Um poderoso ciclone oceânico e sem precedentes em intensidade nesta época do ano causou muitos estragos na costa Oeste do Alasca, trazendo grandes inundações para comunidades costeiras e rajadas de vento de 150 km/h. O Serviço Nacional de Meteorologia em Fairbanks, que emitiu alertas tanto para inundações costeiras quanto para o vento, disse que a tempestade estava “produzindo elevação da maré inédita em pelo menos 50 anos”.

Enquanto as comunidades costeiras no Oeste do Alasca lidavam com as águas da enchente que inundavam casas e empresas, o governador Mike Dunleavy declarou estado de desastre. Grandes quantidades de água, empurradas para o Norte pelos ventos fortes, avançavam sobre terra, elevando o oceano vários metros e atingindo comunidades costeiras vulneráveis ​​com erosão severa.

O medidor de maré em Nome, que é conhecido por ser o ponto final da famosa Iditarod Trail Sled Dog Race, mostrou níveis de água mais de três acima dos níveis normais no início do sábado, excedendo o pico observado durante as tempestades ferozes de 2011 e 2004, de acordo com o Serviço Meteorológico Nacional.

Relatos das mídias sociais indicaram quedas de energia e danos em várias comunidades costeiras por causa da subida das águas. Em Hooper Bay, uma pequena cidade na costa com 1.375 pessoas, algumas famílias teriam deixado suas casas por causa das inundações. Grandes inundações também foram relatadas nas pequenas comunidades costeiras de Chevak, Kotlik, Newtok, Golovin e Shaktoolik, onde as evacuações foram necessárias em vários casos.

Fortes rajadas de 150 km/h derrubaram linhas de energia e causaram outros danos. A enorme tempestade e as ondas gigantescas de até 15 metros gerariam forte erosão na praia em qualquer época do ano, mas o fato de a tempestade atingir em setembro aumenta o risco de erosão.

Quando grandes tempestades extratropicais percorrem o Mar de Bering, geralmente é no final do ano, principalmente em novembro e dezembro, e os ciclones podem ser poderosos muiitas vezes no Alasca. Ocorre que a essa altura do ano, o gelo marinho se acumulou ao longo da costa, amortecendo a ação significativa das ondas, mas com esta grande tempestade em setembro, o litoral está sem sua barreira de proteção do gelo, tornando-o particularmente vulnerável.

O sistema é semelhante a uma tempestade desastrosa de novembro de 2011, quando uma baixa não tropical comparativamente intensa atuou no extremo Leste da Rússia e interior do Estreito de Bering. Naquele mês, também, o Pacífico avançou sobre terra.

Na Quarta Avaliação Nacional do Clima, um relatório abrangente sobre mudanças climáticas que analisa os impactos nos Estados Unidos publicado em 2018, os cientistas expressaram preocupação de que as mudanças climáticas tenham preparado o cenário para maiores impactos de grandes ciclones não tropicais no Alasca. Verões e oceanos mais quentes causaram uma perda sazonal de gelo marinho maior do que o normal, o que torna a região mais vulnerável à inundação oceânica.

O poderoso sistema meteorológico que atingiu o Alasca é uma “tempestade perfeita”, definiram os meteorologistas do jornal Washington Post. Os resquícios de Merbok, outrora um tufão do Pacífico de Categoria 1 de intensidade, se uniram a tempestades não-tropicais enquanto se dirigiam para o Estreito de Bering, a fina faixa de água entre a Rússia e o Alasca, formando um extraordinário ciclone extratropical, um ciclone bomba.

Os tufões, o equivalente aos furacões no Pacífico Ocidental, se formam a partir da água oceânica quente comum perto do equador no final do verão. Isso contrasta com os ciclones extratropicais, que funcionam com a energia contida nos gradientes de temperatura atmosférica.

Quando os dois tipos de sistemas se fundem, a combinação pode resultar em tempestade imensamente poderosa que se forma em pouco tempo. Este sistema se fortaleceu explosivamente ao entrar no Mar de Bering. O mesmo processo fortaleceu consideravelmente o Sandy ao se aproximar da costa Nordeste dos Estados Unidos em 2012.

Na sexta-feira, a pressão atmosférica no centro da tempestade chegou a cerca de 937 milibares sobre o Mar de Bering, a mais baixa da região em setembro desde 2005. A baixa pressão atrai o ar rapidamente para dentro, como um vácuo, e valores abaixo de 950 milibares são tipicamente vistos apenas em furacões de categoria 3 ou categoria 4.

Mas como a tempestade, neste ponto, é uma espécie de híbrido entre uma baixa tropical e não tropical, o campo de vento foi muito maior que seria em um furacão categoria 4. Em vez disso, toda a energia foi espalhada por uma área maior, com uma velocidade de vento sustentada máxima mais baixa, provavelmente em torno de 150 km/h, mas com um alcance muito maior.