O vídeo de uma nuvem de tempestade com enorme quantidade de raios na noite de ontem no município de Nonoai, Norte do Rio Grande do Sul, espantou os internautas que seguem a MetSul na rede social Twitter. No vídeo de Márcio Particheli, uma enorme nuvem isolada no céu com forma de “cogumelo” aparece com alta frequência de raios e relâmpagos em seu interior. O vídeo gerou uma grande quantidade de comentários, alguns de espanto e outros bem humorados com comparações com filmes e séries.

Que nuvem é essa? Trata-se da famosa nuvem Cumulonimbus, também conhecida pela sigla Cb, que traz as tempestades mais fortes. É formação de nebulosidade de grande desenvolvimento a partir da condensação de vapor de água na troposfera inferior que ascende com potentes correntes de ar ascendentes. Esta nuvem é conhecida por atingir grandes altitudes e apresenta um formato típico de bigorna ou cogumelo.

O vapor d´água em um Cb ao ascender se converte em cristais de gelo, como neve e graupel, cuja interação pode levar à formação de granizo e raios. Uma nuvem Cumulonimbus pode se formar sozinhos, como foi o caso de Nonoai, em aglomerados ou ao longo de linhas de instabilidade. São capazes de gerar muitos raios e outras condições meteorológicas severas perigosas, como tornados, ventos destrutivos e granizo de variado tamanho.

Os topos destas nuvens Cb são conhecidas por alcançar grandes altitudes. Normalmente, uma nuvem Cumulonimbus alcança até 12.000 metros ou 39.000 pés, mas podem ocorrer casos mais extremos em que seus topos atingem até mais de 20.000 metros ou 70 mil pés. Por isso, quando há uma grande nuvem de tempestade deste tipo com raios, os relâmpagos podem ser vistos a enormes distâncias. Já houve casos em formações de Cb no verão de relâmpagos serem observados de Porto Alegre de uma nuvem a mais de duzentos quilômetros de distância.

O tipo de vídeo que foi gravado em Nonoai é mais comum no verão. Isso porque na estação quente do ano são comuns estas formações de tempestades isoladas pelo calor intenso e a umidade. No inverno, ao contrário, os Cbs não deixam de ser frequentes, mas não costumam aparecer de forma isolada e, em regra, estão dentro de aglomerados por sistemas de maior escala como uma frente fria ou um centro de baixa pressão. Na noite de ontem, pelo ar quente trazido junto a uma frente quente, várias células intensas isoladas se formaram com nuvens do tipo Cumulonimbus, como mostravam as imagens de radar meteorológico da Aeronáutica.

As nuvens Cumulonimbus se formam em grande parte do planeta e, em média, 1800 atuam a cada instante no mundo com temporais e raios que atingem a Terra ao redor de cem vezes a cada segundo. Se estas nuvens são fascinantes de olhar à distância, são muito perigosas pelos fenômenos severos que podem provocar. No céu, elas são uma preocupação para os pilotos de pequenos ou grandes aviões.

Voar dentro destas nuvens é de extremo risco, mas quando há um alinhamento de tempestades às vezes os pilotos de aviões comerciais não conseguem evitar a turbulência associado, embora contem com radar meteorológico onboard na aeronave para evitar as partes mais intensas da tempestade junto à nuvem.

Uma nuvem Cumulonimbus, pelas suas correntes ascendentes e descendentes violentas, dentro e junto à nuvem gera turbulência forte a severa, granizo, formação de gelo, raios e por vezes tornados, o que é um risco para as aeronaves principalmente no pouso e decolagem ante o perigo de cortantes de vento e correntes descendentes violentas (microburst).

Depois de vários acidentes aéreos causados por correntes descendentes (downbursts) nos Estados Unidos, aeroportos passaram a contar com radares meteorológicos e foram realizados vários estudos no país. O caso mais famoso é do desastre do voo Delta 191 em que morreram 137 pessoas. A aeronave se preparava para pousar no aeroporto de Dallas quando foi atingida por um microburst, uma corrente de vento descendente intensa em uma nuvem de tempestade, e o avião foi levado a se chocar contra o solo a um quilômetro da pista.