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Estado norte-americano da Califórnia enfrentou graves inundações (foto) no último inverno setentrional sob La Niña e agora com El Niño, que deveria provocar muita chuva, está com precipitações abaixo da média. | MARIO TAMA/GETTY IMAGES/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Existem dois lugares nas Américas que por muito tempo os cientistas sabem que o El Niño costuma trazer muita chuva. O Sul do Brasil e áreas próximas como o Uruguai, o Centro e o Nordeste da Argentina, e o estado norte-americano da Califórnia. Que o El Niño de 2023 trouxe muita água para o Sul do país é sabido, mas na costa Oeste dos Estados Unidos a realidade não foi a mesma.

Por isso, quando se fala em El Niño imediatamente vem à mente de quem vive no Sul do Brasil a ideia de muita chuva e enchentes. O mesmo ocorre com o imaginários dos milhões de habitantes do estado norte-americano da Califórnia, mas, diferentemente daqui, o El Niño não mostrou até agora ao que veio para os californianos.

Por que quem mora tem no imaginário o excesso de chuva pelo El Niño? No Super El Niño de 1982-1983, o aquecimento do Pacífico causou tempestades que atingiram a costa do estado, danificando mil casas entre Santa Bárbara e a fronteira mexicana. Parte do icônico píer de Santa Monica Pier foi parar no mar. Já no Super El Niño de 1997-98, o evento desencadeou enchentes massivas na costa Oeste, contribuindo para pelo menos 17 mortes e bilhões de dólares em danos.

Só que neste século está sendo diferente. No Super El Niño de 2015-2016, quando também choveu demais no Sul do Brasil, a chuva na Califórnia foi inferior a de um ano normal, sem a atuação do fenômeno. Já no último inverno, quando havia La Niña, que favorece seca, e trouxe estiagem no Sul brasileiro, a estação foi uma das mais chuvosas da história do estado norte-americano.

Até agora, a temporada de chuvas da Califórnia começou de forma notavelmente seca, com menos de 2,7 polegadas (70 mm) de precipitação em todo o estado entre 1º de outubro e 14 de dezembro, cerca de 46% da média histórica.

“Quando você ouve El Niño, visualiza imediatamente inundações e deslizamentos de terra porque todo mundo se lembra de ’97-’98”, disse Bill Patzert, um climatologista aposentado do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA em La Cañada Flintridge. “Mas o padrão normal nunca foi garantido”, afirmou ao jornal Los Angeles Times.

“El Niño e La Niña são uma das muitas coisas no sistema terrestre que podem afetar se a Califórnia tem invernos úmidos ou secos”, disse Daniel Swain, um cientista do clima da UCLA. “E, criticamente, é uma das únicas coisas que podemos realmente prever com antecedência. Portanto, permanece hoje o preditor mais importante da precipitação de inverno na Califórnia, mesmo que não nos diga tudo o que precisamos saber para fazer uma previsão infalível”, destacou.

Enquanto o El Niño tende a ocorrer em uma escala de tempo sazonal, ou seja, por meses, existem outros padrões atmosféricos, como a Oscilação Madden-Julian (OMJ), que se movem em escalas subsazonais, na escala de dias ou semanas, e também podem influenciar as condições de chuva.

A OMJ foi em parte responsável pelas condições inesperadamente úmidas no início deste ano no estado da Califórnia, quando o Oeste dos Estados Unidos enfrentou graves inundações e cidades californianas ficaram debaixo d´água com transbordamento de rios, córregos e volumes recordes de chuva em algumas localidades. As montanhas de Sierra Nevada, que cortam a Califórnia, experimentaram quantidades de neve acumuladas absurdas e sem precedentes em alguns pontos de observação.

Com base na análise de modelos de curto e médio prazo, a MetSul Meteorologia enxerga um cenário de aumento da chuva no estado norte-americano da Califórnia nesta virada de ano e nas primeiras semana de janeiro, inclusive com a possibilidade de precipitação excessiva em alguns pontos com padrão mais tempestuoso na costa Oeste dos Estados Unidos.