Olho do furacão Florence, em setembro de 2018, quando a tempestade passava pelo Atlântico Norte e fotografado do espaço por astronauta a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) | ALEXANDER GEST/ESA/NASA

Todos os sinais apontam para mais uma temporada de furacões hiperativa no Atlântico Norte. A mais recente saída do modelo climático europeu aumentou ainda mais o temor de experts em ciclones tropicais sobre uma temporada em 2022 com alto número de tempestades. Segundo a última projeção do modelo europeu, seriam 19 tempestades nomeadas e 11 furacões, número acima do que está sendo projetado pela Meteorologia oficial do governo dos Estados Unidos.

Já na primeira semana da temporada, o Atlântico Norte teve a formação da tempestade tropical Alex, que causou mortes e destruição em Cuba, além de desabamentos de centenas de prédios e casas na ilha caribenha. O mesmo sistema foi responsável por grandes inundações no Sul do estado norte-americano da Flórida com muitos alagamentos na área de Miami.

Conforme o meteorologista e especialista em ciclones tropicais Jeff Masters, da Universidade de Yale, a atividade de furacões no Atlântico no início da temporada em junho e julho geralmente tem muito pouca correlação com a atividade da temporada como um todo, exceto se sistemas se formem na área tropical. A formação de Alex ocorreu no Noroeste das Bahamas, local que não implica necessariamente que uma temporada ativa esteja à frente.

Masters destaca que se tempestade em junho ou julho se forma na área tropical, como ocorreu em 2021 quando o furacão Elsa se formou no Atlântico tropical no início de julho e depois seguiu para o Leste do Caribe, “isso provavelmente seria um prenúncio de uma temporada de furacões ativa”.

Desde 1900, apenas sete anos tiveram furacões no Leste do Caribe antes de 1º de agosto: 1926, 1933, 1961, 1996, 2005, 2020 e 2021. Todos esses sete anos foram classificados como estações hiperativas de furacões no Atlântico usando a definição NOAA: uma energia ciclônica acumulada (índice ACE) de pelo menos 160 unidades.

O ano de 2022 já é o primeiro desde 2014 que o Atlântico não teve a sua primeira tempestade nomeada antes do início oficial da temporada de furacões em 1º de junho, mas a formação de Alex em 5 de junho veio bem antes da data média histórica de 20 de junho para a primeira tempestade da temporada de furacões pela climatologia 1991-2020.

Jeff Masters observa que, ao considerar o início e o fim da temporada de furacões no Atlântico, ela parece estar ficando mais longa na região ao Sul de 30°N e a Leste de 75°W, de acordo com artigo de 2008 na Geophysical Research Letters publicado por James Kossin da Universidade de Wisconsin e intitulado “A temporada de furacões no Atlântico Norte está ficando mais longa?”.

Uma análise de 2016 por Ryan Truchelut também apoiou essa ideia, mas não há consenso na comunidade científica sobre a temporada de furacões estar mais longa e começando antes da data oficial histórica de 1º de junho. Juliana Karloski e Clark Evans, da Universidade de Wisconsin-Milwaukee, realizaram um estudo sobre o mesmo tema e não encontraram nenhuma tendência nas datas de formação de ciclones tropicais ao observar todo o Atlântico para o período 1979-2014.

O meteorologista Jeff Masters, da Yale Climate Connections, entende que, sim, a temporada certamente está começando mais cedo quando se observa a data de formação da primeira tempestade nomeada da temporada. Observa, porém, que as datas de formação do primeiro furacão da temporada não mudaram significativamente e têm seguido a climatologia histórica do Atlântico Norte.