Um violento temporal atingiu parte do Vale do Paranhana no final da tarde da quinta-feira com muitos estragos no município de Taquara. De acordo com a prefeitura, a tempestade severa causou alagamentos, destelhamentos, queda de árvores e de barreiras.

Equipes da Defesa Civil Municipal, da Secretaria de Obras e da Diretoria de Trânsito trabalhavam até o começo desta sexta-feira para atender a população, juntamente com a Brigada Militar e os Bombeiros. Conforme a administração, a prioridade era a desobstrução de vias e entrega de lonas.

No Centro da cidade, um posto de gasolina perdeu parte do telhado. Também na área central, a Rua Rio Branco ficou alagada e um prédio da Rua Ernesto Alves foi destelhado durante o vendaval com rajadas de força destrutiva.

Cinco equipes da Secretaria Municipal de Obras trabalhavam para desobstruir vias interrompidas por árvores caídas. A falta de energia elétrica foi outro problema na cidade pelo impacto da ventania na rede elétrica.

Há equipes da Defesa Civil atendendo casos de resistências destelhadas com apoio da Diretoria de Trânsito, Bombeiros, Brigada Militar e voluntários. Uma das prioridades iniciais foi remover árvores e galhos caídos sobre vias públicas.

RÁDIO TAQUARA

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PREFEITURA DE TAQUARA

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Cerca de cem residências sofreram destelhamento em Taquara após o temporal que se abateu sobre a cidade, segundo levantamento da Defesa Civil. Houve prejuízos ainda para prédios públicos.

O Parcão da cidade foi fechado em razão dos estragos o atendimento ao público nos setores da prefeitura foi suspenso. Alguns locais ficaram inundados e, de acordo com as autoridades locais, era necessário trabalhar na limpeza e organização interna.

Downburst (microexplosão) atingiu Taquara

A tempestade severa que atingiu Taquara se deu em dia de calor excessivo no Rio Grande do Sul. Estações oficiais indicaram máximas de 39,0ºC em Teutônia, 37,8ºC em Porto Alegre, 37,6ºC em Campo Bom, 36,9ºC em São Luiz Gonzaga, 36,7ºC em Ibirubá, e 36,2ºC em Rio Pardo.

Por sua vez, estações particularesacusaram marcas ainda mais altas que as oficiais e atingiram os 40ºC com 40,7ºC em Porto Xavier, 39,7ºC em Teutônia, 39,2ºC em Colinas e em Feliz, 38,6ºC em Venâncio Aires, 38,3ºC em Carazinho e Sarandi, 38,0ºC em Rio Pardo, 37,9ºC em Três Coroas, 37,7ºC em São Leopoldo e 37,1ºC em Santa Rosa. Em Taquara, estação automática da Faccat apontou 38,6ºC.

Nuvens que avançaram do Oeste gaúcho geraram poderosas áreas de instabilidade no Leste gaúcho ao encontrar o ar mais quente que estava sobre a região. No final da tarde, na hora do temporal em Taquara, um grande aglomerado de nuvens de grande desenvolvimento vertical do tipo Cumulonimbus (Cb) com características de um sistema convectivo de mesoescala podia ser visto nas imagens de satélite a Oeste da Lagoa dos Patos.

METSUL

Com o calor e presença de umidade, a atmosfera estava propícia para tempo severo. Dados de modelos indicavam valores mais altos no horário do índice de instabilidade CAPE justamente na faixa Leste gaúcho, onde se formou o aglomerado de nuvens carregadas.  O CAPE (Convection Available Potential Energy) é um dos diversos índices de instabilidade usados em Meteorologia para se avaliar o risco de temporais.

METSUL

Uma supercélula de tempestade se formou na região de Taquara. Embora grande parte da área metropolitana tenha tido apenas chuva e não temporal, um núcleo isolado de grande força se formou e se intensificou sobre a região de Taquara, como podia ser visto nas imagens de radar.

REDEMET/DECEA

Imagens de vários vídeos analisados pela MetSul Meteorologia do momento do temporal permitem descartar a possibilidade de um tornado. A ferocidade do vento e a gravidade dos danos leva muitas pessoas a suspeitarem de tornado. A análise dos vários vídeos da tempestade não sugerem, porém, que tenha sido um tornado a causa do vento destrutivo na cidade de Taquara.

Tornado é um fenômeno que atravessa uma faixa limitada de terreno, deixando um rastro de destruição numa espécie de linha (irregular) por onde passa. Os danos observados na cidade de Taquara ocorreram numa zona muito ampla em que os danos estão dispersos por muitos pontos.

Os vídeos mostram vento destrutivo na horizontal e por um período prolongado e não de poucos segundos, como ocorreria em um tornado. São indicadocativos sim de que se tratou de um downburst, ou uma micro-explosão atmosférica, que se caracteriza por uma corrente violenta descendente de vento. A Grande Porto Alegre tem um longo histórico de eventos de downburst durante o verão.

Apesar de estações meteorológicas no município terem indicado vento de 83 km/h, os vídeos são claros em mostrar que a velocidade do vento foi muito superior. As rajadas nas imagens de diversos registros gravados sugerem rajadas que excederam facilmente 100 km/h e que podem em alguns pontos ter atingido 120 km/h a 150 km/h.

O que é um downburst

O que é um dowburst ou micr0-explosão atmosférica? Este tipo de fenômeno ocorre principalmente no verão porque é a época em que os dias são muito quentes e, sob a presença de umidade alta, formam-se nuvens de grande desenvolvimento vertical do tipo Cumulonimbus (Cb) que podem atingir até 15 a 20 quilômetros de altura e são capazes de gerar vento destrutivo.

Em sua página na internet, o National Weather Service dos Estados Unidos explica o que é um downburst – uma corrente descendente de vento violenta – que é capaz de produzir estragos e danos tão graves quanto o de um tornado pela enorme velocidade que o vento pode atingir durante os episódios deste tipo de fenômeno.

“Um downburst é uma forte e relativamente pequena área de ar rapidamente descendente debaixo de uma tempestade que pode resultar de vento muito forte em altitude sendo transportado para a superfície. Ou pode ser efeito do resfriamento muito rápido do ar com a chuva que evapora em uma atmosfera inicialmente seca. O ar mais frio e denso desce rapidamente para a superfície.

Um downburst se diferencia do vento uma tempestade comum pelo seu potencial de causar danos próximos à superfície, onde se espalham ou divergem consideravelmente. Ao contrário, em tornados convergem para uma faixa estreita do terreno.

Downbursts intensos podem ser fenomenais. Velocidades do vento podem atingir marcas tão altas quanto as observadas de 281 km/h em Morehead City (Carolina do Norte) e 254 km/h na base aérea de Andrews (Maryland). Fortes episódios de downburst podem causar sons e ruídos que as pessoas frequentemente mencionam como sendo de um trem de carga, termo tipicamente associado a tornados.

Embora downbursts não sejam tornados, podem causar danos equivalentes a de um tornado pequeno ou médio, afinal vento é vento. Downbursts são classificados como macrobursts ou microbursts, dependendo da extensão da área afetada pelo vento. Os danos de macrobursts se estendem horizontalmente por mais de quatro quilômetros enquanto nos microbusts os ventos destrutivos ocorrem em área inferior a quatro quilômetros”.

Uma nuvem Cumulonimbus, pelas suas correntes ascendentes e descendentes violentas, dentro e junto à nuvem gera turbulência forte a severa, granizo, formação de gelo, raios e por vezes tornados, o que é um risco para as aeronaves principalmente no pouso e decolagem ante o perigo de cortantes de vento e correntes descendentes violentas (microburst).

Depois de vários acidentes aéreos causados por correntes descendentes (downbursts) nos Estados Unidos, aeroportos passaram a contar com radares meteorológicos e foram realizados vários estudos no país.

O caso mais famoso é do desastre do voo Delta 191 em que morreram 137 pessoas. A aeronave se preparava para pousar no aeroporto de Dallas quando foi atingida por um microburst, uma corrente de vento descendente intensa em uma nuvem de tempestade, e o avião foi levado a se chocar contra o solo a um quilômetro da pista.