Nordeste do Rio Grande do Sul e o Sul de Santa Catarina são as regiões que mais preocupam com indicativo dos modelos de acumulados excepcionalmente altos que podem trazer muitos deslizamentos de terra, bloqueio de estradas, quedas de barreiras, inundações, cheias de rios e graves enchentes | JAMES TAVARES/SEC0M/GOVERNO DE SANTA CATARINA/ARQUIVO**ALERTA** Chuva excepcional, enchentes e deslizamentos de terraA MetSul Meteorologia alerta para um cenário de alto risco meteorológico no começo de maio no Sul do Brasil com a formação de um ciclone sobre a região, o que não é comum, e a ocorrência de um episódio extremo de chuva que deve afetar o Rio Grande do Sul e Santa Catarina com acumulados excepcionalmente altos em algumas cidades e elevado potencial de transtornos para a população e perigo para moradores de áreas de risco.

O cenário de precipitação projetado pelos modelos numéricos é extremamente preocupante. No melhor cenário, as condições meteorológicas trarão sérios transtornos. No pior, indicado por várias simulações, as consequências seriam muito graves dentro dos padrões de alerta vermelho em que há “grande probabilidade de acidentes, riscos de danos materiais, integridade física e à vida” com múltiplas situações de emergência e possibilidade de estados de calamidade.

Os dados analisados pela MetSul indicam que serão vários dias seguidos de instabilidade no Sul do país, afetando o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o Paraná. A sucessão de dias com altos volumes de chuva levará a acumulados excepcionalmente altos. A atmosfera volta a se instabilizar já neste sábado, dando início à sequência de muito dias consecutivos com registro de chuva na região.

Neste fim de semana, a chuva atinge principalmente áreas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina com instabilidade isolada no território paranaense. A nebulosidade aumenta muito hoje com chuva em várias áreas e persiste ao longo do domingo com mais chuva, agora concentrada mais sobre a Metade Norte.

Ocorre que o tempo seguirá instável no Sul do país na segunda, terça, quarta e, conforme alguns dados, ainda na quinta em poucas áreas. Mais, a instabilidade vai se intensificar com muita chuva e vento pela formação de um ciclone na região. Na segunda, à medida que a pressão cai, se espera intensificação da chuva, especialmente na Metade Norte gaúcha.

Projeção de chuva acumulada diária do modelo meteorológico alemão Icon para hoje (30/4), domingo (1), segunda (2), terça (3), quarta (4) e quinta-feira (5/5) no Sul do Brasil.

De terça para quarta, vórtice ciclônico começa a se organizar em um ciclone, o que resultará em vento por vezes forte e chuva forte a muito intensa com altos acumulados que podem atingir de 100 mm a 250 mm em 24 horas em alguns pontos. Na quinta, algumas áreas mais a Leste ainda devem ter instabilidade, mas na maioria das regiões o tempo melhora com o ingresso de ar seco.

Projeções de volumes de chuva

Os acumulados de chuva neste episódio de vários dias de instabilidade devem ser excessivos em muitas cidades e potencialmente excepcionais em algumas áreas. Todos os modelos numéricos regionais e globais convergem para um cenário de chuva extrema, com variações menores em quais locais devem ter mais chuva e nos acumulados.

A grande maioria dos dados sinaliza para a Metade Norte gaúcha e Santa Catarina os mais altos volumes. A chuva tende a ser mais expressiva principalmente no Planalto Médio, Alto Uruguai, Serra, Litoral Norte e Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul; e no Sul e no Leste do estado em Santa Catarina. Outras regiões dos dois estados e até pontos do Paraná, contudo, também podem ter acumulados altos de precipitação no período.

Os volumes de chuva projetados pelos modelos numéricos são excepcionalmente altos para o Sul do Brasil. De acordo com as simulações, grande número de municípios de Santa Catarina e do Paraná teria precipitação entre 100 mm e 200 mm.

O grande risco é que os mesmos dados apontam para algumas áreas a possibilidade de marcas tão extremas quanto 300 mm a 500 mm até a próxima quinta-feira, ou seja, o que costuma chover em quatro a cinco meses em apenas uma semana, o que justifica o alerta de um evento excepcional de precipitação no Sul do país com acumulados mesmo extraordinários.

Veja a seguir, nos mapas, as projeções de chuva para sete dias dos principais modelos globais usados pela Meteorologia mundial e atente como todos indicam volumes muito altos de chuva e os mais confiáveis e de maior índice de acerto, como o Europeu e o alemão Icon, apontam volumes extraordinariamente altos.

Projeção de chuva para sete dias do modelo europeu ECMWF

Projeção de chuva para sete dias do modelo alemão ICON

Projeção de chuva para sete dias do modelo canadense

Os mapas acima mostram a tendência com base nos dados de hoje, mas podem ter mudanças. Não quanto à ocorrência de chuva excessiva a extrema, mas sobre quais áreas podem ter os maiores acumulados. Observe nos mapas abaixo a diferença nas projeções de chuva nas saídas das 12Z de ontem e 0Z de hoje.

A maior probabilidade de chuva excepcional é entre o Nordeste do Rio Grande do Sul e o Sul de Santa Catarina. O cenário pode ter algumas mudanças com aumento de chuva em outras regiões pelo posicionamento do centro de baixa pressão. Os modelos apresentam ainda discrepâncias, ora apontando que o ciclone estaria sobre o litoral gaúcho e ora sobre a costa catarinense.

Haverá períodos de chuva forte a torrencial principalmente quando a baixa pressão passar a se aprofundar e atuar na costa na terça e na quarta-feira. A queda da pressão vai estimular nuvens de grande desenvolvimento vertical e uma maior instabilidade atmosférica, gerando episódios de chuva extrema em curto período.

Haverá ainda o vento acrescentando a componente de chuva orográfica (associada ao relevo) que pode levar a acumulados até mais altos em alguns locais do que os projetados pelos modelos, especialmente em áreas de Serra e próximas no Nordeste gaúcho e no Sul e Leste catarinense.

Grande Porto Alegre na zona de risco

Porto Alegre e região metropolitana terão o retorno da chuva neste fim de semana e o tempo não vai firmar até quinta-feira. Serão vários dias seguidos com chuva, embora a previsão é que ocorram no período intervalos sem precipitação em que a nebulosidade diminui e o sol aparece.

O risco meteorológico será maior entre terça e quarta, quando aumenta a possibilidade de chuva por vezes forte a torrencial na região. Modelos divergem sobre os volumes na Grande Porto Alegre, mas alguns apontam índices elevadíssimos, o que justifica um estado de atenção ante o risco de chuva excessiva e potenciais transtornos.

Risco grave de enchentes

É inevitável ante o cenário de chuva projetado pelos modelos numéricos que haja cheias de rios e, consequentemente, enchentes. Com acumulados de 300 mm a 500 mm em poucos dias, o risco é de grandes enchentes em algumas áreas, afetando grande número de pessoas. É crítico ainda o risco de transbordamento de córregos e arroios por conta dos volumes altos somados de vários dias e episódios de chuva torrencial.

Todos os rios da Metade Norte do Rio Grande do Sul, particularmente os das bacias do Nordeste gaúcho, e do Centro, Leste e Sul de Santa Catarina exigirão muita atenção pelo potencial de cheia. Mesmo o Rio Uruguai pode vir a enfrentar nova cheia, desta vez pelos acumulados muito altos no começo da bacia, especialmente no Rio Pelotas.

Os rios que exigirão maior cuidado pelo alto potencial de cheias são o Tubarão, Urussanga, Araranguá, Pelotas, Uruguai, Mampituba, Antas, Caí, Taquari, Paranhana, Gravataí e Jacuí, assim como afluentes. Outros rios da Metade Norte gaúcha e de Santa Catarina podem igualmente apresentar forte elevação em consequência da chuva volumosa.

Guaíba pode ter cheia

É alto o risco de cheia do Guaíba na segunda semana de maio em razão da vazão excessiva dos rios que contribuem com o lago e desaguam no delta do Jacuí. Todas as bacias contribuintes, no Norte e no Nordeste do Rio Grande do Sul, estão compreendidas na área que devem ter os mais altos volumes de precipitação, sem mencionar que a própria chuva que pode ser volumosa na capital e área metropolitana na primeira semana do mês já contribuirá para a alta do nível, mas sem causar cheia no primeiro momento. Moradores das ilhas devem estar atentos pela elevada probabilidade de alagamentos e inundações.

Risco crítico de deslizamentos

A sucessão de dias de chuva volumosa e os acumulados extremos projetados pelos modelos farão o risco de deslizamentos críticos no Nordeste do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, especialmente no Sul e no Leste do estado catarinense. A chuva mais extrema vai se concentrar justamente em áreas de relevo dos dois estados com muitos morros e encostas, aumentando o potencial para escorregamentos de terreno, o que justifica atenção máximas com áreas de risco.

Problemas nas estradas

A chuva significativamente volumosa com acumulados até extraordinários em alguns pontos trará inundações e deslizamentos, o que deve afetar a trafegabilidade em rodovias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. São esperadas quedas de barreiras e é alta a probabilidade de desmoronamentos ante o risco elevadíssimo de deslizamentos.

Entre as rodovias que podem ser afetadas com bloqueios parciais ou totais em razão da chuva estão a BR-101 entre o Litoral Norte do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde há histórico de bloqueios por alagamentos ou deslizamentos de terra, assim como a BR-116 e a RS-122 na Serra Gaúcha. A Rota do Sol também pode ser impactada pela chuva, dentre outras estradas gaúchas e catarinenses.

Temporais e vento

A maior preocupação neste evento de instabilidade será a chuva extrema, entretanto não se pode afastar a ocorrência de temporais isolados de vento e granizo acompanhando nuvens de maior desenvolvimento vertical.

É um cenário distinto dos últimos dias em que uma frente fria avançou sobre uma massa de ar quente. Haverá a passagem de um centro de baixa pressão com chuva pelo Sul do Brasil neste fim de semana e um segundo vai se aprofundar como um vórtice ciclônico entre terça e quarta, reforçando a instabilidade.

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Como se vê nos mapas acima, a baixa pressão deve se aprofundar na costa do Sul do Brasil na terça e na quarta-feira. Modelos divergem sobre o posicionamento do centro do ciclone, mas todas as simulações apontam o centro da área de baixa pressão muito perto da costa ou sobre o litoral, o que pode trazer vento forte principalmente de quarta para quinta-feira.

Não haverá a formação de um ciclone bomba, entretanto a chuva pode vir acompanhada por rajadas de vento moderada a forte, ocasionalmente intensas em alguns pontos. Um risco, pela grande vorticidade da atmosfera com a baixa pressão sobre a faixa costeira, é a possibilidade de formação de trombas d´água (tornado sobre água) nas lagoas e no oceano junto à costa.

O que fazer diante do que se prevê

O evento de chuva extrema que se projeta traz inúmeros riscos à população, notoriamente por inundações, enchentes e deslizamentos de terra. A chuva, conforme estatísticas, é o fenômeno que mais vítimas produz, e não as tempestades. Neste tipo de situação é fundamental estar atento às orientações das coordenadorias municipais de Defesa Civil ante possíveis ordens de evacuação de áreas de risco, sobretudo em encostas e zonas ribeirinhas.

Uma das situações de perigo no episódio de chuva será a ocorrência de inundações repentinas, assim evite terminantemente cruzar de carro áreas alagadas de carro. Se você ver a água subir rapidamente perto da sua casa, não espere. Saia de áreas baixas sujeitas a inundações e busque local mais alto.

Proteja sua propriedade. Se você vive em locais que costumam inundar em enchentes, mova objetos de valor e móveis para níveis mais altos. Desconecte os aparelhos elétricos e não toque se estiver molhado.

Se você for viajar por meio rodoviário durante a primeira semana de maio no Rio Grande do Sul e Santa Catarina consulte antes as informações sobre os estados das rodovias ante possíveis interrupções parciais ou totais. Evite pegar a estrada sob chuva forte a intensa, exceto em caso de necessidade.

Como consultar os mapas

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