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O Hemisfério Norte experimenta sucessão de eventos extremos de calor com recordes históricos de temperatura e períodos excepcionalmente quentes prolongados. A cidade de Phoenix, nos Estados Unidos, por exemplo, caminha para fechar um mês como todos os dias registrando 43ºC ou mais. Na Califórnia, a temperatura atingiu 53ºC no Vale da Morte. Miami enfrenta a onda de calor mais prolongada de sua história.

Na Europa, o Sul do continente é castigado por uma brutal onda de calor que assola ainda o Norte da África e parte do Oriente Médio com superaquecimento das águas do Mediterrâneo. Espanha, Grécia e Itália são os países mais castigados. Roma teve a maior temperatura de sua história observacional com quase 42ºC e o Sul italiano se aproximou dos 48ºC.

Na Ásia, depois de recordes nacionais de calor em diversos países na primavera, a China teve temperatura que atingiu 52,2ºC no Noroeste do país, estabelecendo um novo recorde nacional absoluto de temperatura máxima, meses depois de o país asiático ter tido um recorde nacional absoluto de temperatura mínima.

Embora as temperaturas globais tendam a atingir um pico no final de julho, o calor extremo que envolve o planeta neste mês está longe do normal. O mês passado foi o junho mais quente já registrado na Terra, de acordo com pesquisadores da Organização Meteorológica Mundial, e os cientistas disseram que as duas primeiras semanas de julho foram as mais quentes desde pelo menos 1940, e muito provavelmente antes disso.

As onda de calor excepcional são impulsionadas em parte por variabilidade natural do clima e em parte pelas emissões contínuas de gases que retêm o calor, principalmente da queima de combustíveis fósseis. Neste ano, há o agravante do retorno do El Niño, padrão climático cíclico que tende a ser associado a anos mais quentes em todo o mundo.

Julho de 2023 provavelmente será o mês mais quente do mundo em “centenas, senão milhares, de anos”, disse o principal climatologista da NASA, Gavin Schmidt. Este mês já registrou recordes diários quebrados de acordo com ferramentas da União Europeia e da Universidade do Maine, que combinam dados terrestres e de satélite em modelos para gerar estimativas preliminares.

Espanha vive verão de seca e tórrido | CRISTINA QUICLER/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Uma mulher se refresca com garrafas de água gelada, distribuídas pela Cruz Vermelha Helênica perto da entrada do sítio arqueológico da Acrópole, em Atenas. | LOUISA GOULIAMAKI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Países mediterrâneos são os mais atingidos pelo calor na Europa | TIZIANA FABI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Dee Lee, de 34 anos, tenta se refrescar em meio ao calor escaldante em Phoenix, Arizona, nos Estados Unidos | BRANDON BELL/GETTY IMAGES/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O calor extraordinário no Norte da África, Europa, América do Norte e Ásia é um sinal para o verão brasileiro? Esta é uma pergunta extremamente difícil de responder pelas características climáticas do Brasil e, em princípio, para a maioria das áreas não é um indicativo de que calor excepcional vai ocorrer entre dezembro e fevereiro.

Por quê? Os meses mais quentes do ano nestes locais castigados no Hemisfério Norte pelo calor extremo são os de verão, mas em parte do Brasil as mais altas temperaturas do ano não ocorrem tradicionalmente no verão e sim no fim do inverno e no começo da primavera.

O período de junho a setembro marca o que se denomina da estação seca no Centro do Brasil, afetando o Centro-Oeste e o Sudeste. Cuiabá, por exemplo, que é uma cidade conhecida pelo calor, tem na climatologia histórica os seus dias mais quentes em valores extremos justamente no período seco.

Goiânia tem temperatura máxima média mensal de 32,7ºC em agosto, 34,0ºC em setembro e 33,2ºC em outubro, mas na estação verão as média máximas mensais são inferiores com 30,6ºC em dezembro, igual valor em janeiro e 31,0ºC em fevereiro.

Ainda sobre a capital goiana como um exemplo de que o pior do calor não ocorre no verão, mas no fim do inverno e na primavera. De acordo com a estatística 1991-2020, a cidade teve, em média, por ano, 4 dias acima de 35ºC em agosto, 13 em setembro e 9 em outubro, entretanto somente um em média em dezembro, janeiro e fevereiro. De uma média de 31 dias por ano com mais de 35ºC em Goiânia, 26 ocorrem apenas no trimestre agosto a outubro.

O mesmo ocorre em Brasília com médias máximas superiores no final do inverno e no começo da primavera do que não verão. E também no interior de São Paulo. Em Franca, o número média de dias acima de 30ºC é de 12 em setembro e também 12 em outubro. Dezembro tem quatro e janeiro e fevereiro cinco cada um.

É o que se vê também em áreas de Minas Gerais mais próximas do Brasil Central, onde a curva de temperatura tem forte influência da estação seca. Caso do Triângulo Mineiro. Uberaba tem as suas maiores médias máximas anuais em setembro e outubro, o que se repete em Uberlândia.

A cidade de São Paulo é um caso em particular. Os meses mais quentes do ano, na média mensal, são os do verão, de dezembro a março, embora seja o período mais chuvoso do ano. Por outro lado, os extremos de calor com dias de marcas muito altas costumam ocorrer no final da temporada seca, em setembro e outubro. Os paulistanos não apenas devem ter meses muito quentes pela frente como devem sofrer com extremos de calor, especialmente na primavera e no verão.

O que regula os extremos de calor, assim, em grande parte do Brasil é a chuva. A existência de uma temporada seca e outra chuvosa. Países que no momento enfrentam calor extremo na Europa não possuem uma temporada de monções (chuva) tão marcante como o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil. No verão, a atmosfera está mais úmida e a chuva é bastante frequente, o que tende a frustrar extremos de calor maiores.

Já no fim do inverno e no começo da primavera, quando ainda chove pouco normalmente, e a atmosfera começa a ficar mais aquecida, ocorrem estes extremos de temperatura alta no Centro-Oeste, no Sudeste e em áreas do Nordeste de clima mais árido ou distantes da costa.

A maior temperatura registrada oficialmente no Brasil foi de 44,8°C em Nova Maringá, Mato Grosso, em 4 e 5 de novembro de 2020, superando o recorde também oficial de Bom Jesus, Piauí, em 21 de novembro de 2005, de 44,7 °C, de 5 de novembro de 2005. Ambas as marcas não se deram no verão.

Assim, o maior aquecimento do planeta com sucessivas e simultâneas ondas de calor marinhas, e ainda um El Niño de forte intensidade mais tarde neste ano, pode levar a extremos térmicos de calor excessivo em áreas do Sudeste, do Centro-Oeste, do Sul da região amazônica e do interior do Nordeste principalmente entre setembro e novembro, adverte a MetSul Meteorologia.

A probabilidade que os meses da primavera e do verão tenham temperatura acima da média, e em alguns locais muito acida média, é altíssima em quase todo o Brasil. Do Sul ao Norte. Sob seca do El Niño, a temperatura pode ficar muito acima do normal, por exemplo, em áreas mais ao Norte do Brasil, tanto em parte do Nordeste como do Centro-Oeste e do Norte, especialmente na região da Amazônia Legal.

E onde o calor pode ser pior no verão com mais extremos em 2024? Dentre as maiores cidades do Brasil, o Rio de Janeiro não apenas tem as maiores médias de temperatura do ano no verão como tem na estação quente os seus maiores extremos de temperatura. A cidade do Rio é uma que em 2024 pode ter um verão por demais quente e com muitos dias de máximas extremas. O risco será ainda maior se ocorrer um aquecimento do Atlântico na costa brasileira.

Nenhuma região do Brasil, contudo, tem risco tão alto de repetir os extremos de calor do verão de 2023 no Hemisfério Norte como o Sul do Brasil. Isso porque, diferentemente de grande parte do país, os estados mais ao Sul, em particular o Rio Grande do Sul, não possuem os seus extremos anuais de calor modulados por chuva.

Diferentemente do Sudeste e do Centro-Oeste, que possuem meses muito secos em quase nada chove (inverno) e outros de muita chuva (verão), a maior parte do Sul do Brasil não tem diferenças enormes em suas médias de chuva entre o verão e o inverno, com maior regularidade na precipitação anual, exceção de áreas do Paraná.

O verão de 2024 se desenha muito quente com temperatura acima da média no Sul do país. Diferentemente do período de 2020 a 2023, sob La Niña, que favoreceu estiagens em todos os verões, o verão próximo deve ter mais chuva e umidade, o que vai significar um maior número de dias abafados com noites mais quentes e maior frequência de tempestades de verão.

Embora prolongadas e severas ondas de calor de calor se tornem mais propícias sob seca, onde tempo seco e calor se retroalimentam em bolhas de calor, é elevado o risco de ondas de calor no Sul do Brasil no próximo verão, em particular no Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina e do Paraná. Devem, assim, ser esperados dias de calor extremo. Extremos à parte, o tempo muito quente mais persistente, na média, fará do verão escaldante.

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