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O inverno climático ou meteorológico teve início no primeiro dia de junho e vai até 31 de agosto, mas o astronômico que começa com o solstício se inicia nesta quarta-feira, 21 de junho, às 11h58, e será o primeiro sob El Niño nesta década depois de três anos seguidos em que os invernos transcorreram sob a influência do fenômeno La Niña. O El Niño, que altera o padrão de circulação geral da atmosfera em escala global, terá impacto no clima do Brasil na estação.

Mapa de anomalia de temperatura da superfície do mar mostra a tradicional “língua” de águas quentes no Pacífico Equatorial que é característica do El Niño. Fenômeno está presente depois de anos e vai influenciar o clima no inverno de 2023. | NASA

O evento de El Niño está recém em seus momentos iniciais, tendo sido declarado há poucos dias pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos. Com isso, a tendência é que o Oceano Pacífico Equatorial aqueça mais no decorrer da estação e o El Niño se fortaleça.

Conforme o último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 0,9ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada oficialmente para definir se há um El Niño na forma clássica e de impacto global. O valor está na faixa de El Niño fraco (+0,5ºC a +0,9ºC).

Por outro lado, a região Niño 1+2, estava com anomalia de +2,6ºC, em nível de El Niño costeiro forte a muito forte junto ao Peru e Equador, aquecimento intenso na região que persiste desde o mês de fevereiro.

De acordo com as projeções da MetSul, o evento deve ter seu pico de intensidade no último trimestre deste ano, entre a primavera e o nosso verão. Assim, o El Niño marcará o segundo semestre deste ano, quando os seus efeitos devem começar a ser sentidos com maior força.

O inverno marca o período mais frio do ano no Rio Grande do Sul. As jornadas mais frias costumam ocorrer sob influência de ciclones extratropicais intensos no Atlântico Sul e que são responsáveis por impulsionar massas de ar muito gelado para o Estado.

Quando o frio está acompanhado de ciclone potente, é comum os gaúchos terem o vento Minuano, sensação térmica negativa, mínimas muito baixas, geada ampla e em alguns casos neve.

Ocorre que, mesmo durante o inverno, são normais dias com calor em qualquer mês da estação, especialmente durante agosto e setembro, e 2023 não fugirá à regra. A transição de períodos amenos ou quentes para frios pode se dar bruscamente com alto risco de tempo severo na forma de temporais com vento forte e granizo, especialmente se estiver presente um fenômeno conhecido como corrente de jato de baixos níveis, que traz ar quente e vento Norte com forte intensidade antecedendo a chuva e os temporais.

Essas correntes de vento quente a cerca de 1500 metros de altitude são comuns horas antes da chegada de frente fria intensa associada a um grande ciclone e podem trazer temperatura muito alta mesmo à noite. Em todos os anos se verifica este tipo de cenário em nos casos mais extremos há formação de tornados, como se viu em diversos invernos do passado.

Agosto e setembro, quando se espera maior incidência de ar quente, tendem a ser os meses de maior risco de temporais e episódios de tempo severo. São os meses, historicamente, que marcam um aumento na frequência de tempestades de granizo e de vendavais.

Sob intensos ciclones acompanhando massas de ar frio de maior intensidade, o vento pode ser muito forte no Rio Grande do Sul com rajadas perto ou acima de 100 km/h no Sul e no Leste gaúcho que proporcionam ainda grandes ressacas marítimas no litoral.

Em anos de Pacífico mais quente do que a média, como se espera nos próximos meses, há um aumento da probabilidade de temporais, que ocorrem em maior número, com episódios de vento muito intenso em vendavais e granizo.

O inverno é o período mais chuvoso do ano no Rio Grande do Sul juntamente com a primavera. Com a presença do El Niño e em rápida intensificação, a tendência é que a estação tenha um aumento das frequência de precipitação principalmente em sua segunda metade.

É altamente provável que o trimestre de inverno, junho a agosto, termine com chuva acima da a média na maior parte do Sul do Brasil. Por conta do evento extremo de chuva associado aos ciclones dos dias 15 e 15 de junho, parte do Rio Grande do Sul já teve metade do que costuma chover em todo o inverno em apenas dois dias.

Projeção de anomalia de chuva do modelo europeu SEAS5 para o trimestre de inverno no clima de junho a agosto | METSUL

É importante enfatizar que sob El Niño cresce o risco de episódios de chuva excessiva. Há diversos precedentes aqui no estado de cheias de rios no inverno, independente das condições no Pacífico, mas que tendem a ser mais numerosos e graves em anos de El Niño.

No Centro-Oeste e no Sudeste, a tendência é de chuva perto ou abaixo da média na maior parte das duas regiões, com chance de precipitação acima da média em áreas do Oeste e do Sul do Mato Grosso do Sul e do Sul e o Leste de São Paulo.

Quanto à temperatura, a MetSul Meteorologia projeta um inverno que não deve ser rigoroso, ou seja, sem frio forte persistente. Em anos de El Niño, episódios de frio muito forte não deixam de ocorrer, mas tendem a ser menos numerosos. Assim, a maior parte do Sul do Brasil deve ter uma estação de temperatura acima da média climatológica.

Junho e julho, historicamente, são os meses de temperatura mais baixa enquanto agosto e setembro tendem a ter temperatura mais alta, inclusive com alguns dias de forte a intenso calor que lembram jornadas de verão com marcas perto ou acima de 35ºC.

Tais episódios com alta temperatura costumam preceder eventos de tempo severo no Sul do Brasil, atestando a percepção popular que calor no inverno costuma preceder tempestades e às vezes de grande intensidade.

A alternância de calor e frio é maior nos meses de agosto e setembro, o que tende a levar a bruscas mudanças de temperatura com vento e não raro com tempestades severas. Isso piora não apenas o risco de tempo severo assim como de danos para a fruticultura por oscilações radicais de calor para frio e vice-versa.

Projeção de anomalia de temperatura do modelo europeu SEAS5 para o trimestre de inverno no clima de junho a agosto | METSUL

E a neve e geada? A história do clima gaúcho mostra muitos invernos que não chegaram a ser rigorosos, mas tiveram ondas de frio de maior intensidade, até com grandes nevadas, caso de agosto de 1965 que foi ano de El Niño forte.

A neve é fenômeno que somente pode ser previsto em curto prazo, dias ou horas antes, mas em anos passados que tiveram características similares às que se prevê houve menor propensão para eventos de neve no Sul do Brasil. Sob El Niño, a maior chance de neve ocorre em eventos de frio de agosto e o começo de setembro.

Já a geada ocorrerá em maior número de dias de junho e julho. A geada ocorrerá mesmo com incursões de ar frio mais fracas e será mais ampla na presença de massas de ar polar de maior intensidade, especialmente em junho e julho.

No Centro do Brasil, a tendência é de um inverno de temperatura acima da média, embora se preveja alguns episódios frios. Em agosto e setembro, no auge da estação seca, os dias de calor aumenta e vários poderão ser de calor excessivo, trazendo muitas queimadas e fumaça com a piora da qualidade do ar.