Uma área de baixa pressão atmosférica atualmente no Norte da Argentina já favoreceu chuva em pontos do estado ontem e hoje traz maior instabilidade no Rio Grande do Sul. À medida que o sistema vai ingressar no território gaúcho nas próximas horas, a tendência é de a instabilidade aumentar ainda mais com chuva localmente forte e elevados volumes isolados de precipitação.

A imagem de satélite do final da manhã desta sexta-feira mostrava o Rio Grande do Sul coberto por abundante nebulosidade e chovia fraco em diversos pontos pela análise das imagens dos radares meteorológicos. O centro de baixa pressão que estimula a instabilidade em meio a uma atmosfera quente e úmida com fluxo de umidade da Amazônia, entretanto, ainda se encontra no Norte da Argentina.

A influência desta área de baixa pressão atmosférica já contribuiu ontem para chuva em vários pontos do estado e com acumulados altos em algumas cidades. Embora os volumes variem uma enormidade dentro de um mesmo município, estações registraram acumulados de até 58 mm em Ijuí, 56 mm em Candelária, 46 mm em Passo Fundo, 37 mm em Entre-Ijuís, 26 mm em Caxias do Sul e 22 mm em Serafina Corrêa.

O centro de baixa pressão será responsável por trazer mais chuva para o Rio Grande do Sul na tarde e noite desta sexta, durante o fim de semana e ainda no começo da semana. Por que tantos dias de instabilidade por um mesmo sistema se ele não vai estar quase estacionário ou parado em um mesmo lugar?

A resposta está na trajetória que os modelos numéricos projetam para este sistema que não é a convencional e pode ser chamada até de “estranha”, embora este percurso diferente do habitual da baixa pressão não necessariamente signifique perigo. O diagrama de fase para ciclones da Universidade Estadual da Flórida mostra como esta baixa pressão (que pela sua natureza é ciclônica) vai passar ao menos três dias oscilando de posição junto ao litoral gaúcho.

Comumente, os centros de baixa pressão que avançam do Norte da Argentina para o Uruguai e o Sul do Brasil depois se deslocam para o oceano e, uma vez sobre o mar, se distanciam do continente. Não é o que os modelos numéricos estão projetando para este sistema que vai dar um verdadeiro “passeio” no entorno do Rio Grande do Sul.

Conforme as projeções, o centro de baixa pressão ingressa no final desta sexta e na madrugada de sábado pelo Oeste do Rio Grande do Sul e parte do Uruguai. Depois, avança para o Sul gaúcho, onde começa a se aprofundar. Após, o sistema chega ao oceano na costa gaúcha.

Até aí tudo dentro do que comumente costuma se observar em trajetória deste tipo de sistema meteorológico. Só que a partir deste momento, que chega à costa gaúcha, diferentemente do caminho habitual de ir para o Sul ou se distanciar do continente para Leste, o centro de baixa pressão avançará para Norte e vai se posicionar na costa do Litoral Norte gaúcho. E depois, vai subir um pouco mais e ficar na altura do litoral do Sul de Santa Catarina.

Então, no começo da semana, os modelos projetam que o centro de baixa vai voltar a avançar para o Sul em direção à costa do Rio Grande do Sul e entre terça e quarta-feira finalmente se afastaria da costa gaúcha no sentido Sul e Sudeste depois de um giro de vários dias em torno do território gaúcho.

Os mapas a seguir com as projeções do modelo meteorológico alemão Icon deste sábado até a terça ilustram bem como será o deslocamento desta área de baixa pressão: do Norte argentino para o Oeste gaúcho, depois no Sul do Rio Grade do Sul, na costa gaúcha, na altura do litoral Sul catarinense, de volta para o litoral gaúcho e, finalmente, o seu afastamento.

Com o deslocamento da baixa pressão em direção ao Rio Grande do Sul, a chuva se intensifica e fica mais generalizada. Áreas de instabilidade mais fortes devem avançar pelo território gaúcho entre a tarde e a noite desta sexta com chuva em todas as regiões, embora irregular. Alguns locais podem registrar chuva localmente forte.

Conforme alguns dados, setores da Metade Oeste gaúcha podem ter chuva localmente forte a torrencial com altos volumes em curto período entre a noite desta sexta e as primeiras horas do sábado, chuva que pode vir com raios e ocasionais temporais.

Amanhã, mais instabilidade. Com o centro de baixa pressão no estado gaúcho, o dia registrará muitas nuvens e chuva na maior parte do estado, novamente irregular e isoladamente forte, mas com momentos de melhorias em diferentes pontos.

No domingo, com a baixa pressão na costa, a instabilidade diminui drasticamente e não chove em muitas cidades com o sol aparecendo com nuvens em muitas cidades. A chuva, mais isolada, tende a se concentrar na Metade Leste gaúcha, sobretudo no Leste e no Nordeste gaúcho, mas mesmo nestas regiões ocorrem aberturas de sol.

Na segunda, com a baixa pressão na costa, ainda pode ter chuva isolada em setores da Metade Leste gaúcha, mas as precipitações serão bastante irregulares. Na maior parte do estado não chove na segunda-feira.

Os mapas acima mostram a tendência de chuva dia a dia pelo modelo europeu entre hoje e a segunda-feira. Como se vê, a instabilidade maior no Rio Grande do Sul deve ocorrer entre hoje (mais da tarde para a noite) e este sábado, sendo mais limitada geograficamente no começo da semana.

Uma vez que a instabilidade vai se dar numa atmosfera aquecida e a partir de um centro de baixa pressão atmosférica, as condições não serão apenas favoráveis para chuva como devem ser propícias para precipitações localmente fortes a torrenciais com elevados volumes em curto intervalo, verdadeiros aguaceiros isolados que são capazes de gerar alagamentos. Mas, repita-se, em setores localizados.

Se a chuva deverá ser benéfica para o campo, mesmo sendo irregular na distribuição e não chovendo com altos volumes em todas as cidades, estas ocorrências de chuva forte e muito forte com caráter localizado podem provocar transtornos em áreas urbanas. O cenário atmosférico será típico de formações de nuvens carregadas isoladas que em algumas localidades podem despejar volumes de 30 mm a 50 mm em meia hora a uma hora. Neste tipo de situação, em zonas urbanas, alagamentos são uma certeza.

Outro risco é a possibilidade de que ocorram temporais. O cenário é muito mais favorável ao registro de chuva isoladamente forte a intensa e não temporais generalizados, mas sob ar quente e uma baixa pressão atmosférica podem se dar ocorrências pontuais e localizadas em que se formam tempestades com rajadas de vento e queda de granizo.

A chuva, mesmo sendo irregular e sem previsão de cair com volumes altos em todo o estado, vem em um momento crítico para o campo gaúcho e para o estado, onde mais de 300 municípios já decretaram situação de emergência pela estiagem. Parte da safra já foi perdida, mas ainda existem lavouras carecendo de água e muitos produtores recorreram ao replantio, assim que este evento de chuva tem um elevado potencial de trazer benefícios para a agricultura.