Dois dias depois da passagem do furacão Ian em Cuba, a eletricidade começou a voltar no país. O sistema elétrico entrou em colapso com a tempestade que deixou dois mortos na ilha. “Chegou!”, gritaram moradores de Havana Velha, que correram para verificar o estado dos alimentos guardados em seus congeladores.
Na situação de escassez e crise que os cubanos enfrentam há anos, os alimentos congelados, geralmente frango, são o bem mais apreciado e mais bem administrado pelas famílias, que fazem mágica para colocar três refeições diárias sobre a mesa. O mesmo aconteceu em Centro Havana, outro município da capital, de 2,1 milhões de habitantes.
Ambas as localidades têm linhas de energia subterrâneas, portanto menos propensas a serem danificadas por ventos fortes. Segundo a União Nacional Elétrica (UNE), monopólio estatal do setor, duas linhas de alta tensão do Sistema Elétrico Nacional (SEN) acionaram suas redes de proteção devido a cabos cortados pelos ventos.
“Essa situação provocou um desequilíbrio de potência devido ao excesso de geração na zona ocidental e ao déficit de geração na zona centro-oriental”, que causou instabilidade entre ambas as zonas e, consequentemente, a queda total do sistema elétrico, explicou.
Teve início ontem a entrada em operação e a incorporação gradual das oito grandes termelétricas e dos geradores que compõem o sistema elétrico nacional. Dessa forma, começou o restabelecimento do serviço para parte dos consumidores em 25 áreas de Havana e outras 11 províncias.
Nas províncias de Pinar del Río, Artemisa e Mayabeque, as mais ocidentais do país e fortemente afetadas pela passagem de Ian, no entanto, o restabelecimento do serviço será mais lento. Muitos postes caíram e cabos de energia foram rompidos com as rajadas de vento perto de 200 km/h.
O presidente Miguel Díaz-Canel fez uma viagem para verificar os danos em Pinar del Río e Havana e anunciou uma oferta de ajuda dos governos do México e da Venezuela. Ian, que atingiu Pinar del Río na madrugada de terça-feira, causou bastante destruição nessa província, e em Havana provocou cinco colapsos totais, e 68, parciais, de edifícios residenciais, informaram autoridades.
Apagões acontecem com frequência em Cuba, país de 11,2 milhões de habitantes, e desde maio têm sido prolongados por falta de geração elétrica, mas nenhum deles teve alcance nacional. Na Ilha da Juventude, localizada a 340 km de Havana e primeiro território atingido pelo furacão Ian, “temos luz desde as 17h de ontem”, disse à AFP a dona de casa Roxana González, 75 anos, por telefone.
A ilha tem geração própria e não depende do SEN. Ainda assim, suas tecnologias obsoletas e a falta de manutenção têm causado frequentes e longos apagões na ilha desde maio. Em passeio matinal por uma Havana sem luz, a AFP observou que o gerador flutuante turco ancorado na baía estava com as chaminés desligadas, assim como a antiga e pequena usina termelétrica Tallapiedra, que funciona apenas em casos de emergência.