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Projeção do ciclone para a tarde de sexta-feira na costa do Sul do Brasil, conforme a última saída do modelo norte-americano GFS

Ciclone atípico deve se atuar nos próximos dias sobre o Oceano Atlântico na altura dos litorais do Sul e do Sudeste do Brasil. No momento, trata-se de uma área de baixa pressão comum, mas que deve evoluir para uma baixa de natureza subtropical e que pode adquirir características tropicais.

Por que o sistema é atípico?

A regra é que ciclones (centros de baixa pressão) não tenham características subtropicais ou tropicais no litoral do Brasil, mas em quase todos os anos ocorre ao menos um. Já os ciclones extratropicais são comuns no Atlântico Sul e se formam principalmente das latitudes do Rio Grande do Sul para o Sul.

Carta sinótica das 12Z (9h) de hoje identificou pela primeira vez a depressão subtropical

Os diagramas de fase da Universidade Estadual da Flórida indicam que este ciclone terá centro quente, ao contrário dos ciclones extratropicais que são de centro frio. Assim, é provável que o ciclone seja de natureza subtropical (centro quente em superfície e frio em altura), não se descartando que possa adquirir característica mesmo tropical (centro quente em todo o perfil vertical do sistema).

O que chama a nossa atenção é a projeção em alguns modelos de pressão mínima central ao redor de 990 hPa ou menos, quando ciclones subtropicais na costa brasileira costumam ter valores mais altos.

Como modelos globais costumam subestimar a pressão e este sistema pode adquirir características tropicais, a possibilidade desta baixa pressão evoluir para uma situação bastante atípica e não vista em quase duas décadas não pode ser afastada e exigirá muita atenção. Some-se ainda menos divergência de vento pelo padrão de estiagem em curso.

O ciclone terá nome?

Ciclones atípicos de natureza subtropical ou tropical recebem nomes na costa brasileira, mas apenas quando o sistema atinge patamar de vento sustentado mais forte. Depressões atmosféricas, mesmo subtropicais ou tropicais, com vento entre 30 km/h e 60 km/h não são classificadas por nome. Por outro lado, se o sistema passar a apresentar vento sustentado de 60 km/h deixará de ser uma depressão e se converterá em tempestade subtropical ou tropical, recebendo nome.

Com efeito, de acordo com as Normas da Autoridade Marítima para Meteorologia Marítima (NORMAM-19), da Marinha, para que haja a classificação do ciclone como tempestade subtropical ou tropical e a sua nomeação, os ventos deverão ser iguais ou superiores a 34 nós ou 63 km/h. Esta baixa pressão anômala, assim, tem o potencial de ser o primeiro ciclone atípico (subtropical ou tropical) com nome em 2021 no Atlântico Sul e receber o nome de Potira. O último foi Oquira, na costa gaúcha em dezembro de 2020.

Qual a trajetória do ciclone no mar do Brasil?

O ciclone vai se formar na costa do Sudeste neste começo de semana e terá deslocamento muito lento. A tendência é que evolua para o Sul com o passar dos dias. A previsão é que permaneça o tempo todo de vida sobre alto mar, por conseguinte os dados de hoje indicam que o sistema não tocaria terra.

As projeções para este ciclone variam muito de um modelo para o outro, mas há consenso no pacote de modelagem numérica que deve permanecer em mar aberto. Mesmo que tomasse rumo ao continente, uma frente fria avança no próximo fim de semana e dificultaria o seu deslocamento para terra.

E as conseqüências?

Os efeitos do sistema serão sentidos no mar e em terra, mas, principalmente, no oceano. No mar, a tendência é de vento muito forte nas áreas próximas do centro do sistema, logo distante da costa. Espera-se ainda mar grosso na área de atuação do ciclone.

Já em terra, a tendência é que a circulação do ciclone leve umidade do mar para o continente entre Santa Catarina e São Paulo. Os ventos úmidos vindos do mar, ao encontrar o relevo da Serra, devem gerar chuva de natureza orográfica que pode ser localmente forte a intensa com altos volumes. O risco maior de chuva forte associada ao relevo é maior nos litorais do Paraná e de São Paulo.