Anúncios

O devastador furacão Ian tocou terra na costa do Sudoeste do estado norte-americano da Flórida, em Ilha Cayo, às 16h05 (hora de Brasília) desta quinta-feira como uma tempestade “extremamente perigosa” de categoria 4 com ventos sustentados de 241 km/h e rajadas mais intensas. A pressão medida no centro do furacão pela sondagem de um voo de reconhecimento da NOAA e da Força Aérea dos Estados Unidos mediu pressão de apenas 940 hPa.

Com isso, Ian empata como o quinto furacão mais intenso a ter tocado terra nos Estados Unidos (48 estados contíguos) em toda a série histórica e empata como o quarto mais forte furacão a ter tocado terra no estado da Flórida, considerando a velocidade do vento. Ian chegou com força histórica com ventos devastadores, chuva extrema e uma elevação de maré sem precedentes na costa Sudoeste do estado norte-americano.

Os ventos violentos que circulavam em torno de Ian empurraram a água do mar para terra no que se denomina de maré de tempestade com uma parede de água de vários metros tomando cidades costeiras. As águas do mar que invadiram cidades como Fort Myers Beach e Naples chegaram a vários metros de altura, alcançando o segundo andar de casas e prédios. A maré de tempestades continuará até estra quarta-feira à noite à medida que Ian se move para o Norte e os ventos de Sudoeste continuam a canalizar a água do mar para o litoral e as baías voltadas para o setor Sudoeste.

SISTEMA COPERNICUS

PIERRE MARKUSE/SISTEMA COPERNICUS

Meteorologistas norte-americanos advertem que devastadoras e perigosas inundações pela maré devem ser esperadas, atingindo dezenas de milhares de casas e empresas que nunca antes inundaram. Prevê-se que a tempestade submerja quase inteiramente as ilhas barreira de Marco, Big Hickory, Estero, Captiva, North Captiva, Sanibel, Cayo Costa, Gasparilla e Pine, de acordo com os experts Jeff Masters e Bob Henson, da Universidade de Yale.

Na base de dados oficiais da NOAA que remonta a 1965, as marés de tempestade mais altas (marés de tempestade junto com maré astronômica) ficaram 3,41 pés acima da média da maré alta em Fort Myers com a tempestade tropical Keith (23 de novembro de 1988) e 4,02 pés acima com o furacão Irma (10 de setembro de 2017). Naples já teve o seu recorde quebrado hoje com Ian com um nível de 6,18 pés, antes de sua estação ficar fora de serviço, e Fort Myers igualmente bateu seu recorde de Irma.

“As inundações pelo avanço do oceano com a maré de tempestades no Sudoeste da Flórida por Ian vão superar qualquer coisa observada nas últimas décadas, talvez desafiando ou até superando os recordes de memória viva estabelecidos durante o furacão Donna em 1960”, destacaram os meteorologistas de Yale. A região agora é habitada por cerca de quatro vezes mais pessoas do que em 1960, o que aumenta muito o potencial de danos catastróficos.

Charley, que tocou terra no mesmo ponto de Ian, foi um furacão de categoria 4 com vento de 241 km/h ao alcançar a costa, mas trouxe um pico de maré de tempestade de 6 a 7 pés para o litoral. A elevação da maré agora é pior porque a diferença está na velocidade de avanço dos dois furacões. Charley estava se movendo rápido a 30 km/h ao tocar terra e não teve tanto tempo para acumular uma grande quantidade de água que avança para terra enquanto Ian se movia hoje a 15 km/h, mais lentamente, empilhando mais água rumo ao litoral.

A baía de Tampa que inicialmente se acreditava sofreria o impacto direto de Ian com devastadora maré de tempestade de 5 a 10 pés, em vez disso, viu uma maré negativa, uma vez que o furacão tocou terra ao Sul da regi]ao. Por causa da circulação anti-horária do ar ao redor de Ian, fortes ventos na costa reduziram o nível do mar na baía de Tampa em mais de um metro e meio na tarde desta quarta-feira. Com Ian progredindo para o Norte nesta quinta, trazendo ventos de terra para o mar, uma subida das águas substituirá o recuo observado.

Ventos arrasadores

Estações meteorológicas na costa registraram rajadas de vento superiores a 200 km/h, como em Captiva, Redfish Pass, Naples Beach e Cape Coral. Muitos equipamentos deixaram de transmitir os dados ou por falta de luz – furacão deixou mais de um milhão de clientes sem energia – ou porque as rajadas violentas destruíram as estações e seus anemômetros (medidor de vento).

À medida que o furacão avança sobre terra e perde a alimentação de energia das águas quentes do mar, a tendência é que enfraqueça e os seus ventos diminuam. Mesmo assim, um corredor que passa pelo centro da Flórida e inclui a área de Orlando deve ter vento muito intenso a destrutivo com rajadas de força de furacão (acima de 120 km/h).

TROPICAL TIBITS

Os furacões que atingem a terra geralmente geram tornados e Ian pode gerar muitos tornados. O Centro de Previsão de Tempestades da NOAA (SPC) emitiu uma área de risco acentuado (a terceira maior de suas cinco categorias de risco) para tornados no Centro-Leste da Flórida. O aumento do cisalhamento do vento e o ar seco de nível médio ajudarão a criar um ambiente que suporte estruturas do tipo supercélula dentro das tempestades à frente do caminho de Ian.

Chuva extraordinária e massivas inundações

Quantidades extraordinárias de chuva são previstas em um amplo corredor ao longo e ao Norte do caminho de Ian, aproximadamente da área de Tampa a Fort Myers e a Nordeste de Jacksonville-Melbourne. Dentro deste corredor, totais generalizados de 250 mm a 400 mm podem ser esperados, com registros de 500 mm ou mais possíveis, incluindo áreas perto de Orlando. Alguns modelos chegam a projetar marcas de 600 mm a 800 mm.

NHC/NOAA

Esses valores podem rivalizar ou exceder os totais de três dias mais altos já registrados em várias grandes cidades da Flórida. Os recordes são de 356 mm em Tampa entre 28 e 30 de julho de 1960 (série iniciada em 1890), 349 mm em Orlando entre 16 e 18 de outubro de 1950 (série de dados tem início em 1892) e 367 mm em Jacksonville entre 28 e 30 de agosto de 1968 (dados desde 1871).

Foi emitido um alerta de nível 4, o mais alto, para inundações na região central da Flórida, o que inclui a área de Orlando, onde parques como a Disney e a Universal anunciaram o fechamento das atrações nos próximos dias.

A administradora da FEMA (agência federal de emergências dos Estados Unidos), Deanne Criswell, e o diretor do Serviço Nacional de Meteorologia, Ken Graham, disseram que as inundações estão entre suas principais preocupações de segurança. Historicamente, a água foi responsável pela grande maioria de todas as mortes durante os ciclones tropicais que atingiram os Estados Unidos: 83% das mortes durante as tempestades de 2016 a 2018 foram relacionadas à água, de acordo com a NOAA.

Por exemplo, mais da metade das mortes associadas ao furacão Ida em agosto de 2021 ocorreram por afogamento e inundações repentinas, já que a tempestade trouxe chuva extrema no Nordeste dos Estados Unidos, a mais de dois mil quilômetros de onde ingressou no continente. Em 2018, o furacão Florence trouxe devastadoras inundações na costa das Carolinas, resultando em quase duas dúzias de mortes.

O terreno relativamente plano e baixo da Flórida também se presta a inundações de pequenos riachos e lagos, inundando casas e empresas próximas. Como a terra é muito plana, grande parte da chuva vai se acumular nas estradas, ruas e outras áreas urbanas. Além disso, as áreas urbanas estão em maior risco de inundações repentinas devido às superfícies de concreto que levam ao excesso de escoamento. À medida que as cidades continuam a se expandir, a ameaça de inundações aumenta.

Quantidade incomum de raios

Uma enorme quantidade de descargas atmosféricas foi registrada na parede do olho do furacão Ian nas horas que antecederam a sua chegada ao continente. O número incomum de descargas acompanhou o processo de rápida intensificação da tempestade que ganhou muita força nas primeiras horas desta quarta-feira.

CIRA/CSU

A CIRA/CSU publicou uma impressionante imagem de satélite com os dados dos sensores de raios GLM do GOES-16 mostrando uma quantidade impressionante de raios em torno do olho, na parede do olho da tempestade. Mais de mil descargas foram captadas pelos sensores na parede do olho na hora que antecedeu tocar terra.

O círculo de raios junto à parede do olho da tempestade Ian era uma das mais incríveis imagens já vistas em monitoramento de raios. Um piloto da Força Aérea dos Estados Unidos que voou a bordo de um avião caça-furacões da NOAA no centro de Ian na última noite se disse espantado com a quantidade de raios. “Parecia dia”, resumiu.

Para onde vai Ian

A fúria de Ian se estenderá muito além do Sudoeste da Flórida. Na quinta-feira de manhã, Ian ainda deve ter força perto da força do furacão quando passar em ou perto da área de Orlando. Ao longo do caminho, e particularmente na densamente povoada Orlando, Ian derrubará árvores e cortará a energia de centenas de milhares de pessoas, assim como o furacão Irma fez em 2017.

NHC/NOAA

Espera-se que Ian retorne ao mar, desta vez na costa Leste da Flórida, na tarde de quinta-feira, ainda como uma tempestade tropical, e depois recurve para o Noroeste, voltando a ganhar força e se transformando novamente em furacão, desta vez tocando terra em algum lugar na Geórgia ou na Carolina do Sul na tarde de sexta-feira.

 

Anúncios