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Moradores observam prédios inundados ao lado da antiga ponte Windsor ao longo do Rio Hawkesbury que transbordou no subúrbio de Windsor, no Noroeste de Sydney, nesta segunda-feira | SAEED KHAN/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A situação se agrava pela chuva extrema e incessante no Leste da Austrália. Moradores de dezenas de subúrbios na região Oeste de Sydney foram orientados a deixar a região com três grandes rios transbordando no que os serviços de emergência descrevem como uma emergência de inundação “com risco de vida”. A chuva mais forte diminuiu um pouco na manhã desta segunda-feira em Sydney, no entanto segue forte na área metropolitana, com 71 ordens de evacuação e 64 avisos de evacuação, afetando mais de 32.000 pessoas no estado de Nova Gales do Sul.

A região atingida pelas inundações abriga 8,12 milhões de pessoas, ou cerca de um terço da população total da Austrália, e sempre sofreu com enchentes durante os primeiros meses do verão. Ocorre que eventos únicos de uma geração de inundações se tornaram comuns, o que gera uma série de questões quanto à sustentabilidade a longo prazo de comunidades propensas a inundações. Somente neste ano, é a terceira vez que a região de Sydney, especialmente seus subúrbios a Oeste, sofre com enchentes.

A chuva excessiva provocou o transbordamento de várias barragens em Nova Gales do Sul com sucessivos alertas de inundação. Logo a Oeste de Sydney, a represa de Warragamba – o maior reservatório urbano da Austrália – começou a transbordar às 2h da manhã de domingo e, em seu pico, 515 gigalitros estavam inundando suas paredes, a mesma quantidade de água contida no porto de Sydney.

O início excepcionalmente úmido de julho, que em quatro dias trouxe 150% da média histórica de chuva de julho em Sydney, confirma o ano até agora mais chuvosos desde que começaram as medições meteorológicas há um século e meio. Uma corrente de ar carregada de umidade, um rio atmosférico, associada a um centro de baixa pressão na costa Leste da Austrália, foi a responsável pelo longo período de chuva forte sobre o Centro e o Leste de Nova Gales do Sul neste começo de julho. Águas mais quentes do que a média no Pacífico, no litoral, contribuíram para piorar a situação da chuva extrema com enchentes.


Os acumulados de chuva foram impressionantes. Conforme o serviço australiano especializado em Meteorologia WeatherZone, a estação de Brogers, no Kangaroo Valley, em Nova Gales do Sul, teve 868 mm de chuva em apenas 78 horas. Mais ao Norte, a estação meteorológica de Observatory Hill de Sydney acumulou 148,6 mm de chuva nos quatro dias que terminaram às 9h desta segunda-feira, hora local. Isso é mais de 1,5 vez a média mensal de julho da cidade de 96 mm, e uma grande reviravolta em relação ao junho mais seco de Sydney desde 1986.

Se junho foi muito seco, os meses anteriores não. Choveu demais na região de Sydney entre o verão e o outono deste ano. Com os 148,6 mm que caíram nos primeiros quatro dias de julho na estação de referência histórica de Sydney, o total anual de precipitação em 2022 já alcança incríveis 1.696 mm. É o ano mais chuvoso da cidade até 4 de julho com registros que remontam a 1859, batendo os 1.569 mm observados até a mesma data em 1890. Considerando os 12 meses do ano e não apenas o intervalo de 1º de janeiro a 4 de julho, o que já choveu na cidade em 2022 faz deste ano o mais chuvoso desde 1990.

Especialistas dizem que a emergência de inundações foi agravada pelas mudanças climáticas e pelo fenômeno climático La Niña. A La Niña se desenvolve quando ventos fortes sopram as águas quentes da superfície do Pacífico para longe da América do Sul e em direção à Indonésia. Em seu lugar, águas mais frias emergem na superfície. Na Austrália, o fenômeno La Niña aumenta a probabilidade de chuva volumosa, ciclones tropicais e temperaturas diurnas mais baixas.

O professor associado Iftekhar Ahmed, da Escola de Arquitetura e Ambiente da Universidade de Newcastle, diz que há muita discussão sobre se os repetidos eventos de chuva extrema de 2022 estão ligados às mudanças climáticas. “Essas chuvas fortes nesta época do ano não são sazonais e os efeitos da La Niña devem persistir até o inverno”, diz o professor Ahmed.

“Um ciclo de desastre após desastre induzido pelo avanço das mudanças climáticas torna cada ciclo de lições adquiridas redundante, apresentando dificuldade em traduzir as lições quando os limites de conhecimento recém estabelecidos são violados”, afirmou.

Pai e filho em pessoas em um caiaque numa rua inundada pela cheia do Rio Hawkesbury no subúrbio de Windsor, em Sydney, na manhã australiana de hoje | SAEED KHAN/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Equipes de resgate examinando ontem uma área inundada devido às chuvas torrenciais no subúrbio de Camden, em Sydney, Milhares de australianos foram obrigados a evacuar suas casas em Sydney e seus arredores pelas intensas precipitações e enchentes | MUHAMMAD FAROOQ/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Meteorologistas da WeatherZone não oferecem panorama animador. Segundo eles, à medida que a área de baixa pressão da costa Leste se afasta, espera-se que se funda com uma segunda baixa pressão em direção à Nova Zelândia.  A chuva, entretanto, permanecerá em grande parte do estado de Nova Gales do Sul pelo resto da semana pois um terceiro centro de baixa pressão no Mar da Tasmânia vai levar muita umidade ao longo da costa Leste da Austrália com novos dias de tempo instável e mais precipitação.

O primeiro-ministro de Nova Gales do Sul, Dominic Perrottet, afirmou que os governos foram obrigados a aprender com os eventos de inundações anteriores e ajustar suas respostas porque “não há dúvida” de que tais extremos estão se tornando mais comuns. Ele disse que ficou impressionado com a maneira como o governo federal melhorou sua resposta a esse evento de inundação em comparação com os registrados mais cedo neste ano.

Nos próximos dias, espera-se que o governo de Nova Gales do Sul anuncie zonas de declaração de desastres naturais em algumas áreas afetadas por inundações, o que significará que algumas pessoas são elegíveis para receber ajuda financeira. O Ministro de Serviços de Emergência, Steph Cooke, disse à ABC NewsRadio, que as comunidades estão muito cansadas. “E você não pode culpá-los por isso”, afirmou. “Quero dizer, estamos vendo o Oeste de Sydney em lugares como Camden passando por seu quarto grande evento de inundação em 18 meses. E isso vai cansar até mesmo os mais fortes nessas comunidades”, ponderou.

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