Bairros inteiros de duas cidades do estado norte-americano do Colorado com os devastadores incêndios trazidos pelo tempo seco e quente com rajadas de vento de até 170 km/h no penúltimo dia do ano | MARC PISCOTTY/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Os incêndios que destruíram “num piscar de olhos” bairros inteiros de cidades do estado do Colorado, no Oeste dos Estados Unidos, foram extintos durante a madrugada deste sábado (1) com a queda de neve que apagou os últimos focos de chamas. Pelo menos 500 casas foram reduzidas a cinzas e dezenas de milhares de pessoas tiveram que fugir, mas no momento não há registro de mortes, “um milagre”, segundo o governador Jared Polis.

O prejuízo é enorme. Ruas inteiras foram reduzidas a cinzas. Ao contrário de outros incêndios, estes não se limitaram às áreas rurais e atingiram zonas urbanas. “As famílias tiveram apenas alguns minutos para pegar o que podiam, animais e filhos, colocar no carro e partir”, disse Polis em entrevista coletiva na sexta-feira. Aconteceu “em um piscar de olhos”, afirmou.

À noite, as chamas tingiram o céu de laranja, alimentadas por rajadas de vento de até 170 km/h. Aparentemente, os incêndios foram causados pela queda de postes de energia em solo árido. O número de casas destruídas ainda não é conhecido. O xerife do condado de Boulder, Joe Pelle, estimou o número em mais de 500 na sexta-feira, dizendo que “não ficaria surpreso se houvesse mais de 1.000”.

O fogo se espalhou “em mosaico”, de modo que alguns bairros se salvaram enquanto casas vizinhas queimaram, explicou. “Quando você vê a devastação, é incrível que não tenhamos uma lista de 100 pessoas desaparecidas, mas não temos nenhuma”, comemorou o xerife.

Em telefonema ao governador Polis, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu que “todo o possível será feito para fornecer assistência imediata às pessoas e populações afetadas”, segundo a Casa Branca. Biden declarou estado de catástrofe no Colorado e ordenou a transferência da ajuda federal.

Centenas de casas queimaram em poucas horas durante os incêndios em vegetação do dia 30 que foram levadas para áreas urbanas por rajadas de vento de até 170 km/h. | MARC PISCOTTY/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Uma estátua da Virgem Maria permanece de pé entre os escombros de uma casa após o incêndio de Marshall, no Colorado. O rápido incêndio impulsionado pelo vento que irrompeu na quinta-feira em vários pontos ao redor do condado de Boulder forçou a evacuação de cerca de 30 mil pessoas e pode ter destruído até mil casas. MARC PISCOTTY/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Serviço Meteorológico dos Estados Unidos (NWS, na sigla em inglês) colocou parte deste estado montanhoso em alerta para tempestades de inverno e prevê intensas precipitações de neve nos próximos dias. A neve “nos ajudará”, disse Pelle, que duvida que o fogo volte a se propagar agora. Algumas ordens de evacuação foram suspensas pelas autoridades locais durante a noite, mas o acesso continua proibido a localidades como Superior, de 13 mil habitantes.

Patrick Kilbride, de 72 anos, estava trabalhando quando recebeu a ordem de evacuação. Ele apenas conseguiu salvar seu carro e a roupa que levava no corpo. O restante, ou seja, a casa onde viveu por três décadas, ficou reduzido a “cinzas”, segundo ele mesmo disse ao jornal Denver Post.

Assim como grande parte do Oeste norte-americano, o Colorado é um estado árido que sofre há anos com uma seca excepcional. Com o aquecimento global, é provável que a intensidade e a frequência dos episódios de seca e de ondas de calor aumentem ainda mais, criando condições que favorecem os incêndios florestais.

Nos últimos anos, o Oeste norte-americano sofreu com incêndios sem precedentes, sobretudo na Califórnia e no Oregon. Para Daniel Swain, meteorologista da universidade UCLA, “é difícil acreditar” que os incêndios estejam acontecendo em dezembro. “Contudo, pegue um outono [no Hemisfério Norte] de calor e seca recordes, com apenas dois centímetros de neve até o momento, e acrescente uma tempestade com ventos extremos […] e o resultado serão incêndios extremamente perigosos, que se deslocam muito rápido”, tuitou o pesquisador.

Além dos incêndios, os Estados Unidos sofreram recentemente outros fenômenos extremos, como a passagem da tempestade Ida em Nova York e Nova Jersey, em setembro, e os tornados mortais de dezembro no Kentucky. Até o momento, ainda não se sabe se estes últimos estão vinculados ao aquecimento global.