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Um ciclone bomba extremamente intenso para os padrões do Atlântico Sul mexe com o tempo neste momento de regiões perto da Antártida até a Bolívia. O centro de baixa pressão estava na manhã desta quinta-feira na altura das Ilhas Geórgia do Sul, no extremo Sul do Atlântico, com pressão atmosférica central de apenas 931 hPa, conforme análise do modelo norte-americano GFS.

Nas imagens de satélite é possível observar a enorme frente fria com extensão de milhares de quilômetro que se estende do ciclone poderoso perto da Antártida que se prolonga pelo Atlântico até alcançar o Rio Grande do Sul. O sistema se estende, então, pelo Nordeste da Argentina e o Sul do Paraguai, e se prolonga com pouca atividade e apenas nebulosidade até o Sul da Bolívia e o deserto do Atacama, no Norte do Chile.

É a frente fria associada a este ciclone que traz chuva nesta quinta-feira para todas as regiões do Rio Grande do Sul, com altos volumes e temporais em algumas áreas, e que amanhã deverá alcançar o estado de São Paulo com chuva e queda de temperatura no Sul e no Leste paulista.


Ao mesmo tempo, o ciclone impulsiona uma massa de ar mais frio pela Argentina que hoje foi responsável por mínimas baixas de 5,5ºC abaixo de zero hoje cedo em Calafate, Sante Cruz, e 5,6ºC negativos em Rio Grande, Terra do Fogo. Nesta sexta, o frio vai se fazer sentir no Centro da Argentina, incluindo a província de Buenos Aires.

A trajetória do ciclone

O ciclone bomba começou a se formar no Leste da Argentina ontem a partir de um centro de baixa pressão que contribuiu para os violentos temporais do final da terça-feira e da madrugada de ontem em Buenos Aires e no Uruguai com estragos por rajadas de vento que se aproximaram de 130 km/h e hoje está perto da Antártida.

Zoom Earth/NOAA

A interação entre correntes de jato com o avanço de uma massa de ar frio pela Argentina e o escoamento de uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera vinda da Bolívia com ar muito quente levou, então, o centro de baixa pressão ao chegar na costa de Buenos Aires a um processo de impressionante intensificação e aprofundamento com deslocamento extremamente rápido para o Sul durante a quarta-feira.

No final do dia de ontem, o sistema que no começo da quarta estava nas latitudes médias da América do Sul já estava na altura das Ilhas Malvinas, no Atlântico Sul, a Leste da Patagônia, com pressão no seu centro entre 950 hPa e 955 hPa, cerca de 40 hPa a menos que no começo do dia, quando estava na altura de Buenos Aires, cerca de dois mil quilômetros ao Norte.

Nas primeiras horas do dia de hoje, o ciclone empreendeu uma trajetória mais a Leste e alcançou as Ilhas Geórgia do Sul, intensificando-se ainda mais com pressão atmosférica ao redor de 930 hPa que trazia vento com força de furacão com rajadas de 150 km/h a 200 km/h e ondas enormes no oceano na região mais ao Sul do Atlântico perto da Antártida e das Ilhas Geórgia do Sul, um grande habitat mundial de pinguins.

Para se ter ideia do que representa uma pressão ao redor de 930 hPa, pouco comum no Atlântico Sul, é valor que se costuma ver apenas em ciclones extratropicais extremamente profundos que se formam no Estreito de Bering, perto do Alasca, e mais ao Norte no Atlântico junto à Groenlândia e a Islândia. O recorde de menor pressão no Mar de Bering foi de 920 hPa em um ciclone junto ao Alasca, em 2020. No Norte do Atlântico, a pressão desceu a 913 hPa em ciclone de 1993.

O que é um ciclone bomba

Um ciclone bomba ou bomba meteorológica ocorre quando um ciclone nas latitudes médias se intensifica rapidamente” com a queda muito acentuada da pressão atmosférica e um fortalecimento muito rápido da tempestade.

A chamada bombogênese ou ciclogênese explosiva, a formação do ciclone bomba, se dá quando um centro de baixa pressão tem uma queda da pressão atmosférica de ao menos 24 hPa (hectopascais que é uma medida de pressão) em 24 horas. Assim, não é a intensidade que define um ciclone bomba e sim a rápida queda da pressão em seu centro.

Algumas tempestades extratropicais podem se intensificar tão rapidamente quanto 60 hPa em 24 horas e alguns ciclones do tipo bomba chegam a formar um olho, semelhantes ao centro de um furacão que é um ciclone tropical.

Um ciclone (tempestade não tropical ou furacão) é essencialmente uma gigantesca coluna de ar ascendente que gira no sentido horário sobre o Hemisfério Sul. Quando uma corrente de jato mais intensa se sobrepõe a um sistema de baixa pressão em superfície em desenvolvimento, estabelece-se um padrão de feedback que faz o ar quente subir a uma taxa crescente. Isso permite que a pressão caia rapidamente no centro do sistema.

À medida que a pressão cai rapidamente, os ventos se fortalecem ao redor da tempestade. Na prática, a atmosfera tenta equilibrar as diferenças de pressão atmosférica entre o centro do sistema e a área ao seu redor. O enorme gradiente (diferença) de pressão acaba por gerar o vento muito forte.

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