O inverno astronômico termina no dia 23 de setembro às 3h50 com o equinócio da primavera. Já o denominado inverno meteorológico, que tem data fixa e não móvel como o astronômico, e que é usado em climatologia nas estatísticas justamente por ter começo e fim na mesma data, tem início em 1º de junho e acaba no dia 31 deste mês.
Seja pelo critério astronômico ou pelo meteorológico, independente de data de começo e fim, o inverno deste ano até o momento tem sido mais quente do que a média na maior parte do Centro-Sul do Brasil e, em geral, no território brasileiro.
Junho teve pequenas áreas de temperatura abaixo da média no Centro-Oeste e no Sudeste, mas quase toda a região Centro-Sul do país a temperatura ficou acima da média. No Sul, quase toda a região terminou o mês com marcas acima dos padrões climatológicos e algumas áreas com desvios positivos maiores, especialmente no Rio Grande do Sul.
Já o mês de julho foi muito quente na média em quase todo o Brasil com grandes anomalias positivas de temperatura em diversos estados. As marcas nos termômetros ficaram muito acima das médias principalmente nos estados do Sul, Centro-Oeste e do Norte com desvios de 2ºC a 3ºC acima da climatologia histórica em algumas áreas.
O Brasil teve o julho mais quente registrado no Brasil desde 1961, informou o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) na sexta-feira. A MetSul Meteorologia esclarece que o mês passado pode ter sido o mais quente em um período ainda maior, já que o órgão federal utiliza para o levantamento dados apenas a partir de1961.
No mês passado, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, a temperatura média do Brasil ficou 1,04°C acima da média histórica. A média de temperatura histórica nacional de julho no período 1991-2020 foi de 21,93°C. Em 2023, a temperatura média mensal do país acabou em 22,97°C, logo 1,04°C acima da média histórica.
Até então, julho de 2022 era o mais quente com 22,77°C ou 0,84°C acima da média. Já o terceiro e o quarto julhos mais quentes do Brasil, desde 1961, ocorrera nos anos de 2015 e 2016, respectivamente. Nesses anos foram observados valores de 0,8°C (2015) e 0,6°C (2016) acima da média histórica. Tanto 2015 como 2016 estiveram sob a influência do El Niño, como agora em 2023.
Inverno terminará com temperatura acima da média
Com base no que já ocorreu e ainda se espera para as três semanas restantes deste mês, já é possível afirmar com elevadíssima margem de confiança que o inverno meteorológico (junho a agosto) de 2023 terminará com temperatura acima da média no Sul do Brasil e em grande parte do país.
Os desvios positivos de temperatura do mês de junho e, especialmente, julho foram muito altos. Assim, seria necessário um mês de agosto excepcionalmente frio para compensar as anomalias positivas dos dois primeiros meses da estação e trazer a temperatura para valores mais perto da climatologia histórica.
Só que isso não vai ocorrer. Ao contrário, este mês de agosto terá outra vez temperatura acima a muito acima da média na maior parte do Brasil, o que vai determinar inevitavelmente que o inverno deste ano acabe com médias de temperatura acima a muito acima da climatologia histórica na maior parte do Centro-Sul do Brasil.
O Sul e o Sudeste terão um agosto mais quente do que a média, inclusive muito mais quente do que o normal em diversas áreas, mas as anomalias de temperatura neste mês devem ser muito positivas com grandes desvios do normal principalmente no Centro-Oeste e parte do Sudeste com marcas bastante acima da média história no Brasil Central.
O que resta de frio neste inverno
Invernos mais quentes do que o normal não significam invernos sem frio. Embora as média de temperatura esteja acima e devam continuar acima dos padrões históricos, houve incursões de ar frio nos estados do Centro-Sul do país. Chegou a cair neve em Santa Catarina no julho mais quente no Brasil em ao menos 62 anos.
O que ocorre é a menor frequência e intensidade do ar frio. As massas de ar frio ingressaram com menor frequência e força do que o habitual nos últimos dois meses, levando a um maior número de dias de temperatura agradável ou elevada para os padrões da estação. Os períodos mais frios, ademais, foram muito curtos.
A tendência é que este padrão não se altere. Os mapas abaixo mostram a tendência semana a semana de anomalia de temperatura do modelo europeu para a América do Sul em que se vê a tendência de a temperatura permanecer predominantemente acima da média na maior parte do Brasil até o começo de setembro.
Observando-se a projeção com intervalo de cinco dias do modelo norte-americano CFS até a metade de setembro constata-se a tendência de temperatura predominantemente acima da média no Centro-Sul do Brasil no que resta deste inverno, mas com a possibilidade de períodos mais frios na segunda metade de agosto e na primeira quinze de setembro, porém de duração curta.
Em síntese, o que se esboça até o final deste inverno é a manutenção do padrão que se viu até o momento com predomínio de dias de temperatura perto ou acima da média e poucos abaixo da climatologia histórica. Não deixa de fazer frio, especialmente no Sul do Brasil, mas apenas em eventos de curta duração.
No Sudeste do Brasil, pelo ar muito seco, ocorre uma maior amplitude térmica. Assim que, embora os dias tenham tardes quentes ou muito quentes pelo predomínio de uma massa de ar quente, as noites acabam sendo frias pelo ar muito seco em diversas localidades. Onde as incursões frias, que não serão muitas, devem ter mais efeito é nas áreas perto da costa da região.
Historicamente, quando há El Niño como neste ano, existe a possibilidade de uma incursão de ar frio mais forte tardia em setembro. O modelo climático norte-americano aponta o ingresso de uma massa de ar frio na primeira quinzena, mas somente em mais curto prazo é possível determinar a sua intensidade com maior precisão.
O El Niño também ajuda a explicar o padrão de circulação das massas de ar frio neste inverno. Sob o fenômeno, as correntes de vento tendem a ser mais zonais, de Oeste para Leste, no Sul do continente, fazendo que o ar frio se concentre mais no extremo Sul do Chile e da Argentina.
Por isso, os mapas de anomalia de temperatura indicam temperatura acima da média na maior parte do continente e abaixo no extremo Sul, no Sul da Patagônia e em Magalhães, no Chile. Punta Arenas, no Chile, tem o inverno com mais neve desde 2015, ano de El Niño.