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Temperatura hoje cedo centro da cidade de São Paulo variava mais de 10ºC de um bairro para o outro sob as diferenças de microclima do ar muito seco | LUIZ GUARNIERI/BRAZIL PHOTO PRESS/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A temperatura variou 10ºC dentro da cidade de São Paulo no começo deste domingo, segundo dados da rede de estações meteorológicas do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), da Prefeitura de São Paulo. Conforme o bairro da cidade era possível sair de mangas curtas na rua ou era necessário vestir um agasalho mais pesado ao amanhecer.

A menor temperatura observada no começo do domingo na rede do Centro de Gerenciamento de Emergências se deu no bairro de Marsilac, no Sul da cidade, onde a mínima foi de 5,8ºC, ao redor das 6h da manhã.

Ocorre que no mesmo horário, no final da madrugada e ao amanhecer, a temperatura na estação meteorológica da Sé, na área central de São Paulo, era de elevados 16,3ºC. A mínima deste domingo na Sé foi de 15,9ºC, logo 10,1ºC acima da marca mínima de Marsilac.

Por que tanta diferença de microclimas hoje? A explicação está no perfil seco da atmosfera. Uma enorme massa de ar seco cobre no momento o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do país com tempo muito aberto. Ontem, a umidade relativa do ar caiu abaixo de 20% em pontos da cidade de São Paulo.

Em noites de céu claro, vento calmo e alta pressão atmosférica com grande subsidência (movimento descendente do ar), a temperatura costuma variar muito dentro de uma mesma cidade, especialmente em municípios com grandes diferenças de densidade urbana e presença de ilha de calor assim como que apresenta variações de altitude pelo relevo, exatamente o caso da cidade de São Paulo.

Uma cidade com dezenas de microclimas. Há mais de 20 anos, quando foi publicado o Atlas Municipal da Cidade de São Paulo, uma equipe da Universidade de São Paulo (USP) descobriu que, em consequência das distintas formas de ocupação do espaço urbano, a capital paulista apresentava à época 77 climas diferentes na capital paulista.

O trabalho considerou, além da temperatura e da umidade do ar, fatores que alteram as características do clima e influenciam o bem-estar das pessoas, como o tipo de construção predominante (mais ou menos casas, prédios ou favelas) e a intensidade do trânsito, já que a temperatura pode subir com o calor emitido pelos carros e a poluição.

O resultado foi um mosaico que ganha homogeneidade nos extremos da cidade, por causa da proximidade com as serras da Cantareira, ao Norte, e a do Mar, ao Sul. Constatou-se também uma certa uniformidade nos bairros que circundam o Centro, num arco que começa na Barra Funda, na Zona Oeste, passa por Limão e Santana, na Norte, avança até Penha e Vila Matilde, na Leste, e termina no Sacomã, na Zona Sul da cidade.

Conforme a pesquisa, há variações de temperatura dentro dos próprios bairros, em ruas ou praças, razão pela qual esses climas também podem ser chamados de microclimas. Mas o mosaico se embaralha, com diferenças mais acentuadas de temperatura, nas porções das regiões Oeste e Sul próximas ao Centro.

Uma das principais causas de tamanha variação é o desmatamento, associado a loteamentos clandestinos e favelas que se disseminam nos extremos da cidade. Aos danos da devastação, de acordo com o estudo coordenado pelo geógrafo José Roberto Tarifa, somou-se o impacto provocado pela impermeabilização do solo. São Paulo tem dezenas de milhares de ruas e avenidas asfaltadas, que retêm calor e assim tornam a cidade mais quente.