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Ciclistas passam pela densa poluição de uma fábrica em Yutian, 100 quilômetros a Leste de Pequim, na província de Hebei, no Noroeste da China. | PETER PARKS/ARQUIVOS AFP/METSUL METEOROLOGIA

A China hoje é o país que mais emite gases do efeito estufa na atmosfera do planeta, mas como o dióxido de carbono pode permanecer na atmosfera por até mil anos, os Estados Unidos lideram o ranking histórico de emissões desde o começo da Revolução Industrial. Os dados cumulativos dos últimos 150 anos mostram que o Brasil foi um dos países que mais emitiu CO2 na atmosfera no período, especialmente pelo uso da terra. O que ocorreu nos últimos 150 anos está intimamente ligado ao 1,2ºC de aquecimento que já ocorreu na Terra.

De acordo com análise publicada pelo Carbon Brief,  a atmosfera recebeu cerca de 2.500 bilhões de toneladas de CO2 (GtCO2) desde 1850. Isso significa que, no final de 2021, o mundo coletivamente terá queimado 86% do orçamento de carbono para uma probabilidade de 50-50 de ficar abaixo da metade do Acordo de Paris de limitar o aquecimento em 1,5ºC.

Em artigo, o Carbon Brief analisou a responsabilidade nacional pelas emissões históricas de CO2 de 1850-2021, atualizando a análise publicada em 2019. Pela primeira vez, a análise inclui as emissões de CO2 do uso da terra e da silvicultura, além das de combustíveis fósseis, o que alterou significativamente as dez primeiras posições.

Em primeiro lugar no ranking, os Estados Unidos liberaram mais de 509 GtCO2 desde 1850 e são responsáveis ​​pela maior parcela das emissões histórica com cerca de 20% do total global. A China ocupou o segundo lugar com 11%, seguindo-se a Rússia (7%), Brasil (5%) e Indonésia (4%). Grandes nações europeias pós-coloniais, como Alemanha e Reino Unido, respondem por 4% e 3% do total global, respectivamente, sem incluir as emissões estrangeiras sob o domínio colonial.

Os totais nacionais são baseados nas emissões territoriais de CO2, refletindo onde as emissões ocorrem. Além disso, a análise examinou o impacto com base no consumo, a fim de refletir o comércio de bens e serviços intensivos em carbono. Essas contas só estiveram disponíveis nas últimas décadas, embora o comércio tenha influenciado os totais nacionais ao longo da história moderna. O estudo explorou ainda os números em relação à população, onde países como China e Índia caem no ranking. Notavelmente, as classificações per capita dependem fortemente da metodologia usada e, ao contrário das emissões cumulativas, em geral tais números não se relacionam diretamente com o aquecimento.

Por que o CO2 cumulativo é importante? Existe uma relação direta e linear entre a quantidade total de CO2 liberada pela atividade humana e o nível de aquecimento na superfície da Terra. As emissões de dióxido de carbono de centenas de anos atrás continuam a contribuir para o aquecimento do planeta e o aquecimento atual é determinado pelo total acumulado de emissões de CO2 ao longo do tempo. Esta é a base científica para o balanço de carbono, a quantidade total de CO2 que pode ser emitida para ficar abaixo de qualquer limite nas temperaturas globais.

A ligação entre as emissões cumulativas e o aquecimento é medida pela “resposta climática transitória às emissões cumulativas” (TCRE), estimada pelo último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em 1,65ºC por 1.000 bilhões de toneladas de carbono. Os humanos emitiram cerca de 2.504 GtCO2 na atmosfera desde 1850, um valor que se alinha com os apresentados pelo IPCC e pelo Global Carbon Project, um esforço internacional para quantificar as emissões a cada ano. Com base no TCRE, essas emissões cumulativas de CO2 correspondem a um aquecimento em torno de 1,13ºC e as temperaturas em 2020 atingiram cerca de 1,2ºC acima dos níveis pré-industriais.

Em nível global, as emissões do uso da terra e da silvicultura permaneceram relativamente consistentes nos últimos dois séculos. Totalizavam cerca de 3GtCO2 em 1850 e estão em cerca de 6GtCO2 hoje, apesar das enormes mudanças nos padrões regionais de desmatamento ao longo do tempo.

Um aumento notável em 1997 foi causado por incêndios florestais generalizados na Indonésia e outras partes da Ásia, posteriormente descritos como um “desastre ecológico sem precedentes”. Em contraste, as emissões de combustíveis fósseis dobraram nos últimos 30 anos, quadruplicaram nos últimos 60 anos e aumentaram quase 12 vezes no século passado. O 0.2GtCO2 liberado em 1850 equivale a apenas meio por cento dos cerca de 37GtCO2 que provavelmente será emitido em 2021.

No entanto, embora a grande maioria das emissões de CO2 hoje seja proveniente da queima de combustíveis fósseis, a atividade humana, como o desmatamento, tem contribuído significativamente para o total acumulado. Aí entra o Brasil que tem grande parte de suas emissões resultantes do uso da terra. A mudança no uso da terra e a silvicultura adicionaram cerca de 786 GtCO2 durante 1850-2021, totalizando quase um terço do total acumulado, com os dois terços restantes (1.718 GtCO2) de combustíveis fósseis.

Países com florestas tropicais como Brasil e Indonésia já desmatavam no final do século 19 e no início do século 20 por colonos que cultivavam borracha, tabaco e outras culturas comerciais, mas o desmatamento acelerou muito por volta de 1950, incluindo a pecuária, extração de madeira e plantações de óleo de palma. O Brasil, apesar de estar no topo do ranking cumulativo de emissões desde 1850, sequer figura no ranking dos dez maiores emissores per capita (considerando a população).