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Uma frente vai avançar pelo Sul do Brasil entre amanhã e quinta-feira, rompendo o persistente bloqueio atmosférico e, após duas semanas de temperatura muito acima do normal, estourará a bolha de calor. A temperatura despencará em relação ao que vem se registrando na quinta e se iniciará uma sequência de dias de marcas mais agradáveis e perto dos padrões históricos médios desta época do ano.

Os mapas acima mostram as anomalias de temperatura em 850 hPa (nível de 1.500 metros de altitude) projetados para as tardes de hoje (25) e de quinta (27). Observe a enorme diferença em 48 horas no perfil da atmosfera no Sul do Brasil que sairá de massa de ar excepcionalmente quente para uma massa de ar mais frio que, reiteramos, nesta época do ano não se traduz necessariamente em frio na esmagadora maioria das cidades.

Esta massa de ar frio vai derrubar as máximas à tarde entre 10ºC e 15ºC em relação ao que vem se registrando e as noites terão mínimas 5ºC a 8ºC mais baixas que as registradas nestes dias da onda de calor. Em outras palavras, o desconforto térmico vai cessar e condições agradáveis devem predominar por alguns dias após a passagem da frente fria e o ingresso do ar mais ameno.

Em Porto Alegre, as máximas de 36ºC a 38ºC de hoje e amanhã darão lugar a marcas de 25ºC a 27ºC quinta, sexta e sábado. Somente no domingo voltaria a ficar ao redor dos 30ºC que é a média máxima normal de janeiro. Em Florianópolis, o calorão vai até o começo da quinta, antes da chuva da frente fria, e na sexta e no fim de semana a temperatura estará agradável.

Já em Curitiba, o tempo quente e abafado vai até quinta, mas entre sexta e sábado ingressa ar mais ameno e chove muito no final da semana e durante o fim de semana. Na cidade de São Paulo, tardes quentes e abafadas até sexta com queda de temperatura no sábado. Espera-se chuva bastante volumosa com alto risco de transtornos na capital paulista no fim de semana e no começo da semana, o que vai manter a temperatura abaixo da média durante a tarde.

No Oeste do Sul do Brasil, onde têm sido registradas as máximas mais altas com valores até superiores a 44ºC em estações automáticas particulares, a influência da massa de ar frio será menor pela trajetória marítima do ar mais ameno. Mesmo assim se espera uma queda notável da temperatura. A semana deve terminar com máximas ao redor de 30ºC a 33ºC em cidades que repetidamente estão registrando há vários dias 41ºC a 44ºC.

Noites muito mais agradáveis

Embora massas de ar frio nesta época do ano não tragam frio propriamente dito para a grande maioria dos municípios, noites bastante agradáveis são esperadas. Pontos da Grande Porto Alegre e de muitas cidades do interior podem ter mínimas de 16ºC a 17ºC. Na Campanha e no Extremo Sul, há chance de mínimas de 13ºC a 15ºC.

No fim de semana, inclusive, alguns locais (baixadas) dos Aparados da Serra e do Planalto Sul Catarinense podem anotar mínimas de um dígito, portanto abaixo de 10ºC. Gramado e Canela, muito buscadas pelos turistas e que chegaram a ter mais de 36ºC nos últimos dias, podem anotar 13ºC a 14ºC nas madrugadas do fim de semana, previsão idêntica para Caxias do Sul.

O estouro da bolha de calor

É preciso um sistema atmosférico de mesoescala mais vigoroso como uma frente fria para que se estoure uma bolha de calor com a potência como a que cobre o Centro da América do Sul há duas semanas, o que traz uma onda de calor extremamente forte e prolongada com múltiplos recordes históricos. É o que vai ocorrer com esta frente fria impulsionada por uma massa de ar frio. Diferentemente da última semana, quando uma massa de ar frio trouxe máximas baixas recordes para janeiro no Sul da província de Buenos Aires e depois desviou para o mar.

A bolha de calor, assim, vai estourar. Mas o que é uma bolha de calor?  O verão significa clima quente – às vezes perigosamente quente – e ondas de calor extremas se tornaram mais frequentes nas últimas décadas por conta das mudanças climáticas. Às vezes, o calor escaldante fica aprisionado no que é chamado de cúpula de calor.

Áreas de alta pressão, como cúpulas de calor, têm ar descendente (subsidência). Isso comprime o ar no solo e através da compressão aquece a coluna de ar. Em suma, uma cúpula de calor é criada quando uma área de alta pressão permanece sobre a mesma área por dias ou até semanas, prendendo ar muito quente por baixo assim como uma tampa em uma panela.

É, assim, um processo físico na atmosfera. As massas de ar quente se expandem verticalmente na atmosfera, criando uma cúpula de alta pressão que desvia os sistemas meteorológicos – como frentes frias – ao seu redor.

À medida que o sistema de alta pressão se instala em determinada região, o ar abaixo aquece a atmosfera e dissipa a cobertura de nuvens. O alto ângulo do sol de verão combinado com o céu claro ou de poucas nuvens aquece ainda mais o solo.

Em meio a condições de seca, como o Rio Grande do Sul e países vizinhos hoje enfrentam, o ciclo vicioso não termina aí. A combinação de calor excessivo e superfície terrestre ressecada funciona para tornar a onda de calor ainda mais extrema. É o que os cientistas denominam de mecanismo de feedback.

Com escassa umidade no solo, a energia térmica que normalmente seria usada na evaporação – um processo de resfriamento – aquece diretamente o ar e o solo. Quando a superfície da terra está mais seca, assim, ela não consegue se resfriar por evaporação, o que torna a superfície ainda mais quente, o que fortalece ainda mais o bloqueio da cúpula de calor. Não à toa a maioria das mais poderosas ondas de calor da história gaúcha ocorreram sob forte a severa estiagem, caso de 1943 que tem os recordes oficiais de máxima tanto de Porto Alegre como do interior.