NOAA

A ocorrência de raios na região do Ártico triplicou na última década se comparada ao restante do globo. É o que aponta um estudo que acaba de ser publicado na Geophysical Research Letters.

A enorme alta de incidência de raios pode estar relacionado às mudanças climáticas. Com efeito, o aumento dos relâmpagos demonstra mais uma maneira pela qual  o clima da Terra pode mudar om o aquecimento do planeta.

Então, para entender mais fácil. O ar no Ártico geralmente não é quente o suficiente para o desenvolvimento de tempestades, ainda mais as que incidem raios. Assim, historicamente, raios são incomuns no polo. Se o ar fica mais quente, em teoria, ocorrem mais raios.

O estudo utilizou dados da rede WWLLN (World Wide Lightning Location Network) e detectou que os raios durante o verão mais que triplicaram na região ártica entre 2010 e 2020. O trabalho foi coordenado por Robert Holzworth da Universidade de Washington

Causas 

É conhecido que a temperatura do ar tem efeito no desenvolvimento de tempestades e, portanto, na formação dos raios. As causas para o aumento das descargas no Ártico, contudo, ainda são controversas.

O estudo que acaba de sair não possui elementos para comprovar que o aquecimento por si só foi o responsável pelo enorme incremento. O trabalho sugere a hipótese, mas não atesta a causa.

Ainda assim, outros estudos sugeriram que a mudança climática contínua pode causar um aumento nas tempestades árticas.

Um artigo recente, publicado em setembro na Climate Dynamics, projeta que as tempestades triplicariam no Alasca até o final do século. Isso sob um cenário de severas mudanças climáticas.

Um outro estudo publicado no mesmo jornal sugere que o aumento da umidade, causado pelo aquecimento e derretimento do gelo marinho, é o fator determinante.

Mais pesquisas ainda podem ser necessárias para determinar exatamente o que está acontecendo com as tempestades árticas. 

A Nature noticiou recentemente que uma outra rede global de detecção de relâmpagos não registrou o mesmo aumento de relâmpagos no Ártico. Esta rede, entretanto, tem  seus registros iniciais recém em 2012.

Consequências 

Quais as consequências do aumento dos raios no Ártico? Elas podem ser muitas e graves para o ecossistema local.

O aumento do número de raios no Ártico pode ter um impacto significativo na região. Os últimos dois anos estabeleceram recordes para a maior área de terra queimada por incêndios florestais e a maior emissão de dióxido de carbono no Ártico desde o início dos registros.

Mais relâmpagos significaria ainda mais chances de início de incêndios florestais. E isso  poderia colocar ainda mais fuligem e gases que alteram o clima no ar.

Em 2016, a Organização Meteorológica Mundial em Genebra, Suíça, adicionou relâmpagos à sua lista de “variáveis climáticas essenciais”. A mudança significa que as observações de relâmpagos podem ajudar os pesquisadores a rastrear as mudanças climáticas globais.

NASA

O Ártico está esquentando muito mais rápido do que o resto do planeta, logo as mudanças nos raios podem ser mais aparentes na região.

Em agosto de 2019, ocorreu a incidência mais ao Norte já detectada, a apenas 52 quilômetros do Pólo Norte, de acordo com a empresa finlandesa Vaisala.

Em julho de 2014, uma tempestade sobre o Ártico canadense causou mais de 15.000 raios ao norte do Círculo Polar Ártico.

Deste modo, a tendência de que o aquecimento global levará a mais tempestades convectivas e relâmpagos com o aumento da temperatura do ar e do oceano fica mais evidente.

Como se formam os raios?

Em síntese, os raios se formam quando cristais de gelo colidem dentro de nuvens de tempestade em convecção. São aquelas nuvens cheias de correntes de ar turbulentas que se formam por ar quente. Uma separação de carga se acumula até atingir um limite e um raio é liberado.