Comparados com enchentes, tornados e furacões recebem muito mais cobertura em meios de comunicação porque as imagens costumam impressionar de casas ou carros voando com a força do vento, além da enorme devastação que estes fenômenos trazem com cenas impactantes. Ao contrário do que ocorre com tempestades severas ou tornados, não existem caçadores de enchentes em busca de imagens. No entanto, a chuva é a principal causa de mortes relacionadas ao clima tanto no Brasil como nos Estados Unidos.

No Brasil, ao menos 116 milhões de pessoas já foram afetados por desastres naturais nos últimos 120 anos. É o que apontou levantamento da empresa britânica de energia Uswitch com base em um banco de dados internacional de desastres naturais como incêndios, enchentes e epidemias. Segundo o levantamento da companhia, de 1902 a 2021, constavam na base de dados mais de 15 mil desastres. Desses, 251 ocorreram no Brasil e causaram a morte de 13 mil pessoas, a maior parte (154) em enchentes, seguidas de longe por deslizamentos (25) que são costumeiramente relacionados à chuva.

Centenas de pessoas morreram no verão deste ano em razão de inundações e deslizamentos de terra por excesso de chuva. Houve desastres por chuva extrema na região do Matopiba, na Bahia, Minas Gerais, São Paulo e o mais grave de todos no Rio de Janeiro, onde dois episódios de chuva extrema foram registrados, sendo o mais grave o primeiro em Petrópolis e o segundo com vítimas novamente em Petrópolis e na Costa Doce.

Os prejuízos causados pela chuva ultrapassaram a casa dos 55 bilhões de reais no Brasil desde 2017, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). De acordo com o estudo da CNM, que considerou dados até janeiro deste ano, o período chuvoso de 2020/2021 foi o pior com R$ 18,9 bilhões em prejuízos, seguido do período 2021/2022 com mais de 17,2 bilhões, e, em terceiro, o período 2018/2019, com 8,2 bilhões de reais em perdas.

O levantamento da Confederação ainda contabilizou que, nos períodos chuvosos entre 2017 a 2022, os desastres decorrentes do excesso de chuvas levaram os municípios a 5.622 decretações de Situação de Emergência em todo Brasil. A entidade chama atenção, que antes do fim do período chuvoso de outubro de 2021 a 17 de janeiro de 2022, o número de declarações foi de 1.302, ultrapassando o recorde do período de 2017/2018, onde contabilizou 1.155 decretações.

O documento da CNM também aponta que, em seis anos, foram contabilizadas 637 mortes por causa dos desastres decorrentes das chuvas. O período sazonal das chuvas de 2018/2019, registrou 327 óbitos, 171,7 mil pessoas ficaram desabrigadas e 819,8 mil ficaram desalojadas. O período foi o mais problemático da história e deixou mais de 14,8 milhões de pessoas afetadas pelas chuvas.

Bombeiros do estado da Paraíba e policiais militares realizam em Ilhéus o traslado de corpos de pessoas que faleceram em hospitais e precisam ser sepultadas durante as enchentes na Bahia em janeiro de 2022 | CAMILA SOUZA/GOVERNO DA BAHIA

Desespero tomou conta das famílias das vítimas e de voluntários nas buscas por desaparecidos em toneladas de rochas e lamas que desceram das encostas na catástrofe de fevereiro | CARL DE SOUZA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Chuva extrema deixou dezenas de mortos e trouxe prejuízos em centena de municípios de Minas Gerais nos últimos dias de 2021 e nos primeiros dias deste ano | DOUGLAS MAGNO/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Chuva extrema inundou cidade paulista de Franco da Rocha no verão com mortos e muita destruição | FILIPE ARAÚJO/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Já de acordo com um estudo de 20 anos do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos, uma média de 99 pessoas por ano morreram devido a inundações e inundações repentinas no país. Embora o número de mortes por tornados e furacões tenha diminuído, o número de mortes devido a enchentes e inundações repentinas permaneceu mais ou menos constante por década e aumentou recentemente. A maioria das pessoas que morre em inundações repentinas comete um erro fatal que é dirigir em direção às águas da enchente, tentando atravessar cursos d´água que transbordaram ou áreas inundadas.

Essa tendência provavelmente continuará à medida que as mudanças climáticas aumentarem o risco de chuvas fortes. O número de dias com precipitação extremamente forte aumentou de 1 a 2 por cento a cada década em locais tipicamente úmidos e secos, apontam pesquisas. Mais e mais inundações estão ocorrendo longe da costa. Nos últimos 10 anos, oito dos dez estados com mais desastres por inundações foram do interior e não do litoral, nos Estados Unidos.

Embora a média anual de vítimas por enchentes no território norte-americano fique em torno de 100, houve anos com centenas de mortes no passado. O ano com o maior número de óbitos, 555, ocorreu há meio século. Em 1972, várias inundações aconteceram naquele ano: Rapid City, Dakota do Sul e a Leste de Black Hills mataram 238; um rompimento de barragem em Buffalo Creek na Virginia Ocidental, custou a vida de 125 pessoas; e o furacão Agnes foi responsável por 50 mortes na Pensilvânia.

Em 1969 e 1955, houve 445 e 302 mortes, respectivamente. Naqueles anos, fortes furacões causaram inundações em locais do interior assim como na costa. O furacão Camille atingiu a costa Norte do Golfo do México em 1969 e trouxe fortes chuvas e inundações para a Virgínia Ocidental e a Virgínia. Dois furacões, Connie e Diane, atingiram a Costa Leste em 1955, causando grandes inundações. Mais recentemente, o furacão Harvey em 2017 trouxe chuvas desastrosas e inundações ao longo da costa do Golfo e foi responsável por 136 mortes, 70 das quais ocorreram no Texas.