Uma combinação raríssima favoreceu o incêndio devastador que atingiu o estado do Colorado, nos Estados Unidos, no penúltimo dia do ano. Meses seguidos de tempo extremamente seco, quente e ausência de neve criaram as condições ideais para a tempestade de fogo que destruiu duas cidades no dia 30 em meio a rajadas de vento de até 170 km/h.
Entre 1º de setembro e 29 de dezembro, véspera do incêndio, a temperatura média na cidade de Denver foi de 11,2ºC, a segunda mais alta no período em 150 anos de dados. Já a precipitação foi de apenas 11,9 mm, o menor volume nos últimos quatro meses do ano em 150 anos de observações meteorológicas. E a precipitação de neve de 1º de setembro a 29 de dezembro foi de tão-somente 0,76 cm, a menor em 140 anos da dados.
As observações meteorológicas hoje em Denver são realizadas em DIA (Denver International Airport), um local mais seco que a antiga estação da cidade no Aeroporto de Stapleton, observa o meteorologista Bob Henson da Yale Climate Connections. Mesmo assim, Stapleton também teve recorde de menor precipitação e neve em um século e meio.
Fogo arrasador
Centenas de casas foram destruídas e pelo menos 33.000 pessoas receberam ordem para deixar suas residências devido ao incêndio no Colorado (Oeste dos Estados Unidos), região que enfrenta uma seca histórica. No condado de Boulder, hotéis, centros comerciais e mais de 650 hectares de vegetação foram consumidos pelas chamas.
“Sabemos que aproximadamente 370 casas em Sagamore foram destruídas. Existem outras 210 casas que podem ter sido perdidas em Old Town Superior”, disse o xerife do condado de Boulder, Joe Pelle, em entrevista coletiva. Uma área de mais de seis quilômetros quadrados foi devorada pelas chamas no condado de Boulder, onde vivem cerca de 100 mil pessoas.
“Quero enfatizar que devido à magnitude e intensidade deste incêndio e ao fato de ocorrer em uma área altamente povoada, não seria surpreendente se houvesse feridos ou mortes”, disse Pelle, que especificou que uma loja e um complexo hoteleiro foram consumidos pelas chamas.
O jornal Colorado Sun noticiou que vários feridos por queimaduras foram tratados em hospitais da região. A CBS transmitiu imagens de um complexo de apartamentos em chamas enquanto os bombeiros tentavam apagar o incêndio. Milhares de pessoas receberam ordem de evacuação para fugir das chamas que se acredita terem sido desencadeadas por postes de energia derrubados pelos ventos fortes. As rajadas de vento atingiram 170 km/h em algumas áreas, dificultando o trabalho dos bombeiros.
Patrick Kilbride, de 72 anos, estava trabalhando em uma loja de ferragens quando soube da ordem de evacuação, de acordo com o Denver Post. Ele correu para casa para pegar suas coisas, mas não conseguiu salvar nada, exceto o carro e as roupas que vestia. Seu cachorro e gato morreram. “Apenas cinzas”, disse ele sobre a casa em que viveu por três décadas. “Não é mais uma casa. Se precisa de uma lareira, é tudo o que resta”, disse ao jornal.
My son flew back to Seattle this evening. Here is a video he took of the Superior / Louisville fires from the plane at 5 pm. Our hearts go out to our neighbors in the fire’s path and the first responders working to save their homes and businesses. #MarshallFire pic.twitter.com/O6LXrOKCXT
— Gretchen Rosenberg (@GRDenver) December 31, 2021
Um total de 33 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas entre Louisville, uma cidade de 20 mil habitantes, e Superior, com 13 mil habitantes. Patti Holtz descreveu o terror de deixar sua casa em Boulder, a cerca de 50 quilômetros de Denver, capital do Colorado. “Tudo estava pegando fogo”. “Tinha brasa por toda parte. Fiquei com muito medo, claro, com o vento. (…) Estava tão escuro que não dava para ver nada. Como a escuridão da noite”, descreveu.
Mudanças no clima
O governador do Colorado, Jared Polis, declarou estado de emergência. Como grande parte do oeste dos Estados Unidos, o Colorado passou por anos de seca que deixaram a área árida e vulnerável a incêndios florestais. Embora os incêndios sejam uma parte natural do ciclo climático, ajudando a limpar a vegetação, sua escala e intensidade estão aumentando.
Os cientistas alertam que a mudança climática, em grande parte impulsionada pelas atividades humanas, como a queima indiscriminada de combustíveis fósseis, está alterando os padrões climáticos. Isso prolonga as secas em várias áreas e causa tempestades fora da estação incomuns em outras regiões, um fenômeno que deve piorar à medida que as temperaturas ao redor do mundo continuam subindo.