelo modelos numéricos.

Na sequência, no começo da madrugada deste domingo, com a chuva extrema já se registrando, uma terceira advertência da MetSul de que o cenário era excepcionalmente grave e que o quadro deveria piorar ainda mais com mais intensas precipitações.