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O Rio Grande do Sul enfrentou uma histórica e muito prolongada estiagem a partir do final de 2019 e que perdurou até meados do outono de 2020, o que quebrou a safra de verão do ano passado e deixou mais de 400 municípios gaúchos em situação de emergência. A estiagem se estendeu a países vizinhos e reduziu dramaticamente a chuva também em partes de Santa Catarina, do Paraná e do Centro-Oeste do Brasil, o que foi determinante para a temporada de incêndios muito acima do normal no Pantanal.

No inverno, dois grandes eventos de chuva associados a ciclones extratropicais no mês de julho, um deles o ciclone bomba do dia 1º, trouxeram grandes acumulados de chuva para o Rio Grande do Sul. Houve enchentes, o Rio Taquari teve a terceira maior cheia em um século e meio, e Porto Alegre uma das maiores cheias do Guaíba dos últimos 80 anos.

Na primavera, que normalmente é chuvosa, as precipitações voltaram a escassear  muito no Rio Grande do Sul e diversas regiões do Estado voltaram a enfrentar os problemas da estiagem com prejuízos na cultura de milho e racionamento de água em algumas cidades. Agora, no verão, a chuva tem sido mais abundante em algumas regiões e mais escassa em outras com grande variabilidade de volumes entre diferentes localidades, o que traz uma situação hídrica muito dispare no Rio Grande do Sul.

Desvio de precipitação observado de 15 de outubro de 2020 a 15 de janeiro de 2021

A MetSul Meteorologia adverte que o Rio Grande do Sul está prestes a entrar em período de enorme instabilidade que vai trazer acumulados de chuva altíssimos agora no final de janeiro e no começo de fevereiro. Será o maior evento de precipitação em meses com uma série de episódios de instabilidade em sequência.

Os acumulados projetados por modelos numéricos são impressionantes em uma situação completamente atípica para os meses de verão. O que se desenha é algo mais comum de ocorrer nos meses de inverno e da primavera. Os volumes de chuva nos próximos 15 dias em algumas cidades do território gaúcho podem ser equivalentes ao que é normal para o verão inteiro, logo está a se antecipar que em pontos do Estado deve chover em 15 dias o triplo da média histórica de janeiro ou fevereiro.

Apesar de pancadas isoladas hoje (25) e em maior número de cidades gaúchas durante a terça (26), entre quarta (27) e a quinta (28) se espera o primeiro evento maior de chuva no Rio Grande do Sul com acumulados muito altos em algumas regiões. No próximo fim de semana e no começo da semana que vem, um novo evento de chuva volumosa pode atingir o Estado, aumentando ainda mais os acumulados de precipitação.

O mapa abaixo, disponível ao assinante na seção de mapas, mostra a projeção de chuva para os próximos sete dias do modelo do serviço meteorológico alemão. Como é possível observar na projeção do Icon, a tendência é de chover muito no acumulado dos próximos sete dias no Estado com marcas perto ou acima de 100 mm em muitas cidades e acima de 200 mm em alguns pontos.

O que mais impressiona, entretanto, são as projeções de chuva acumulada para 15 dias. O modelo americano indica, e o modelo europeu tem sinalização muito semelhante, chuva de 100 mm a 200 mm em grande parte do Estado nas próximas duas semanas. Mas não é só isso. O modelo está apontando marcas acima de 200 mm em uma área extensa e volumes de 300 mm a 400 mm em alguns pontos do Oeste e da Metade Norte. E, vital salientar, tem sido muito consistente no indicativo rodada após rodada. Vejas as projeções de chuva para 15 dias do modelo americano das quatro rodadas das últimas 24 horas.

O que o modelo mostra de chuva para pontos do Norte de Corrientes e Misiones, na Argentina, no Sul do Paraguai é no Extremo Noroeste do Rio Grande do Sul é espantoso para o verão com indicativo de mais de 400 mm ou 500 no período, não se descartando marcas isoladas superiores. O modelo indica volumes muito altos de chuva no período também em Santa Catarina e no Paraná.

Confirmando-se estas projeções, e há razoável acordo entre os modelos numéricos, em muitas áreas será o fim da estiagem e a garantia de reserva hídrica para o restante desta safra. Ocorre que a chuva que por um lado pode ser benéfica para o campo, pelo excesso por outro pode trazer prejuízos com inundações de lavouras, tal a quantidade de chuva que é sinalizada pelos modelos.

Neste período de muita instabilidade devem ser esperadas ocorrências de chuva torrencial em curto período, essencialmente localizados, capazes de despejar volumes altíssimos em menos de três horas com acumulados de 50 mm a 100 mm em uma hora ou mais. Será a soma de muitos dias com chuva, alguns com volumes bastante elevados, que vai gerar os totais altíssimos projetados pelos modelos. Em áreas urbanas, isso significa um alto potencial para alagamentos e inundações repentinas.

Os volumes de chuva projetados pelos modelos são tão altos que até mesmo o risco de enchentes por cheias de rios deve ser considerado. Não é uma situação comum de se ver no verão e muitos rios estão com seus níveis baixos, mas deve chover tanto que algumas bacias podem sair da seca para a cheia. O Rio Uruguai, considerando o que se espera de chuva no Noroeste e no Norte gaúcho, além do Oeste catarinense e o Nordeste argentino, é um rio que pode ter cheia. Outros rios que cortam as Metades Oeste e Norte também exigirão atenção. Além disso, os acumulados muito altos de precipitação podem causar também inundações na zona rural e em áreas de relevo deslizamentos de terra e queda de barreiras. (Com foto de capa de Alzoir Dutra Borges/Arquivo)