O noticiário de imprensa desta sexta-feira informa que um ciclone bomba vai atingir a Região Sudeste do Brasil. As matérias jornalísticas, baseadas em informações meteorológicas que não são da MetSul Meteorologia ou órgãos oficiais, indicam que a região será assolada por ciclone bomba neste fim de semana. As publicações chegam a citar em seus títulos que o ciclone vai atingir estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

As informações não procedem. O ciclone extratropical que se formará nas próximas horas e vai atuar no Atlântico Sul neste fim de semana vai estar até mil a dois mil quilômetros de distância dos estados do Sudeste do Brasil, informa o meteorologista da MetSul Luiz Fernando Nachtigall. O sistema se formará nas latitudes do Rio da Prata e do Rio Grande do Sul, em alto mar, a uma grande distância da costa.

“Assim, o ciclone sequer chegará perto de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e muito menos Minas Gerais no fim de semana”, destaca Nachtigall. Ciclones extratropicais intensos não se formam perto da Região Sudeste que não é uma região ciclogenética (de formação de ciclones), exceto por raros casos de ciclones subtropicais. Estes sistemas se formam normalmente no litoral da Argentina e perto da Antártida, em áreas até o Rio da Prata e a costa uruguaia, e com menor frequência junto ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Estes são dados objetivos. O que é subjetivo e matéria de interpretação pelo meteorologista é a classificação em ciclone bomba porque cada profissional utiliza os dados de sua preferência e confiança. No caso da MetSul, utilizamos o modelo meteorológico europeu ECMWF na previsão de ciclones. Trata-se do modelo global com maior índice de precisão no mundo e que tem a maior assertividade em ciclones nas latitudes médias da América do Sul.

Consultando os dados do modelo europeu, pela rodada das 12Z de hoje, se tratará sim de um ciclone bomba. Isso porque preencherá o critério de aprofundamento de ao menos 24 hPa em 24 horas. O centro de baixa pressão que estava às 9h desta sexta-feira com 1010 hPa na costa do Uruguai estará no mesmo horário neste sábado com uma pressão atmosférica central de 979 hPa a cerca de mil quilômetros a Leste da foz do Rio da Prata (Buenos Aires e Montevidéu) e a mais de mil quilômetros ao Sul de São Paulo e do Rio de Janeiro. Logo, em 24 horas vai se aprofundar 31 hPa e será preenchido o critério de ciclone bomba.

Na sequência, o ciclone extratropical vai seguir sua trajetória para Leste e se distanciará ainda mais da área continental da América do Sul, portanto jamais chegando ao Sudeste do Brasil ou a qualquer área do território brasileiro.

Ciclones extratropicais, observa Nachtigall. especialmente os mais intensos, como esse, tem um campo de vento de grande amplitude. Por isso, a circulação ciclônica deve trazer vento moderado e por vezes com rajadas fortes em média de 60 km/h a 80 km/h no Sul e no Leste do Rio Grande do Sul, em particular na costa onde podem ser isoladamente superiores, no ingresso de uma massa de ar frio neste sábado. O tempo deve ficar ventoso por algumas horas também em Porto Alegre e o Sul da área metropolitana.

Como se observa no mapa abaixo do nosso modelo de alta resolução WRF, o campo de rajadas muito intensas acima de 100 km/h (em cor de rosa) vai ficar em alto mar e distante do litoral do Sul do Brasil, logo mais perto do centro da tempestade oceânica. O ciclone vai se aprofundar muito a uma maior distância do continente, diferentemente do que ocorreu na chamada bomba meteorológica de 30 de junho e 1º de julho de 2020.

Rajadas fortes podem ocorrer ainda na costa de Santa Catarina e do Paraná. Uma vez que o ar frio vai alcançar o Leste paulista e o Rio de Janeiro, o vento pode soprar por vezes moderado com rajadas fortes em alguns pontos quando da chegada de uma frente fria e do ar mais frio no Sul e no Leste paulista e no Rio de Janeiro, mas sem previsão de vento extremamente forte.

“O que vai atingir diretamente o Sudeste do Brasil não será o ciclone e sim a frente fria associada a ele, como ocorre com as demais frentes que também são associadas a ciclones extratropicais, fenômeno comum no Atlântico Sul”, explica o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall.  Esta frente trará chuva para áreas perto da costa no estado de São Paulo e em diferentes pontos do Rio de Janeiro. Não se afasta chuva isoladamente forte.

Outra consequência do ciclone no Atlântico Sul será no mar. Os ventos muitos fortes do ciclone em mar aberto devem gerar swell que mais uma vez deve resultar em agitação marítima nos litorais do Sul e do Sudeste do Brasil com possível ressaca do mar em diversas praias e ainda a perspectiva de ondas mais elevadas que vão ser desfrutadas pelos surfistas.

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